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Santa Maria já teve mais de 500 pessoas internadas por coronavírus, metade em UTIs

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Ampliação do total de UTIs evitou superlotação e mais mortes

São poucas as dores comparáveis a perder um familiar ou um amigo próximo. Por conta da pandemia do novo coronavírus, 104 famílias santa-marienses passaram por esse sofrimento. Na última quarta, pouco mais de sete meses após a confirmação do primeiro caso na cidade, o município chegou a uma centena de vítimas da Covid-19, o 13° do Rio Grande Sul a alcançar a triste marca. Apesar do impacto causado pelo número de três dígitos, especialistas concordam que Santa Maria demorou a alcançar a marca, se comparado a situação de outras regiões do Estado.

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- Entre as 21 regiões do Modelo do Distanciamento Controlado, a de Santa Maria tem a sétima menor taxa de mortalidade. A taxa de ocupação de leitos de UTI segue em cerca de 70%, um número razoável, controlado. Teve uma pequena elevação nos últimos três dias, mas ainda não há como avaliar se essa é uma tendência. Então, eu diria que, do ponto de vista geral, Santa Maria tem uma situação comparativamente melhor que muitas regiões do Estado - avalia Leany Lemos, coordenadora do Comitê de Dados do Modelo de Distanciamento Controlado do Estado.

CENÁRIO
Conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde, Santa Maria está na 186º posição entre 497 municípios no ranking de mortalidade por 100 mil habitantes, com 36,5. Se levados em conta só os 10 municípios mais populosos do Estado, em números totais, Santa Maria é o que contabilizou menos mortes. No ranking de incidência de casos, o Coração do Rio Grande ocupa a 157ª posição, com 2,144,8 casos a cada 100 mil habitantes. O médico epidemiologista Marcos Lobato, da Vigilância Municipal em Saúde, defende a comparação com municípios de porte semelhante. Para ele, particularidades do município auxiliaram a cidade a retardar os efeitos da pandemia:

- Primeiro, foi o fato de a doença chegar com mais força mais tarde por aqui. Segundo, a gente teve uma certa precocidade nas medidas, e isso atrasa todo o processo da pandemia. Terceiro, a gente tinha instalada a capacidade de saúde que foi ampliada rapidamente, porque tinha o Regional pronto, mas sem leitos. São fatores que nos ajudaram a segurar a primeira onda. Tem que levar em conta que tem duas coisas que fazem aumentar bastante a mortalidade. Uma são as condições individuais (hábitos), e as outras são as questões coletivas (circulação e oferta de serviços de saúde, por exemplo).

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O fator geográfico também pode ser levado em conta nesta análise, conforme o infectologista Ronaldo Hallal, membro do Comitê Covid da Sociedade Riograndense de Infectologia.

- Os locais que têm uma grande circulação, que são centros comerciais e industriais, que tem um maior fluxo e mobilidade entre municípios, são mais afetados. Isso pode ser considerado em Porto Alegre, Canoas, Gravataí, São Leopoldo. Todos têm incidência grande. A região de Caxias também. Santa Maria, por essas condições (de estar afastada de outros grandes centros) pode ter uma menor circulação de pessoas. Isso pode explicar, de alguma forma, um chegada mais tardia e lenta da pandemia - argumenta.

Especialistas alertam para risco de aumento de casos
Os quatro municípios com mais óbitos no Estado - Porto Alegre, Canoas, Novo Hamburgo e Viamão - integram a Região Metropolitana, que congrega municípios essencialmente urbanos, populosos e próximos. Santa Maria é um polo local, mas tem na vizinhança municípios de menor porte. O município limítrofe de Santa Maria com maior população é São Gabriel, com 60 mil habitantes. Mesmo assim, os centros urbanos das duas cidades estão distantes cerca de 170 km. Para Leany Lemos, o fator comportamental, associado a características socioeconômicas, também deve ser levado em conta. 

- É o fator de adesão à norma, comportamental. Em algumas regiões, onde há maior distanciamento, cuidados de higiene, uso de máscara, vai haver menos contágio - explica.

