As condições climáticas observadas desde o início da semana preocuparam os moradores de todo o Estado. Em Santa Maria, além de ter sido batido o recorde de acumulados de chuva no mês de setembro em 111 anos, a incidência de raios no céu da região também chamou a atenção.
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Conforme dados coletados pela estação de monitoramento de raios, do Bate-Papo Astronômico, localizada no Santa Maria Tecnoparque, foram detectadas 1.235 descargas elétricas, sendo a primeira registrada à 1h43min de terça-feira (12) e a última às 7h07min de quarta (13). No vídeo, disponibilizado pelo projeto Bate-Papo Astronômico, é possível ver alguns desses registros.
A estação, ainda em fase de testes e ajustes, detecta raios em uma área entre 1 km e 40 km do sensor, instalado no Tecnoparque, na região oeste da cidade. O diretor-executivo do projeto, Fabricio Colvero, revela que a estação é do mesmo modelo da utilizada pelo observatório Heller & Jung, de Taquara:
- Fomos inspirados por eles, na verdade. Trata-se de um sensor que fica em campo e detecta as descargas atmosféricas através de "ruído" ou estática em uma frequência baixa de rádio. Porém, o equipamento possui filtros e uma programação que permite identificar se se trata de um raio ou alguma descarga artificial, como uma moto passando - explica.

Após a detecção, os dados são enviados para uma central, instalada também no Tecnoparque, que tem a função de disponibilizá-los via internet tanto no programa específico da estação quanto para outros servidores de dados, como o próprio Bate-Papo Astronômico.
Raios, relâmpagos e trovões
Para entender melhor o fenômeno, a reportagem ouviu o meteorologista Gustavo Verardo, da BaroClima Meteorologia. Ele explica que as descargas elétricas, entre suas diversas formas, podem ser entre nuvem e solo e, intranuvens.
Os raios são causados pela grande diferença de potencial entre as duas partes, nesse caso, entre a nuvem e o solo. Quando isso acontece, o ar não consegue conter a oposição entre as cargas negativas e positivas, gerando o raio, que é a descarga elétrica que atinge o solo.
Conforme o meteorologista, as descargas intranuvens acontecem pela diferença de cargas elétricas de uma nuvem, sendo que no interior dela há carga negativa e em seu cume, a parte superior, há carga positiva.
Os relâmpagos e trovões podem ser comuns aos dois tipos de descarga elétrica, sendo o primeiro relativo à formação de luz e o segundo a uma onda de choque de som, ou seja uma onda sônica.
Quanto à incidência de descargas elétricas durante o último evento meteorológico, Verardo explica que a condição atmosférica na primavera favorece as ocorrências:
- A atmosfera está com muita energia, além do choque térmico entre as massas de ar frio com massas mais quente, favorecendo e intensificando as descargas elétricas - comenta.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), A intensidade típica de um raio é de 30 mil ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Embora a potência de um raio seja grande, sua pequena duração faz com que a energia seja pequena, algo em torno de 300 kWh, equivalente ao consumo mensal de energia de uma casa pequena.
Ainda conforme o Inpe, no Brasil, caem 77,8 milhões de raios por ano e a explicação é geográfica: é o maior país da zona tropical do planeta - área central onde o clima é mais quente e, portanto, mais favorável à formação de tempestades e de raios.
Bate-papo Astronômico
O projeto Bate-Papo Astronômico é um projeto social voltado para as áreas de astronomia e meteorologia.O projeto, que conta com apoio de diversas instituições, inclusive a Agência Espacial Brasileira, possui diversas estações de coletas de dados, como uma estação de monitoramento de meteoros, vinculada à rede Bramon.

Projetada e construída pela equipe do Bate-Papo Astronômico, a estação meteorológica é a única do Brasil que monitora também índices de radiação ionizante de fundo. Além da estação de monitoramento de raios, que está na fase de testes e ajustes, e uma estação de clima espacial, que pertence a um projeto da Universidade do Texas.