“Cidade que se desenvolve é a que garante segurança”; alerta especialista após os homicídios em Santa Maria

“Cidade que se desenvolve é a que garante segurança”; alerta especialista após os homicídios em Santa Maria

Registro do homicídio no Beco da Tela, na última quarta-feira (14), em Santa Maria.

Seja grandes centros metropolitanos ou em cidades como Santa Maria, com aproximadamente 300 mil habitantes, não existe uma solução milagrosa para a segurança pública. O problema perdura em todos os cantos do Brasil, já que o país registra 20% dos homicídios do mundo, segundo o Fórum Nacional de Segurança Pública, em 2023. No entanto, a cobrança por respostas imediatas se intensifica quando os registros são próximos – como foi a última quarta-feira (14), em que foram registrados quatro homicídios em Santa Maria. 

Ainda assim, o aumento de 100% no número de homicídios no município, comparado ao mesmo período de 2023, requer ações mais densas. A transparência na elucidação de casos e o investimento de vários setores para, assim, o amadurecimento do serviço, são exemplos – é o que dizem os especialistas. 

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Homicídios dolosos em Santa Maria 

Veja o número de homicídios dolosos no município, em existe a intenção de matar,  últimos cinco anos, no mês de fevereiro. 

  • 2019 – 2
  • 2020 – 4
  • 2021 – 2
  • 2022 – 7
  • 2023 – 3 
  • 2024 – Pelo menos 5 homicídios registrados

Fonte:Secretaria da Segurança Pública do RS 


Preocupação 

Na primeira quinzena de fevereiro,os cinco homicídios registrados no município se aproxima do ano mais letal, 2022. Em que foram 7 no mês inteiro. Na perspectiva do gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, a sequência de homicídios deveria inquietar de imediato as forças de segurança, principalmente em uma cidade com quase 300 mil habitantes. 

– Esse número de homicídios em um período tão curto de tempo já deveria levantar um sinal de alerta urgente, mesmo em cidades bem maiores que Santa Maria. Isso não é um fenômeno normal e precisaria estar sendo já respondido com muita rapidez pelas autoridades de segurança, especialmente que se for um indício como parece de um conflito de facções.Se a polícia não age muito rapidamente para tentar responsabilizar esses autores, o mais provável é que a gente entre em uma espiral de violências – alerta Langeani. 

Registro de um jovem executado na Vila Arco-íris, na quarta-feira (14), em Santa Maria.

A comunicação com a população também é importante neste momento. Na análise do especialista em Políticas Públicas de Segurança e Conselheiro de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Eduardo Pazinato, a transparência das informações contribuem para que a sensação de segurança se fortaleça e/ou retorne:  

– O melhor antídoto, melhor vacina digamos assim, para tranquilizar a população é justamente esse trabalho de esclarecimento. Detalhar  e utilizar evidências científicas. Os homicídios, fora a violência doméstica, não acontecem de forma aleatória. Ainda assim, não estamos falando de uma epidemia. A transparência é o caminho para não gerar o medo de não sair na rua. Temos uma dinâmica sazonal e estrutural.  

Medidas ostensivas e de prevenção 

Para Langeani, entre as ações de longo prazo devem estar o investimento na estrutura de esclarecimento dos homicídios. Como também, a oferta, pelos municípios, de serviços de ocupação para os moradores de regiões que convivem diretamente com este cenário. 

“Cidade que se desenvolve é a que garante segurança”, e para concretizar esta afirmação, é necessária uma série de ações em várias esferas, detalha o Conselheiro Pazinato: 

– Os homicídios, em particular, demandam soluções complexas necessariamente integradas. Precisamos de atuação das forças policiais, mas também de um freio da política armamentista.  Um trabalho de mobilização. Uma nova oportunidade é o debate público nas eleições municipais. De estrutura na prática, boa iluminação, tecnologia, um trabalho de patrulhamento municipal, oferta de oportunidades a esses jovens que estão morrendo executados. Sem falar na ressocialização.  


Resolução de homicídios 

O Brasil esclarece por volta de 35% de homicídios, ou seja, fica mais mortes por esclarecer, do que com um autor identificado e preso. E neste cenário, o Rio Grande do Sul (RS) não contribui de maneira favorável, explica Langeani. 

O  Instituto Sou da Paz , do qual faz parte, mapeia e analisa o desempenho dos Estados no esclarecimento de homicídios. Langeani explica que há anos, o RS não consegue mandar ao instituto dados completos para fazer essa prestação de contas sobre a qualidade do trabalho. Logo, não é possível dizer como ele está em relação a outros Estados. E complementa:

– Quando a gente não tem esse esclarecimento e essa transparência com relação a esses dados você tem um prejuízo para a política. Sem elas, não é possível fazer uma política específica. A mesma coisa com a saúde, se eu só sei que está chegando 500 pessoas com febre, mas eu não sei qual é o diagnóstico, não consigo fazer uma política mais assertiva para dar conta daquilo. E no caso do homicídio é a mesma coisa. 


Os crimes da última quarta-feira 

Victor Mateus Ribeiro Trindade, 30 anos, foi encontrado morto no início da tarde de quarta-feira (14), em uma recicladora na rua Raimundo Correia, na Vila Carolina.

Bruno Barros Cruz, 22 anos, foi morto a facadas na tarde desta quarta-feira (14), na Rua Duque de Caxias, entre as ruas Silva Jardim e dos Andradas, no centro de Santa Maria. 

Elisandra Leão da Silva, 42 anos, foi morta com um tiro na cabeça na noite de quarta-feira (14), na Rua Antônio Abraão Berleze, no Bairro João Goulart.

Herick Moreira Rodrigues, 22 anos, foi morto a tiros por volta das 23h45min de quarta-feira (14), na Rua Violeta, na Vila Arco-íris, Bairro Noal, em Santa Maria.

Todos os casos estão sendo investigados pela Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) de Santa Maria.


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Bibiana Pinheiro

bibiana.pinheiro@diariosm.com.br

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