Você sabe como se forma um meteorologista? Conheça o curso de Meteorologia da UFSM, o mais completo da região sul do país



Cada vez mais requisitados em contextos de estiagem e enchentes como as enfrentadas pelo Estado recentemente, os meteorologistas tem um dia especial para chamar de seu: 14 de outubro. A data foi criada na década de 80, com a regulamentação da profissão no país. Além disso, essa categoria também comemora, no dia 23 de março, o Dia Meteorológico Mundial, com um cronograma de eventos pelo mundo todo.


O meteorologista tem como função principal estudar os fenômenos que não somente ocorrem no céu, mas também no solo e de que forma a atmosfera reage a todos eles. É uma carreira muito voltada às Ciências Exatas, com uma carga intensa de Física e Matemática. O registro da profissão está vinculado ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea).


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Curso na UFSM foi criado em 2005

No Brasil todo, são 14 cursos de graduação em Meteorologia. Na Região Sul, existem somente três, sendo um em Santa Catarina (somente graduação) e dois no Rio Grande do Sul. Em terras gaúchas, eles estão na Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), com níveis de graduação e mestrado, e também na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)


Em Santa Maria, ele foi criado em 2005, é diurno e com processo seletivo para turmas anuais de 20 alunos. É o único da Região Sul que tem os três níveis completos: graduação, mestrado e doutorado.


Grande parte da estrutura se encontra no prédio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no campus de Camobi, onde estão os seis laboratórios experimentais, a secretaria e o gabinete dos professores. No terraço, estão instalados sensores responsáveis por medir radiação, temperatura e análises abaixo do nível do solo. Já as salas de aula ficam espalhadas em alguns prédios pelo campus.


Sensores localizados no terraço do prédio do InpeFoto: Nathália Schneider (Diário)


Atualmente, o curso possui 19 alunas do sexo feminino e 17 do sexo masculino, totalizando 36. A maioria dos universitários são gaúchos, enquanto a média de idade dos bixos é entre 18 e 19 anos.


De acordo com a coordenadora do curso, Simone Ferraz, o cenário não era bem assim antes da pandemia: a quantidade de alunos era maior, além de ter mais estudantes de outros lugares do Estado. Porém, com as dificuldades impostas pela Covid-19, muitos deles retornaram para suas cidades e deixaram o sonho da meteorologia de lado.


A coordenadora do curso, Simone FerrazFoto: Nathália Schneider (Diário)


Outro ponto citado para a evasão são as disciplinas, com muita Matemática e Física, por exemplo. Para quem não teve uma base sólida de disciplinas com cálculos no Ensino Médio, não é uma tarefa fácil se adequar à realidade das aulas.


O curso oferece uma estrutura para os diferentes perfis de alunos, tanto para quem deseja praticar e partir para o mercado de trabalho, tanto para aquele que deseja seguir carreira acadêmica. Para quem opta pela primeira opção, a saída é uma só: ir embora da cidade. Há grande demanda em outros municípios e fora do Estado.
O foco em Santa Maria é a qualidade da formação.


Ao sair de dentro do campus e andar poucos quilômetros até a área do Colégio Politécnico, em um local mais afastado e aberto à vegetação, estão a torre e o radar meteorológico. O radar é a mais recente conquista do curso, em parceria com o Instituto de Física Atmosférica (IAP), Laboratório Conjunto de Clima Espacial China-Brasil, ambas instituições da Academia Chinesa de Ciências. 


Ele realiza uma análise detalhada das nuvens e da atmosfera, permitindo identificar quais tipos, formatos e tamanhos de gotas, partículas de gelo e granizo. Um pouco mais a frente está a torre meteorológica, com 30 metros de altura, responsável por medir as interações entre a superfície e a atmosfera para quantificar o saldo de transferência de CO2 e outras grandezas físicas no Estado.


Radar (à esq.) e Torre meteorológica (à dir.)Foto: Nathália Schneider (Diário)


Mercado de trabalho

Considerada uma "profissão do futuro", está com o mercado de trabalho extremamente aquecido. Tendo apenas três cursos em toda a região sul do Brasil, a procura por profissionais da área tem aumentado bastante, a ponto de não ter meteorologista suficiente para suprir essa demanda. Simone afirma que grande parte dos universitários já estão empregados no último semestre de curso:


— Muitas empresas entram em contato com o curso em busca de um profissional, mas na maioria dos casos, os alunos já estão empregados. A procura tem sido cada vez maior, muitas vezes nem temos quem recomendar. Isso só reforça a importância e a necessidade cada vez mais intensa por alguém da área.

