Violência no trânsito

Mortes caíram pela metade no trecho da Travessia Urbana após começo das obras em 2015

Mortes caíram pela metade no trecho da Travessia Urbana após começo das obras em 2015

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Nos pouco mais de 14 km das obras da Travessia Urbana, que duplicam as vias das BRs 158 e 287, os acidentes de trânsito no local se destacam, além do atraso na entrega do trabalho.

O tema ficou ainda mais em destaque no início de maio deste ano, após o acidente na BR-158, próximo ao viaduto da Uglione, onde morreram os irmãos Patrick Rodrigues Nascimento, 34 anos, e Wellington Rodrigues Nascimento, 24, e o amigo Bruno Figueiredo Felix, 28, após uma colisão frontal do carro em que eles estavam em um caminhão. As condições da rodovia podem ter colaborado para o acidente.

Para entender o cenário, o Diário e o Bei foram em busca de números para tentar analisar se a duplicação das rodovias ajudam na redução dos acidentes ou não. Segundo levantamento da Polícia Civil, houve, sim, uma diminuição no número de mortes no trânsito.

Conforme os números do setor de trânsito da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) da Polícia Civil, 60 pessoas morreram em acidentes no período de janeiro de 2010 a 29 de maio de 2023, no trecho entre o Trevo do Castelinho e cerca de 2 km após o trevo da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

Das 60 vítimas, 32 (53,33%) morreram antes do início das obras – o que representa uma média de 6,4 mortes por ano. Ou seja, havia mais óbitos antes do que durante a duplicação. E esse número poderia ser menor ainda se a obra já tivesse acabado ou se a rodovia estivesse melhor sinalizada, segundo alguns motoristas que passam pelo local como o santa-mariense Antonio Augusto Penna, 67 anos. Ele reclama do desvio no Bairro Urlândia que foi feito há mais de um ano e que, além de perigo aos motoristas, atrapalha o trânsito.

— Quando está muito escuro e chovendo, parece um voo cego, porque não tem sinalização horizontal, não tem iluminação, então, é muito perigoso. Quem sai do Shopping Praça Nova em direção à Uglione, é ainda mais perigoso, porque tem um barranco ao lado do desvio. Pode acontecer acidente fatal ainda. Quero o melhor para minha cidade, quero que obras sejam feitas, mas também espero proteção às pessoas — desabafa Penna.

A partir de 2015, quando as obras de duplicação efetivamente começaram, até maio de 2023, são quase nove anos. Nesse período, o número de mortes nas BRs é de 28 vítimas (14,29% a menos do que antes das obras), o que representa uma média de 3,11 mortes por ano. Os dados computados pelo comissário Pompeo, da DPHPP, mostram que mais pessoas morreram antes da obra em quase metade do tempo, o que mostra a necessidade e a importância da duplicação e das mudanças elaboradas no projeto.

Avaliação

Para o professor e doutor Carlos José Antônio Kümmel Felix, coordenador do Grupo de Estudos em Mobilidade (GeMob) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a capacidade das ruas e das avenidas precisa acompanhar a quantidade de fluxo de veículos, caso contrário, isso pode causar grandes efeitos negativos.

— Como os números mostram, antes da obra, havia faixa simples, trevos de acesso à cidade perigosos e um grande fluxo de veículos. As benfeitorias eram necessárias e, como pode-se ver, agora, com faixas duplas, viadutos e passarelas, estão morrendo menos pessoas. Eram obras necessárias a se fazer, e isso colaborou para o bem de todos — explica o professor.

Trecho crítico

O trecho mais violento apontado pelo estudo fica entre a passarela do Bairro Urlândia e o viaduto do Posto Padoin, onde foram registradas sete mortes, a maioria delas no km 328. Não muito longe dali, no km 326, no Trevo da Uglione, outras cinco pessoas perderam a vida. Cinco também foram as vítimas que morreram entre o viaduto do Bairro Tancredo Neves e o trevo de acesso à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

Também no perímetro urbano e com grande fluxo de veículos, em frente às revendas de carros, quatro pessoas morreram, e outras três perderam a vida no viaduto do Bairro Santa Marta. Já o viaduto da Duque de Caxias, o trecho do Cerrito e os viadutos do Castelinho e da Faixa de Rosário registraram, cada um, um acidente com morte.

