O pavor de andar de avião é chamado aerofobia. Quando se atravessa o país, sem conhecer o local de destino e os companheiros de viagem para tratar a doença que mais apavora o mundo atualmente, o medo de voar deve ser o menor. Mas, quando se chega à recuperação, o estar no céu literal do voo de volta se mistura com a figuração que é atingir o ápice _ ir aos céus.
Parte dos pacientes amazonenses que foram transferidos a Santa Maria para o tratamento da Covid-19 sentiu isso nesta quarta-feira. Dos 15 que chegaram na cidade em 2 de fevereiro, 11 embarcaram para Porto Alegre no avião comercial que decolou do Aeroporto Municipal às 12h04min. Outra paciente também teve alta, mas vai ficar até sábado em Santa Maria por opção própria. Os demais seguem internados no Hospital Regional.
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As três mulheres e os oito homens chegaram ao Aeroporto Municipal às 10h20min. Todos portavam malas e um certificado de alta que dizia "eu venci a Covid-19". Eles tiveram tempo para um lanche antes de se preparar para o embarque. A maioria tinha um semblante de alívio, ainda que alguns fossem mais tímidos nos cumprimentos. Por outro lado, havia quem fosse mais comunicativo. Dois deles, o pastor João de Souza Simões, 58 anos, e o pintor automotivo Lee Jekysn Silva Ramos, 41 anos, saíram da van que os levou até o aeroporto com a bandeira de Santa Maria e reiteravam os agradecimentos à cidade.
Na Capital, o voo com destino a Manaus deixou o Aeroporto Salgado Filho por volta de 13h20min. Lá, a filha de Simões e a esposa de Ramos _ que haviam viajado por conta própria até o Coração do Rio Grande _ já os aguardavam para voltarem juntos. A previsão de chegada na capital amazonense era por volta de 19h desta quarta.
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Conforme o secretário municipal de saúde, Guilherme Ribas, o município tem condições de receber mais pacientes do Norte se for necessário. Contudo, isso ainda não foi solicitado pelo Estado.
- A felicidade deles é algo que é marcante e não tem preço. Santa Maria conseguiu dar uma retribuição para os brasileiros. Toda a logística se criou para atender da melhor forma possível, para ter o isolamento - disse.
Foi a primeira vez na pandemia que Santa Maria recebeu pacientes do Norte do Brasil. O coronavírus, algoz que fez com que até o aperto de mãos ficasse limitado pelo risco de contágio, possibilitou que duas cidades segurassem as mãos, sem precisar ter medo de avião.