O economista britânico Arnold Toynbee, no século 19, já dizia que "o maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam". Dito isso, o Politiza aproveita o corre-corre dos últimos dias em que muitos eleitores tiveram de ir, até quarta-feira passada, aos cartórios eleitorais de todo o país para ficar em dia com a Justiça Eleitoral para, assim, abordar a relação dos brasileiros com o processo político.
A seção falou com cientistas políticos e especialistas no tema para mostrar o quão prejudicial pode ser à democracia e ao futuro do país quando o cidadão passa a ignorar e, até mesmo, a desprezar a política e todas as variáveis correlacionadas ao tema. Todos, invariavelmente, são unânimes de que há uma descrença geral dos cidadãos em torno da classe política. As manifestações de junho do ano passado sinalizaram para uma série de pedidos por mudanças, que em parte foi atendida. Mas ainda vale os dizeres de um cartaz "tem tanta coisa errada que não cabe em um cartaz". Porém, as mudanças somente acontecerão se o cidadão for o protagonista por essa moralização na política.
A causa desse distanciamento entre o representante e o representado é uma só: o sistema eleitoral brasileiro. Temos um sistema perverso e com uma deformidade absurda constata Flávio Britto, advogado especialista em Direito Eleitoral pela Escola Judiciária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Britto sustenta que os partidos passam por uma crise de identidade. Ele critica também a existência de tantos partidos no Brasil:
Os partidos não têm mais uma representação ideológica. É impossível que se tenha mais de 30 partidos com tantas ideologias diferentes. É um oportunismo descarado.
A votação da reforma política, tão adiada por sucessivos governos e que paira no Congresso, é o calcanhar de Aquiles da classe política. A adoção de um sistema de financiamento com recursos de pessoas físicas com doações limitadas a valores possíveis a um cidadão comum seria o começo de uma moralização da política. As doações de empresas para campanhas políticas são vistas como a raiz das relações espúrias entre eleitos com os financiadores das campanhas, que acabariam tendo favorecimentos em, por exemplo, contratos.
O político de carreira vira despachante daqueles que o financiam. Essa é a lógica. É preciso, e urgentemente, que se acabe com o financiamento privado das campanhas e, assim, trabalhar ao máximo para colocar em pé de igualdade aqueles que não detêm de poder econômico e financeiro para que, assim, possam vislumbrar o acesso ao Legislativo e ao Executivo defende João Herninio Marques, advogado e militante da organização de esquerda AMarighella.
Não há sistema político sem partidos e sem políticos
Mas se o cidadão se afasta da política como, então, fazer com que esse distanciamento não macule o que, desde o fim da ditadura (1964-1985), é a mais valiosa conquista dos brasileiros: a redemocratização do país? Para o cientista político da UFSM José Carlos Martinez, o cidadão não deve incorrer no erro de nivelar, por baixo, a classe política.
Martinez atenta para um cenário preocupante: o cidadão avesso à política acaba votando mal e deixa de fiscalizar o eleito.
Não há sistema político sem a classe política e, obviamente, sem os partidos. Do contrário, resvalamos para regimes autoritários e fascistas sustenta Martinez.
Se para alguns, o Brasil ainda não é uma democracia consolidada e até mesmo exemplar, basta lembrar dos desmandos da época da ditadura, atenta Martinez:
O regime militar ajudou nesse distanciamento da classe política. Até porque, o fazer política valia, muitas vezes, a vida. Hoje, são os casos de corrupção que afastam a população da política. Mas engana-se quem pensa que na ditadura militar não se tinha corrupção. A diferença é que, à época, o acesso à informação era controlado.
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