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Três meses de restrições que geraram mudanças e exigem conscientização

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Três meses se passaram desde que Santa Maria começou a sentir os efeitos das primeiras medidas de prevenção adotadas para tentar segurar o avanço do novo coronavírus na cidade. De lá para cá, serviços, empresas e trabalhadores tiveram as rotinas alteradas em função das restrições de isolamento. E por mais que autoridades e especialistas concordem que o município avançou no enfrentamento à Covid-19 nesse período, todos alertam para o fato de que o momento requer mais cuidado e, também, conscientização da população.

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- Nós estamos tento um aumento na velocidade de propagação. Hoje (sexta-feira) tivemos a confirmação de outras quatro mortes. No início de maio nós tínhamos uma curva tranquila e hoje nós estamos aqui, com mais de 470 casos. Nós tivemos uma curva exponencial muito grande, e aumentou a velocidade das pessoas contaminadas, aumentou a ocupação de leitos, e, por conta disso, nós refizemos todo um planejamento estratégico dentro daquilo que já tínhamos - avalia o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB).

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Para o secretário municipal de Saúde, Guilherme Ribas, os primeiros dois meses foram essenciais para a organização da rede hospitalar e do fluxo de atendimentos na atenção básica e nas emergências. Após, houve a implementação dos exames moleculares e aquisição de testes rápidos, o que qualificou o diagnóstico em Santa Maria e região.

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- Flexibilizamos quando não tínhamos nem a taxa de ocupação e nem a incidência de casos altas. Mas quando esses dois fatores começaram a aumentar, nós nos organizamos e avaliamos ações mais restritivas. Nós queremos que a população tenha consciência de que a utilização de máscara é extremamente necessária para todos. E as restrições que foram colocadas, que estão sendo cobradas e cada dia mais fiscalizadas, são para diminuir as aglomerações e a circulação de pessoas que não precisam naquele momento estar circulando pela cidade. É uma pandemia, não é uma situação normal. Precisamos que a população se conscientize, sim. Temos que seguir todos os protocolos necessários - comenta.

RECURSOS FINITOS 
O médico infectologista Fabio Lopes Pedro acredita que as medidas de distanciamento social adotadas até agora e as alterações feitas foram adequadas. No entanto, o especialista alerta para o fato de que é preciso manter os cuidados redobrados, uma vez que os recursos, tanto públicos como privados, são limitados: 

- Nossa capacidade de aumento de leitos é finita. Nós estamos perto desse teto, inclusive. Temos uma capacidade de recursos humanos já perto do limite, com muitos profissionais afastados por adoecimento. Nós estamos começando a ter dificuldade para obter medicamentos para controlar os pacientes de UTI, que são remédios potentes para sedação, para tirar a dor do paciente... Todos devem estar trabalhando cooperativamente na fiscalização de comércio e demais áreas setoriais, para que as pessoas acatem as orientações estabelecidas por esses órgãos. Se não for assim, os casos vão aumentar e as restrições vão, de novo, ser mais duras. 

A procuradora da República Bruna Pfaffenzeller, que instaurou, em março, um procedimento administrativo para acompanhar as medidas adotadas pelos órgãos públicos no controle e tratamento da epidemia em Santa Maria, também vê a situação atual com preocupação. 

- Fazendo um balanço da situação em que nós nos encontramos, eu posso dizer, claramente, que nós avançamos muito. Talvez nós tenhamos sido uma das regiões que mais abriu leitos de UTI no Rio Grande do Sul. Ainda assim, é importante a gente destacar que nós não estamos numa situação confortável. Hoje, nós temos 111 leitos de UTI na região, mas a velocidade de propagação do vírus continua maior do que a nossa capacidade de resposta, o que nos inspira cuidados e uma reflexão sobre as nossas medidas de prevenção e conscientização coletiva - disse.

"RECUO PARA BANDEIRA LARANJA NÃO É VITÓRIA"
Na semana passada, a região de Santa Maria chegou a ser receber a bandeira vermelha no modelo de distanciamento controlado do governo do Estado, que representa alto risco e determina o fechamento de estabelecimentos. No entanto, a classificação foi revertida na última terça-feira para a cor laranja após a inclusão de sete novos leitos de UTI no sistema, o que fez com que a taxa de ocupação de leitos caísse.

O fato, entretanto, não é motivo de comemoração ou de alívio, e sim um alerta: 

- Esse recuo de bandeira vermelha para laranja em Santa Maria se deu à correção e adequação de alguns dados, mas isso não se trata de uma vitória do setor comercial, nada disso. Foi apenas uma adequação que tem que ser vista com bastante cuidado, uma vez que as avaliações são semanais e, possivelmente, nas próximas semanas a região volte a configurar na bandeira vermelha. As pessoas têm que entender que houve uma correção, mas isso não quer dizer que se possa ter uma liberdade ou que os cuidados possam ser relaxados. Não basta abrir ou habilitar um leito para matematicamente se beneficiar com a classificação de uma bandeira. A comunidade tem que ser esclarecida - diz o médico Fabio Lopes Pedro.

Para Pozzobom, a configuração da bandeira vermelha por alguns dias serviu para chamar a atenção da população. 

- Nós demos um choque de realidade na população que acha que está tudo bem. É impressionante o que temos de denúncias de pessoas que não estão usando máscaras, estão aglomeradas. Foi importante para entendermos que não está tudo numa boa. Aumentou a velocidade do número de pessoas contaminadas e esse aumento se deu pela irresponsabilidade das quem segue fazendo aglomeração, por quem segue não usando máscara e por àqueles que não se cuidam - disse o chefe do Executivo.   

Segundo a procuradora do Ministério Público Federal (MPF), para que as estratégias de distanciamento social adotadas até o momento tenham eficácia, é preciso engajamento coletivo de todas as esferas e setores da região. 

- Nós sempre trabalhamos com uma união em todos os segmentos, instâncias, esferas sociais, econômicas e institucionais da nossa cidade e região. Quem já fazia o certo, deve continuar fazendo. Quem não fazia, tem a oportunidade de ser orientado de forma clara, com dados atualizados e confiáveis, e ser fiscalizado também com rigor, para não prejudicar aqueles que estavam se engajando nesse propósito comum. Sim, nós avançamos, mas o vírus também avançou, e nós precisamos seguir com muito cuidado, para que não tenhamos que chegar a mais hospitalizações. A diferença é feita pelo engajamento social e pelo comprometimento coletivo - ressaltou Bruna Pfaffenzeller.

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