O que diz o Dnit

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) diz que desde o início da obra já foram investidos cerca de R$ 300 milhões e que para a conclusão total faltam R$ 9 milhões em investimentos. Conforme o Dnit, a obra está quase toda concluída, com mais de 90% de serviços realizados. Por e-mail, o Dnit responde alguns questionamentos sobre a obra e informa que o prazo de conclusão inicial previa, no mínimo, três anos de execução da obra, e que o andamento do cronograma está vinculado ao fluxo de liberação de verbas.

Sobre as entregas dos serviços, no lote um, que é do trecho entre o Castelinho e Viaduto da BR-392, o viaduto da Uglione, ainda haverá a finalização do viaduto, a sinalização do local e as adequações de pavimento, além dos passeios públicos em pontos próximos ao viaduto da Duque de Caxias e Cerrito.

Já no lote dois, entre o viaduto da Uglione e a Ponte sobre o Arroio Taquara, está em construção a passarela do Bairro São João, que tem 50% de conclusão, e as passagens inferiores da Rua Capitão Vasco da Cunha e do Bairro Urlândia. Além disso, ainda haverá a recuperação do asfalto, a sinalização e drenagem de alguns trechos.

Conforme o órgão, a obra de duplicação e restauração do trecho urbano das BR-158 e BR-287 está com 96% de execução concluída. O Dnit não quis falar sobre os acidentes.

Os períodos mais e menos violentos no trânsito

​Antes do começo da obra, o ano de 2010 foi o mais violento nas rodovias da cidade, computando 12 mortes, 23,08% do total de mortes em toda a cidade. Já no ano seguinte, foi o que menos registrou óbitos no trânsito. Foram três mortes, ou 6,25% do total em Santa Maria.

Já durante os trabalhos, 2016 foi o ano mais positivo e teve apenas uma morte em acidentes no trecho da travessia. A parte triste do levantamento feito pela reportagem, é que os últimos anos vem registrando acidentes com mais gravidade e mortes. No ano passado, foram 25 acidentes com morte em toda cidade e 24%, ou seja, óbitos nas rodovias. Já este ano, a cidade tem um baixo números de mortes, somando seis vidas perdidas no trânsito, três delas em um só acidente e na Travessia Urbana.

Faixa etárias

Conforme o levantamento feito pela reportagem junto à delegacia, as vítimas que mais morreram nas rodovias da região da Travessia Urbana foram homens entre 30 e 69 anos. Ao todo foram 14 pessoas que perderam a vida.

Em segundo lugar, foram jovens de 18 a 29 anos, somando seis vítimas. Depois, três mulheres entre 30 e 69 anos. Dois homens e duas mulheres com 70 anos ou mais ficaram na quarta posição em quantidade de mortes e um adolescente de 17 anos fecha a lista das mortes no trânsito desde 2015.

Histórico de mortes

2015

1- Márcio Gonçalves Saquetti, 39 anos
LOCAL: BR-158 km 328 - Atrás do Posto Padoin
DATA: 08/05/2015
HORA: 0h25min

2- Paulo Roberto Bairros Maia, 19 anos
LOCAL: BR-158 km 326 - Viaduto da Uglione
DATA 13/02/2015
HORA: 6h52min

3- Guilherme Silveira da Cruz, 18 anos
LOCAL: BR-158 - km 328 -Trevo Renascença
DATA: 11/12/2015
HORA: 2h50min

4- Rodrigo Moro Druzian, 27 anos
LOCAL: BR-287 km 250 - Viaduto Santa Marta
DATA: 31/12/2015
HORA: 6h15min


2016
1- Leo Saldanha, 70 anos
LOCAL: BR-287 km 248 - Revendas
DATA: Acidente 22/12/2015
HORA: 21h20min
Morte em 08/03/2016 atropelado ônibus


