Dois salvamentos e 11 trotes: qual a avaliação da Torre de Monitoramento do Calçadão de Santa Maria três meses após sua instalação

Dois salvamentos e 11 trotes: qual a avaliação da Torre de Monitoramento do Calçadão de Santa Maria três meses após sua instalação

Instalada para monitorar e atender a população em situação de perigo, a Torre de Monitoramento completa três meses de funcionamento no Calçadão de Santa Maria nesta segunda-feira. Por se tratar de um projeto-piloto, a eficiência do equipamento é avaliada pelos órgãos de segurança constantemente. O dispositivo está ainda no período de teste, que vai até o final do ano. 


O equipamento, destinado a reforçar a segurança do local ao atender pessoas em situação de risco, desorientadas ou em emergência, já foi acionado 19 vezes durante esses 90 dias – sendo que desses, 11 acionamentos eram trotes, o que representa 57% dos acionamentos. 

O superintendente do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciosp), Sandro Nunes, destaca que a torre tem tido êxito no propósito de salvar vidas, visto que grande parte dos chamados reais são para emergências de saúde. No fim de agosto, dois casos envolvendo o socorro de idosos por meio do acionamento da Torre de Monitoramento chamaram a atenção de quem transitava no Calçadão. O primeiro, no dia 24 de agosto, aconteceu para solicitar atendimento a um homem de 78 anos que estava engasgado em frente ao Banrisul, próximo à Praça Saldanha Marinho. Já no dia seguinte, uma mulher buscou atendimento para socorrer um outro idoso que sofria de um mal súbito.



Avaliação

Passados três meses de instalação, os órgãos de segurança de Santa Maria têm avaliado positivamente a Torre de Monitoramento, que segue no período de testes até o fim de 2023.


— Ela tem contribuído e muito, não somente para a Guarda Municipal, mas para todos os órgãos de segurança de Santa Maria. O sistema da torre de monitoramento vem contribuindo, não só na segurança pública, mas para salvar a vida — conclui o superintendente da Guarda Municipal, Santo Cordeiro.


O delegado regional da Polícia Civil, Sandro Meinerz, também avalia positivamente o uso de ferramentas tecnológicas pelas forças de segurança pública. De acordo com ele, a partir da criação do Ciosp, órgãos de segurança do município, Estado e federação passaram a compartilhar de uma sinergia em prol da comunidade. Sobre a torre de monitoramento, ele analisa seu uso quanto a ação de coibir crimes:


— Talvez as câmeras ainda não estejam inibindo (crimes). O objetivo maior das câmeras, o quanto elas poderiam inibir, só vai acontecer na medida em que a repressão tiver efeito. Ou seja, quando a gente tiver mostrando o resultado, prendendo pessoas, identificando autores de crimes graves e dando uma resposta rápida ao recuperar objetos furtados ou roubados. Tudo isso é extremamente importante para o nosso trabalho.


O equipamento tem sido bem visto também por quem transita pelo centro de Santa Maria, como é o caso do vendedor da região, Gilcemar Elias Aires, 44 anos, que cita que a torre tem facilitado o contato para quem precisa pedir algum tipo de ajuda em momentos de emergência. Ele, inclusive, foi uma das primeiras pessoas a acionar o botão quando um idoso se engasgou próximo a uma agência bancária do Calçadão.


— Ela facilitou bastante para os momentos de emergência. Quando eu apertei o botão, em menos de cinco minutos já veio a ambulância e eu consegui salvar a vida daquele senhor. Então foi uma benção, uma maravilha — elogia.


O superintendente do Ciosp, Sandro Nunes, destaca que o projeto-piloto é também referência para o Estado, já que não havia nenhum outro equipamento parecido  implementado em municípios gaúchos que pudessem servir para avaliação prévia:


— Essa torre vem para nos dar uma visão diferenciada, num ângulo de 360 graus, das pessoas que circulam no entorno da praça (Saldanha Marinho) e do Calçadão. Tendo em vista que a gente não tinha nenhum exemplo no Estado para que pudesse ter uma avaliação, ele vai servir de estudo para projeções futuras de instalações da Torre de Monitoramento — analisa.

Uso da tecnologia pela segurança pública


Segundo o associado sênior e conselheiro de administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Eduardo Pazinato, o uso de tecnologias na segurança pública não é uma novidade, o desafio, porém, é fazer o uso adequado das várias ferramentas sabendo extrair delas os resultados mais eficientes. Daí a importância de testar e avaliar. 


— No Brasil nós temos pelo menos duas décadas e meia de investimentos em tecnologia. A questão é que nós temos várias tecnologias, cada uma delas destinada a um fim. Algumas delas com resultados aferidos por pesquisas científicas, outras, muitas vezes, são quase experimentos, são pilotos que estão sendo implementados justamente para aferir efetividade e eficiência da ferramenta. — adverte Pazinato.


De acordo com Pazinato, é fundamental que os profissionais da segurança recebam capacitação para o uso das tecnologias para um aproveitamento mais preciso, conforme as necessidades da situação apresentada.


— Nós somos pessoas do século 21. A gente convive com a tecnologia, e a área da segurança convive com a tecnologia há décadas, inclusive no Brasil. É natural que sejam feitos testes. Tem que fazer piloto, é importante que avaliem,  de preferência com consultorias externas, que possam dar isenção a essa avaliação — aponta.


Ele também atenta que, apesar da constante revolução tecnológica vivenciada pela sociedade e a sua importância para a segurança, não se pode “colonizar as políticas de segurança pelas tecnologias”, correndo o risco de criar um ‘big brother’ que viola direitos.