Mas a situação não pode ser considerada controlada, e todos os cuidados devem seguir. É esse o alerta que faz Hallal:

Com mais três registros, óbitos relacionados à Covid-19 em Santa Maria chegam a 104

- Havendo um número pequeno de casos, é preciso ficar atento, pois há ainda muitas pessoas suscetíveis. O que tem se observado, de maneira geral, é que nos locais onde a pandemia tem apresentado baixas taxas de exposição, de casos diagnosticados e de mortes, é porque a epidemia tardou a chegar. Eu ficaria muito atento a essa situação, de um município que é um grande centro populacional, que tem uma densidade elevada, e que está, em um primeiro momento, com um número pequeno de casos, e que tem uma circulação maior de pessoas nessas últimas quatro a oito semanas, que é o que temos observado no Estado como um todo. Ficaria atento ao risco de ocorrer um recrudescimento da epidemia - comenta.

A projeção futura é de que os óbitos continuem ocorrendo, mesmo que com uma diminuição gradativa. Para Leany Lemos, até a distribuição de uma vacina eficaz, os protocolos de cuidado e restrições deverão seguir.

- Com mais flexibilização, com mais circulação de pessoas, a gente não vai ver uma queda muita forte dos números, mas platôs menores. A gente projeta óbitos. Nossa projeção de óbitos para novembro é apenas um pouco menor do que foi outubro, e vai reduzindo gradativamente - projeta.

METADE FICOU NA UTI
Mais de 100 famílias santa-marienses já foram atingidas pelo efeito último e mais cruel da pandemia do coronavírus. Porém, outras tantas também já foram atingidas das mais diferentes formas. É o que relata o médico epidemiologista Marcos Lobato: 

- Quando falamos de óbitos, falamos da ponta do iceberg. Em Santa Maria, já passamos das 500 pessoas que precisaram ficar internadas, e mais da metade foram internadas em UTI. 500 pessoas internadas e mais de 100 óbitos, isso dá 20%. Os 80% passaram por momentos bem complicados, e mais da metade passou na UTI. Isso significa que têm sequelas. É muito triste. A mortalidade é baixa, mas a doença não é só isso.

*Colaborou Felipe Backes

COMPARATIVOS
População estimada (IBGE)  das 10 maiores cidades do RS 

  • Porto Alegre - 1.488.252
  • Caxias do Sul - 517.451
  • Canoas - 348.208
  • Pelotas - 343.132
  • Santa Maria - 283.677
  • Gravataí - 283.620
  • Viamão - 256.302
  • N. Hamburgo - 247.032
  • São Leopoldo - 238.648
  • Rio Grande - 211.965

Casos em Santa Maria 

  • Confirmados - 6.051
  • Óbitos confirmados - 104
  • Incidência/100 mil habitantes - 2.144,8 (157° no RS)
  • Mortalidade/100 mil habitantes - 36,5 (186° no RS)

Número de óbitos totais  entre as 10 maiores cidades 

  • Porto Alegre - 1.336 (1° do RS)
  • Canoas - 331 (2°)
  • Novo Hamburgo - 199 (3°)
  • Viamão - 185 (4°)
  • Caxias do Sul - 179 (5°)
  • Gravataí - 168 (8°)
  • São Leopoldo - 164 (9°)
  • Pelotas - 153 (10°)
  • Rio Grande - 135 (11°)
  • Santa Maria - 103 (13°)

Mortalidade por 100 mil habitantes entre as 10 maiores cidades do RS 

  • Canoas - 95,5 (25° do RS)
  • Porto Alegre - 90 (27°)
  • Novo Hamburgo - 80,6 ( 52°)
  • Viamão - 72,5 (67°)
  • São Leopoldo - 69,2 (73°)
  • Rio Grande - 64 (89°)
  • Gravataí - 59,7 (99°)
  • Pelotas - 44,7 (145º)
  • Santa Maria - 36,5 (186°)
  • Caxias do Sul - 35 (200°)

Obs: Dados do quadro e da matéria são da Secretaria Estadual de Saúde, às 16h de sábado. O número de mortes de Santa Maria que consta no texto é dos dados da prefeitura, em que conta um óbito a mais que o Estado

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