Casos de leishmaniose preocupam veterinários de Santa Maria; aumento pode chegar a 91% em relação a 2023

Caroline Souza e Luís Gustavo Santos

Casos de leishmaniose preocupam veterinários de Santa Maria; aumento pode chegar a 91% em relação a 2023

Foto: Beto Albert

Perda de apetite, emagrecimento, queda de pelos e feridas na pele. Esses são alguns sinais que podem ser apresentados por cães contaminados por leishmaniose. Médicos veterinários de Santa Maria ouvidos pelo Diário apontam preocupação com o aumento da doença na cidade, que pode chegar a mais de 90% nos dois primeiros meses de 2024 em relação a todo 2023, caso haja confirmação laboratorial (leia mais abaixo). A leishmaniose também pode ser transmitida para humanos. No ano passado, um santa-mariense foi diagnosticado com a doença. Ele precisou ser tratado no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).

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– Atendo pelo menos um caso por dia. Na maioria, são animais resgatados da rua ou em situação de maus-tratos, mas também há casos em que tutores identificam que o pet tem uma “feridinha que não cura” ou está perdendo peso – diz uma médica veterinária que atua na cidade e preferiu não ser identificada.

O aumento de casos também foi percebido por integrantes de organizações que atuam em defesa da causa animal em Santa Maria. Andréa Brasil, coordenadora da Ong Somos Pet, afirma que, apenas neste ano, três cachorros com sintomas de leishmaniose foram resgatados das ruas pelos voluntários. Um deles acabou morrendo e os outros dois estão em tratamento.

– Eu diria que, a cada 10 animais que resgatamos, seis apresentam sintomas de leishmaniose. No final de 2023, nós tínhamos quatro animais com a doença sob os cuidados da Ong e todos vieram a óbito por conta do estágio avançado – afirma Andréa.

A doença

A Leishmaniose Visceral é uma doença grave e sem cura, transmitida pela picada do inseto chamado flebotomíneo, popularmente conhecido como mosquito palha. O inseto contamina após picar um animal infectado e, posteriormente, um ser humano. A transmissão não acontece de maneira direta entre pessoas e animais.

Em seres humanos, os principais sintomas são febre por mais de sete dias e aumento do tamanho do baço e do fígado. Palidez e emagrecimento também podem ser sinais da doença. O tratamento ocorre com injeções de glucantime no músculo ou na área infectada.

Para prevenir a leishmaniose, recomenda-se tanto ações de proteção individual quanto de manejo do ambiente. Por isso, é importante que se faça limpeza de pátios, uso de repelentes, venenos para mosquitos e coleira repelente nos pets.

Feridas na pele é um dos sintomas de leishmaniose em cachorros. Além disso, a perda de apetite, emagrecimento e queda de pelos também são sinais de alerta Foto: Beto Albert

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O que diz a prefeitura

Conforme a Superintendência de Vigilância em Saúde do município, de 132 animais submetidos a um primeiro teste neste ano, 23 foram reagentes para a doença, o que representa 17,4% dos casos investigados. As coletas aconteceram em residências da região oeste de Santa Maria nos meses de janeiro e fevereiro de 2024.

Após o resultado positivo no teste rápido, as amostras são enviadas para o Laboratório Central do Rio Grande do Sul (Lacen/RS) para um segundo exame. Caso o resultado for novamente reagente, é confirmado o diagnóstico.

“Até o momento, não recebemos os resultados do laboratório Central do Estado de nenhum dos lotes enviados, o que pode estar associado ao fato de os profissionais do laboratório estarem direcionados para atender a grande demanda correspondente à dengue”, disse a prefeitura por meio de nota.

Em relação a 2023, o Executivo afirma que recebeu a comunicação de apenas 12 casos de leishmaniose visceral em animais. Porém, ressalta que pode haver uma subnotificação dos dados, uma vez que nem todos os veterinários informam as ocorrências ao município, ainda que seja obrigatório.

Se todos os exames em análise confirmarem o resultado positivo, somente nos dois primeiros meses de 2024 já haveria um aumento de 91,6% em relação a todo o ano passado.

Outra profissional ouvida pelo Diário e que também preferiu não ser identificada afirma que a burocracia do sistema de notificação é o motivo para não fazer o aviso à prefeitura.

– Atendo todos os dias animais com leishmaniose. Não notifico mais porque demora muito para preencher a ficha. Muitos veterinários da cidade não notificam – diz.

Segundo a veterinária, a maioria dos casos atendidos por ela está na Região Norte, principalmente nos bairros Itararé e Chácara das Flores.

Para combater o avanço da doença, o município afirma que realiza ações como: vigilância de cães; busca ativa de proprietários e animais em casos em que não foi possível encontrá-los na primeira tentativa; e controle de proliferação do inseto vetor. Também informa que trabalha na implantação de um aplicativo de notificações com o objetivo de facilitar a comunicação junto aos profissionais da iniciativa privada.

Caso em humano

Sobre o registro da doença em humanos, no ano passado, uma pessoa que não teve a identidade divulgada testou positivo em Santa Maria. O paciente foi tratado no Husm e se recuperou.

A partir da confirmação, a equipe de vigilância da prefeitura realiza a coleta de sangue em todos os cães presentes em um raio de 150 metros a partir do local provável de infecção para controle da doença.

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