Mas qual os leque de atuação um meteorologista encontra no mercado de trabalho? Se engana quem pensa que o profissional fica restrito às previsões do tempo em si, a área de atuação vai além: Defesa Civil, Aeronáutica, Marinha, empresas de energia elétrica, hidrometeorologia (estudo de nível de barragens e rios), medidas e análises relacionadas aos efeitos do aquecimento global (gases de efeito estufa, CO2, por exemplo), empresas do ramo do agronegócio, bolsa de valores, órgãos governamentais e por aí vai.


O Dia do Meteorologista, comemorado neste sábado (14), foi criado para reforçar a importância da profissão e a sua regulamentação. Além desta, a comemoração que ocorre em 23 de março, considerado o Dia Meteorológico Mundial, coincide com o início do semestre, então eles realizam a semana meteorológica junto aos bixos.


Uma das profissões do futuro?

Murilo Lopes, técnico de nível superior em MeteorologiaFoto: Nathália Schneider (Diário)


Com tantos eventos meteorológicos extremos ocorrendo com uma maior frequência, o papel do meteorologista se torna cada vez mais importante, por isso, não é exagero afirmar que pode ser considerada "uma das profissões do futuro".


— Somando o cenário que encontramos hoje, o leque de atuação cada vez mais amplo e a grande procura, o mercado de trabalho para quem trabalha com meteorologia está de vento em popa! Para aquele estudante que ainda não decidiu qual curso fazer, recomendo que olhe com carinho para a Meteorologia – afirma a coordenadora Simone.


"O maior desafio da minha vida": meteorologista do Grupo Diário é formado na UFSM

Foto: Arquivo Pessoal


Gustavo Verardo, de 34 anos, se formou na UFSM em 2012. Ele é fundador da BaroClima Meteorologia e atua em uma empresa de energia, em Curitiba (PR). Meteorologista do Grupo Diário há dois anos, ele comenta que sua relação com a área vem desde a infância, sem nem saber que existia esta profissão:


– Desde criança, sempre gostei de raios, ventos, relâmpagos...conforme os anos foram passando, o meu interesse por esses assuntos só aumentava. Então quando eu descobri que na UFSM tinha esse curso, prestei vestibular e entrei em 2007.


Quando entrou no curso, Verardo se deparou com muitas matérias da área de Exatas e isso lhe atrapalhou, pois essa "não era a sua praia no Ensino Médio".


— Acredito que foi o maior desafio da minha vida! O curso, quase todo, possui matérias de Matemática e Física. Eu tive que estudar três vezes mais que os meus colegas. 


Gustavo trabalhou em áreas diversas: em uma empresa de mídia, prestando serviços de meteorologia para canais de imprensa; depois recebeu um convite para atuar na Defesa Civil com eventos extremos e previsões de curto prazo. Há seis anos ele mora no Paraná, trabalhando em uma empresa de energia. É um exemplo da diversificação de oportunidades que um profissional da área pode encontrar.


— Sempre quis sair da faculdade e ingressar no mercado de trabalho, a carreira acadêmica nunca me atraiu. Se eu não tivesse passado antes por essas duas áreas distintas, não teria experiência e bagagem para atuar onde estou hoje. Mesmo assim, todas tem como finalidade a previsão do tempo.



Atualmente, Gustavo tem pós-graduação em Energias Renováveis e Eficiência Energética, concluída em 2021. Questionado sobre o que mais gosta em sua profissão, ele nem demora muito para responder:


— A dinâmica da atmosfera. Nunca é a mesma coisa de um dia para o outro, está sempre em constante mudança, isso é o que eu mais gosto. Não me imagino em nenhuma outra profissão.


Ele reforça o discurso da coordenadora Simone sobre a importância de um profissional dessa área para diversos eventos e dá um exemplo:


— A organização do Rock in Rio por exemplo, contratou uma empresa de meteorologia para fazer a previsão de cada dia de evento para eles. Então, é possível trabalhar também com estimativas para eventos, o leque de opções é vasto demais.


E como ele vê a importância de um meteorologista?


Foto: Nathália Schneider (Diário)


— A nível nacional, tem lugares que só lembram de falar com alguém da área quando ocorre alguma tragédia; mas podemos ir além disso. Nos Estados Unidos, a profissão é bem mais levada a sério do que no Brasil. A meteorologia tem um papel de zelar por vidas e mitigar prejuízos, principalmente os econômicos — conclui Verardo.


Mais informações sobre o curso de meteorologia da UFSM podem ser encontradas neste link.



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