6 meses de pandemia

O que dizem especialistas sobre o estágio atual do coronavírus na cidade

Natália Müller Poll

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Foto: Arquivo Pessoal / Luciana Segala

São seis meses desde o primeiro caso confirmado de Covid-19 em Santa Maria, e os impactos econômicos e no sistema de saúde seguem como pauta principal da pandemia. Os impasses sobre o uso da máscara, a volta às aulas e as medidas de distanciamento controlado continuam dividindo a população. 

As dúvidas são cada vez maiores diante do cenário sem medicação nem vacina, no qual o mundo inteiro está inserido. Autoridades lidam com a situação inédita de barrar ou proibir o cidadão de suas atividades diárias, que, por sua vez, permanece na dúvida sobre ficar ou não isolado em casa.

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Nem mesmo a classe médica entra em concordância sobre o que o que cada um deve fazer para evitar a doença. Mas uma coisa é senso comum: pelo menos entre os dois infectologistas que acompanharam a evolução da doença em Santa Maria a pandemia ainda não acabou.

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Médico infectologista Fábio Lopes Pedro 

Diário - Qual a sua opinião sobre a situação da Covid-19 em Santa Maria? 
Fábio Lopes Pedro - Nossos números são interessantes. Temos números controlados e uma situação positiva em Santa Maria. Nossa posição de enfrentamento é muito boa porque temos uma capacidade grande de exames, de leitos, de assistência médica. Graças a Deus, a coisa está indo bem.

Diário - Qual a sua avaliação do cenário atual?
Fábio - As internações estão oscilando. No momento, apresentam número ascendente. Só que a nossa estrutura ainda é muito confortável porque a ocupação continua baixa. Temos uma capacidade de leitos expressiva para atendimento.

Diário - A população tende a relaxar nas medidas de prevenção quando não existem muitas mortes ou pacientes internados em estado grave? 
Fábio - São seis meses de convivência com a Covid. Não é fácil manter o nível de adesão ao isolamento alto. A situação do uso da máscara, por exemplo, é muito controverso. É difícil dizer que o uso da máscara nas ruas vá prevenir alguma coisa. Máscara apenas impede de disseminar vírus pela tosse ou espirro. Mas ela não previne que a pessoa não contraia o vírus. Famílias, no geral, têm contraído o vírus dentro das suas próprias casas mesmo. As pessoas se desanimaram e não estão mais tão empenhadas em continuar seguindo as medidas de prevenção propostas. Desde o início, as informações são todas muito desencontradas. Se calcularmos o número de óbitos diante do número de casos, a gente chega na base de 1,5% na taxa de letalidade. A letalidade da Covid é próxima a da gripe. Por isso, as pessoas ficam descrentes. Com essa letalidade baixa, até que ponto essas medidas valem? Nunca fechamos cidade por causa de gripe. Então, isso tudo faz as pessoas perderem a crença e, por fim, relaxar nas medidas.

Diário - Se a máscara não é tão eficiente, como o cidadão pode se proteger para evitar o contágio? 
Fábio - É importante que, quando as pessoas se sentirem doentes, tossindo, espirrando, que procurem atendimento presencial ou remoto e se afastem das suas atividades de trabalho.

Diário - E os pacientes assintomáticos? 
Fábio - Pessoas assintomáticas são um problema. Se a pessoa está com os sintomas, ela passa o vírus com muito mais facilidade do que as pessoas que não têm sintoma.

Diário - É hora de voltar às aulas ou não?  
Fábio - Para voltar às aulas, tem que ter um plano bem estruturado. Tudo feito com base na situação e na realidade de Santa Maria. Não podemos nos basear em realidades de outras cidades. Em algum momento, as aulas vão ter que voltar, mas o planejamento tem que ser de maneira progressiva. Esse cuidado deve ser tomado porque não temos estrutura pediátrica para o atendimento de um grande número de crianças. Já são seis meses sem escola. Precisamos retomar sim. Colocando alguns grupos prioritários primeiro, depois outros, e assim por diante.

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Diário - Testar todas as crianças antes de voltarem às salas de aula seria uma opção? 
Fábio - Pode ser uma alternativa, mas a população estudantil é muito grande, e não temos testes suficientes para todos.

Diário - A pandemia já acabou?
Fábio - Não, a pandemia não vai acabar tão cedo. Foi criado um discurso de muito pânico e medo, e isso não sai da cabeça das pessoas da noite para o dia. Mas as consequências e os desdobramentos da pandemia vão durar muito tempo. Talvez uma década.

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Médica infectologista Jane Costa 

Diário - Qual a sua opinião sobre a situação da Covid-19 em Santa Maria?
Jane Costa - As pessoas acham que a doença está estável, mas eu prevejo outro boom para daqui duas semanas, bem como aconteceu após o Dia dos Pais. Parece que as pessoas ignoram o que acontece no mundo. É só ver o que ocorreu no Japão, na Coreia, na Itália, na Espanha. Todos esses países tiveram uma segunda onda após o relaxamento das medidas. Nós nem passamos da primeira onda ainda. As pessoas só se preocupam quando a doença bate na porta delas. Se bate na porta do vizinho, não se preocupam. Se a situação atual está confortável, é porque trabalhamos desde janeiro para isso.

Diário - Qual a sua preocupação atual?
Jane - É em relação às escolas. Tudo bem que criança, teoricamente, não desenvolve grandes problemas com o coronavírus. Mas, mesmo assim, não temos estrutura de leitos para crianças. Não conseguimos atender os pequenos em leitos para adultos, porque os quadros são totalmente diferentes. A falta de estrutura preocupa. Em 2009, quando apareceu a H1N1, tínhamos vacina e remédio. Agora, não temos nada. As pessoas esquecem que precisam lavar as mãos, pararam de se proteger. A pandemia só tomou conta devido à falta de cuidados.

Diário - O que você acha sobre uso da máscara como medida de prevenção?
Jane - Eu acho que temos muito pouco - praticamente nada - para oferecer para as pessoas. Recomendar que elas usem medidas de autoproteção é o mínimo. Estudos já comprovaram que, quando duas pessoas usam máscara, diminui para 1% o risco de infecção. Nós não temos circulação de nenhum outro vírus. Você já ouviu falar de alguém com vírus influenza esse ano? Não! A máscara está evitando outras doenças. Quando surgiu a Aids, por exemplo, a orientação foi "use camisinha". Agora, esse é o papel da máscara.

Diário - Voltar às aulas ou não?
Jane - A minha resposta é não. Qual instituição vai colocar seus alunos em quarentena por 14 dias antes de começarem as aulas? Não tem como, isso é impossível. Na Europa, houve surto nas escolas quando retomaram as aulas.

Diário - A pandemia acabou?
Jane - Se alguém disser que acabou, essa pessoa tem que procurar ajuda psiquiátrica. Os números e a situação mostram que pandemia está em plena atividade. Precisamos ficar vivos até o final de 2020 esperando a vacina. Enquanto isso não acontece, é melhor nos protegermos.

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