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Foto: Assessoria Husm
Matéria atualizada às 16h33min
O Pronto-Socorro do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) está com superlotação nesta quinta-feira. Em nota, a assessoria do hospital informou que os 10 leitos do PS estão ocupados e outros 20 pacientes estão em macas nos corredores aguardando um leito.
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Ainda segundo a assessoria, na quarta-feira a situação era ainda pior: 35 pacientes a mais do que a capacidade. Desses, o hospital informou que seis já tiveram alta médica e 11 foram transferidos para leitos nas unidades de internação no próprio hospital. Em razão da pandemia, o Husm segue com restrições para acompanhantes. No Pronto-Socorro, as visitas estão suspensas e é permitido um acompanhante por paciente.
A situação de superlotação (considerada quando a capacidade da emergência está acima dos 150%) ocorre há cerca de 15 dias, segundo a gerente de Atenção à Saúde Soeli Guerra:
- Nossa preocupação é conseguir manter as regras mínimas para evitar a disseminação de Covid-19, caso entre pela emergência geral algum paciente assintomático de coronavírus. Nós também nos preocupamos com as condições de atendimento, porque nossa equipe é dimensionada para um número de pacientes, e quando você extrapola em 200% da capacidade, como foi o caso de ontem, nós ficamos numa situação extremamente crítica. Na quarta nós fizemos 18 cirurgias para tentar agilizar.
Até abril, o PS do Husm funcionava com 23 leitos. No entanto, para providenciar a abertura da ala exclusiva ao atendimento à Covid-19, o hospital precisou se reorganizar e teve que reduzir a oferta de leitos no local, já que o espaço dedicado a pacientes Covid funciona em anexo ao PS.
- O espaço destinado à emergência geral ficou reduzido com a divisão que tivemos que fazer. Mas mesmo que a gente não tivesse a pandemia e tivéssemos as condições naturais de atendimento, assim mesmo nós estaríamos com 50% além da capacidade da emergência. Estamos há muito tempo com déficit de leitos e de serviços de pacientes em situações agudas. A pandemia só agravo.
Soeli atribui parte do pico de lotação a consequências da pandemia. Pacientes com demandas represadas de doenças como diabetes ou do coração, por exemplo, por restrições de serviços de atenção básica e falta de acompanhamento presencial - são pacientes considerados de risco para a pandemia - acabam desenvolvendo problemas agudos, que necessitam do atendimento de urgência.
- Especialistas já manifestaram a preocupação de que as doenças crônicas teriam seu pico quando elas tivessem episódios agudos, que é o que estamos vivenciando hoje. Nesse cenário, com o agravamento das doenças crônicas, seria um otimismo romântico esperar que a situação vá melhorar ou vá se resolver, até porque ela não se resolve em um passe de mágica - ressalta Soeli.
ESPERA
O movimento estava tranquila na área externa do pronto-socorro durante o fim da manhã de quinta-feira. Algumas poucas pessoas - acompanhantes de pessoas atendidas no local - aproveitavam para tomar sol na calçada. Uma jovem de 20 anos, que preferiu não se identificar, acompanha o pai de 57 que ingressou no pronto-socorro ainda ao meio-dia de quarta-feira com um quadro de apendicite. Ela conta que o pai aguarda em uma maca no corredor desde que chegou.
- Agora ele está um pouco melhor, mas está demorando demais a cirurgia. Ontem, conversei com o pessoal e disseram que ela era o segundo na fila de emergência e pediram para aguardar até a meia-noite, mas acabaram tendo que passar outras pessoas na frente dele, com casos mais graves - relata.
Há anos, o hospital enfrenta um problema crônico de superlotação, devido à falta de leitos na região, principalmente para especialidades como traumatologia e cardiologia. O Husm é referência para atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) para 45 municípios da Região Central, sendo o único hospital com pronto-socorro 100% SUS. Uma das soluções apontadas para minimizar a superlotação seria a abertura de mais leitos no Hospital Regional, por exemplo.
- A questão do déficit de leitos em Santa Maria para o SUS só será amenizada com a ativação plena do Hospital Regional como hospital de retaguarda, não só para a emergência do Husm, mas para todos os Pronto-Atendimentos da cidade, ou serviços SUS da região que precisam ter um local para encaminhar seus pacientes. A gente sabe que podemos dar um grande passo ampliando os leitos para atendimento cirúrgico ou clínico. Isso tem que ser pensado e é importante dar esse passo. Aqui, lamentavelmente não temos como ampliar leitos. Pontualmente, o que se pode ser feito é direcionar ao Husm apenas casos graves. Nem todos os pacientes com apendicite precisam vir para cá, por exemplo. É uma cirurgia simples que pode ser feita em um hospital de menor porte. Aqui, são de sete a oito casos por semana. É um leito que poderia estar sendo direcionado para resolver um problema mais grave - comenta a gerente de Atenção à Saúde.
As superlotações expõem, ainda, outro problema enfrentado pelos profissionais do hospital: o esgotamento físico e mental, que reflete diretamente no atendimento dos pacientes.
- Acabamos não dando o tratamento devido nem para as emergências e nem para as internações. Nós não podemos pensar que onde você tem profissionais para atender 20 pacientes e se tem 40, que todos serão bem atendidos. Eles serão atendidos, sim, mas certamente não será o atendimento esperado pelo usuário e nem o atendimento para o qual a equipe está preparada. E aí as pessoas adoecem, acabam se afastando, e o paciente acaba ficando muito mais tempo do que ele necessita em uma emergência - explica Soeli.
Ao Diário, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que o Husm é porta de entrada, ou seja, atendente por demanda espontânea, e que "a própria gestão deve garantir o atendimento daqueles que o procuram". Disse ainda, que nos casos em que após o atendimento inicial e de acordo com a complexidade seja constatada a necessidade de uma transferência, a Central de Regulação deve ser contatada para encaminhar o paciente. Em relação a uma previsão de abertura de novos leitos no Hospital Regional, a assessoria de comunicação da SES informou que quando houver uma novidade sobre o assunto, ela será repassada.
HISTÓRICO
Em junho de 2018, o PS do hospital chegou a ter 75 pacientes internados, como noticiou o Diário na época, sendo que a capacidade era de 23 leitos e 19 macas. Com isso, o hospital restringiu os atendimentos. Em novembro de 2018, outra superlotação de 61 pacientes no local provocou novas restrições. Já em 2019, durante o mês de outubro, o Husm parou de receber pacientes nas especialidades de ortopedia e traumatologia no Pronto-Socorro. Um ofício expedido pela direção técnica expôs as dificuldades enfrentadas pelo setor do hospital, que enfrenta frequentemente situações de superlotação.