Entenda o que é e como funciona o projeto-piloto


A tecnologia empregada na torre de monitoramento é oferecida pela empresa Vigillare Sistemas de Monitoramento, que em 2019 venceu o pregão eletrônico para prestar o serviço do Sistema de Segurança, Monitoramento e Cercamento Eletrônico Urbano. Atualmente o serviço abrange cerca de 1,2 mil câmeras de videomonitoramento espalhadas por Santa Maria.


Por se tratar de um projeto-piloto, em fase de testes por seis meses, o equipamento não tem custo para o município. De acordo com o superintendente do Ciosp, Sandro Nunes, após esse período, será avaliada a possibilidade de efetivar o serviço, assim como, instalar mais torres em outras praças, espaços públicos e escolas municipais. 


—  Ao meu ver, ele já se pagou porque salvou a vida de uma pessoa que precisou de atendimento rápido. Quando chegar no final do ano, nós vamos avaliar se ela realmente foi eficiente, eficaz, e atendeu a proposta.


Quanto ao custo da torre e do serviço prestado, caso o contrato seja firmado, o superintendente disse que ainda não tem conhecimento. Porém, ele comenta que uma outra empresa teria oferecido um serviço semelhante ao custo de R$ 22 mil para a implementação e R$ 17 mil mensais para o serviço prestado.


Como funciona

A estrutura conta com quatro câmeras de alta definição e um botão do pânico que, quando acionado, funciona como um interfone, interligando a pessoa que solicitou o atendimento ao Ciosp.


Na sequência, um operador treinado para o atendimento pelo equipamento se comunica com a pessoa que fez o contato, averigua a situação e repassa aos órgão de segurança, que pode ser a própria Guarda Municipal, Corpo de Bombeiro, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou a Brigada Militar.


Enquanto a equipe se dirige ao local, a orientação repassada é de que, dependendo do caso, a pessoa que solicitou o atendimento aguarde junto à torre, em contato com o operador. Na maioria dos casos já atendidos, a equipe chegou para prestar o apoio em menos de dez minutos.


Sandro explica que não há como o efetivo da Guarda Municipal estar em todos os locais públicos continuamente. Desse modo, ele defende que a Torre de Monitoramento e outras tecnologias estão sendo usadas para complementar o serviço de segurança do município:


— As câmeras trabalham ostensivamente inibindo. Elas não impedem, elas inibem (crimes). Porém agora a gente vai ter a certeza que não vai haver impunidade, porque a gente vai identificar esse indivíduo. Hoje a Delegacia de Homicídios está com 100% de elucidação. A gente não tem como estar presente em todo local. Mas tem como a gente ver o que aconteceu no local e medir, dimensionar, o quanto vamos empregar de efetivo— considera.


Reconhecimento facial


As quatro câmeras de alta resolução anexadas à torre também estão sendo uma peça importante para a identificação de pessoas desaparecidas no Estado. Associadas a um software que roda na sede do Ciosp, as imagens das câmeras são cruzadas com o banco de dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, onde estão as fotos de pessoas desaparecidas. Através de tecnologias de reconhecimento, é possível identificar as pessoas e seus trajetos.


Após esse cruzamento, o operador do sistema faz o reconhecimento da pessoa, como o nome, por exemplo. Na sequência, o software faz o rastreio e busca pela identificação do horário em que a pessoa passou pelo local, entre outros dados.


Armazenadas em média por 30 dias ou conforme a necessidade, as imagens registradas podem auxiliar durante a investigação de alguma ocorrência. 


— O sistema consegue identificar mesmo se a pessoa tenha mudado sua fisionomia. Ele não pega só um dado ou só uma característica, ele pega múltiplas características faciais, dimensão, textura, profundidade, tamanho do nariz, distância entre olhos, distância entre as orelhas, tamanho da boca, tudo. Hoje nós vamos trabalhar em cima do banco de dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul na busca de pessoas desaparecidas do Estado. A gente espera ter êxito. Daqui a pouco, uma pessoa que está desaparecida, em algum momento, passa por aqui e nós vamos auxiliar. Nós vamos começar com esse projeto-piloto na Torre de Monitoramento, mas ela pode ser empregada também em outras câmaras e em outros locais — aponta Sandro.


Apesar do sistema de reconhecimento facial ter sido utilizado durante as duas últimas edições da Calourada Segura, e contribuído para a identificação e prisão de foragidos, o superintendente afirma que as imagens captadas pela torre serão usadas apenas no caso de pessoas desaparecidas.


Torre de Monitoramento ou Totem de Segurança?

Alguns santa-marienses podem apresentar dúvidas quanto ao nome do equipamento instalado no Calçadão de Santa Maria e que permite um contato direto com o Ciosp. Isso acontece porque, nas primeiras informações divulgadas sobre o dispositivo, ele era apresentado como Totem de Segurança, inclusive constando esse nome adesivado na estrutura após a sua instalação.


Porém, quem passou pelo equipamento nos últimos tempos pode ter observado a mudança na sua identificação – agora nomeado Torre de Monitoramento. O superintendente do Ciosp explica que a alteração se deu pelo fato de uma empresa de fora da cidade cobrar a patente de um dispositivo chamado Totem de Segurança.


— Antes de firmarmos o projeto-piloto com a Vigillare, várias empresas (surgiram) querendo vender isso aí. A gente já sofreu uma medida extrajudicial porque colocamos lá 'Totem de Segurança'. Uma empresa está questionando a patente, uma vez que 'Totem' seria deles — revela Sandro. 


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