Fotos: Pedro Piegas (Diário)
Localizado na Quarta Colônia de Imigração Italiana, Restinga Sêca se diferencia dos outros oito municípios da microrregião por ser o que abriga o maior número de etnias. Nessa área de terras, banhada pelo Rio Jacuí, portugueses, africanos, alemães e italianos construíram uma cidade multiétnica e multicultural, que completa 60 anos de emancipação político-administrativa na segunda-feira.
Nesta reportagem, veja a história de pessoas da comunidade que são personalidades na cidade natal de Iberê Camargo, um dos artistas plásticos mais importantes do país nascido em Restinga Sêca.
PERSONAGENS
O MÚSICO RECORDISTA
Aos 83 anos de idade, o músico Protógenes Solon de Mello ainda encontra fôlego para ensinar música em Restinga Sêca. Natural do município, o acordeonista também ensina teclado, violão e flauta. Há 56 anos, é professor de música. Atualmente, divide seu tempo entre as aulas particulares e a escolinha municipal que funciona no ginásio da cidade. Ele garante que seu trabalho, ao longo do tempo, rendeu bons resultados.
OS CACHORROS DA OFICINA QUE VIRARAM CELEBRIDADES
A oficina mecânica de Ernesto Schwert, 69 anos, em Lomba Alta, virou um ponto turístico informal em Restinga Sêca. Mecânico há 57 anos, Schwert ficou famoso com o seus cães ajudantes, que já foram tema de reportagens em jornal e TV (veja aqui a reportagem do Diário na época). Os rottweilers Bidu, 12 anos, Diana, 8, e Fritz, 4, cruza de rottweiler com labrador, aprenderam a alcançar ferramentas sempre que Schwert solicita uma chave, um martelo ou outro instrumento. Os cães também realizam atividades domésticas, como abrir geladeira e alcançar uma linguiça ou uma garrafa de refrigerante para Schwert, que sempre agradece com um carinho e um muito obrigado.
- Fui muito cruel com os animais quando era guri, domava cavalo a pau, como aprendi com o meu pai. Ele não tinha culpa, era assim que ensinavam, e eu tive que me regenerar - conta o mecânico, que chegou a ser vereador e hoje quer distância da política.
LUTA POR LIBERDADE
O som do vento se mistura com o canto dos pássaros e dos caminhões que cruzam na BR, na entrada de Restinga Sêca. Logo, é possível avistar um conjunto de casas da comunidade rural conhecida como São Miguel Velho, São Miguel dos Carvalhos e São Miguel dos Pretos ou simplesmente São Miguel.
Formado por descendentes de escravos que viveram na região, o pequeno vilarejo é uma comunidade quilombola que ainda luta para ter seus direitos reconhecidos. Vizinho dali, outro quilombola, o Rincão dos Martimianos, já é reconhecido como tal.
Um líderes da comunidade é Roberto Potacio da Rosa, 62 anos, que cuida do pequeno armazém da filha, à beira da rodovia. Ele é integrante da Associação Comunitária Vovô Geraldo e já foi vereador.
- Tem todo um estudo antropológico sobre a comunidade, mas, infelizmente, ainda não se reconhece os líderes negros - reclama Potacio.
Na localidade, segundo ele, vivem em torno de 168 famílias quilombolas que preservam as raízes de seus ancestrais, como a cultura e a religião.
HISTÓRIA
Marco do surgimento do município, a Estação Ferroviária tem sua origem na construção de uma caixa d'água para abastecer os trens que faziam a linha da estrada de ferro Porto Alegre-Uruguaiana, em 1885. Mais tarde, seria construída a estação propriamente dita, que hoje está sendo reformada - a primeira etapa, restauração do telhado, foi inaugurada recentemente. O custo total do projeto deverá girar entre R$ 680 mil e R$ 700 mil, segundo o prefeito Paulo Ricardo Salerno (MDB). No local, a prefeitura pretende construir um café e um auditório e instalar a biblioteca municipal. A estrutura será administrada pela iniciativa privada
Também há previsão de construção da Casa de Cultura, em um prédio histórico. A um custo de R$ 450 mil, o espaço terá um museu, para onde serão levadas réplicas e originais de obras de Iberê Camargo, artista plástico nascido na cidade. Conforme Salerno, esse projeto vai demorar um pouco mais:
Com sua base econômica no agronegócio, Restinga Sêca produz arroz, soja, tabaco, gado de leite e gado de corte e, mais recentemente, passou a apostar no cultivo de oliveiras. O município também tem uma indústria moveleira que exporta produtos.
Uma das grandes apostas, no entanto, é o turismo, alavancado pelos investimentos no distrito de Recanto Maestro, que tem uma parte pertencente ao município de São João do Polêsine. No Recanto, há investimentos de grande porte, como a Antonio Meneghetti Faculdade (AMF), o parque termal e o Hotel Beira-Rio.
- No Recanto temos investimentos de mais de R$ 100 milhões - ressalta o prefeito.
O Recanto, principalmente pela faculdade e pelos restaurantes e hotéis, é um espaço bastante procurado para a promoção de eventos, o que reforça a oferta de turismo na região. E é nisso que Restinga Sêca aposta para se desenvolver como polo Econômico na região.