2017
1- Cláudio Augusto Menezes dos Santos, 61 anos
LOCAL: BR-287 Km 248 - Revendas
DATA: 30/03/2017
HORA: 20h10min


2- Janice Pereira da Silva, 34 anos
LOCAL: BR-287 - km 248 - Revendas
DATA: 01/03/2017
HORA 7h25min


3- Antônio Elias Fontana, 60 anos
LOCAL: BR-287 km 250 - Viaduto Santa Marta
DATA: 29/04/2017
HORA: 18h05min


4- Paulo Rudinei da Silva, 51 anos
LOCAL: BR-158 km 328 - Posto Padoin
DATA: 17/12/2017
HORA: 6h


2018
1- Jamal Martin Munauer, 71 anos
LOCAL: BR-287 km 252 - Viaduto Tancredo Neves
DATA: 15/06/2018
HORA: 13h35min


2 - Fábio Leal Machado, 37 anos
LOCAL: BR-158 - KM - 325 - Viaduto Fiat
DATA: 15/09/2018
HORA: 6h30min


3 - Marcelo da Silva Canabarro, 45 anos
LOCAL: BR-158 km - 323 - Cerrito
DATA: 24/10/2018
HORA: 16h20min


2019
1- André Gomes da Silva, 39 anos
LOCAL: BR-287 km 252 - Viaduto Tancredo Neves
DATA: 16/05/2019
HORA: 2h


2 - Nilson Bessauer, 52 anos
LOCAL: BR-287 km 250 - Viaduto Santa Marta
DATA: 01/6/2019
HORA: 7h30


3 - Sérgio Marques de Melo Botega, 49 anos
LOCAL: BR-158 - km 322 - Trevo do Castelinho
DATA: 02/09/2019
HORA:15h


2020
1- Ezequiel Marinho de Oliveira, 34 anos
LOCAL: BR-158 km 328 - Posto Padoin
DATA: 06/05/2020
HORA: 16h


2 - Tânia Caetano Neves, 73 anos
LOCAL: BR-287 km 253 - Depois da Ulbra
DATA: 22/02/2020
HORA: 19h30min


2021
1- Ricardo Matana do Amaral, 32 anos
LOCAL: BR-287 km 248 - Revendas
DATA: 03/05/2021
HORA: 17h50min


2- Fernando Trindade Borin, 17 anos
LOCAL: BR-158 km 328 - Posto Padoin
DATA: 22/05/2021
HORA: 19h20min


2022
1 - Luis Carlos da Silva Cavalheiro, 61 anos
LOCAL: BR-287 km 253 - Viaduto Tancredo Neves
DATA: 01/02/2022
HORA: 21h47min


2 - Lara Conrad de Menezes, 85 anos
LOCAL: BR-287 km 247 - Viaduto Faixa de Rosário
DATA: 03/02/2022
HORA: 10h40min


3- Vinicius Ribeiro Light, 39 anos
LOCAL: BR-287 km 252 - Coca-Cola
DATA: 26/03/2022
HORA: 14h20min


4- Lucas Canto Pires, 28 anos
LOCAL: BR-158 km 326 - Viaduto da Uglione
DATA: 07/04/2022
HORA: 18h


5- Irineu César da Silva, 62 anos
LOCAL: BR-158 km 328 - Posto Padoin
DATA: 23/06/2022
HORA: 19h35min


6- Lauren Lima da Rosa, 31 anos
LOCAL: BR-158 - km 329 - Posto Padoin
DATA: 01/09/2022
HORA: 1h25min


2023
1- Patrick Rodrigues Nascimento, 34 anos
LOCAL: BR-158 km 326 - Viaduto da Uglione
DATA: 08/05/2023
HORA: 19h58min


2 - Wellington Rodrigues Nascimento, 24
LOCAL: BR-158 km 326 - Viaduto da Uglione
DATA: 08/05/2023
HORA: 19h58min


3 - Bruno Figueiredo Felix, 28
LOCAL: BR-158 km 326 - Viaduto da Uglione
DATA: 08/05/2023
HORA: 19h58min

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