reportagem especial

VÍDEO: casal se recuperou da Covid depois de mais de um mês internado

Janaína Wille

data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Foto: Anselmo Cunha (Especial)

- Moça, eu precisei ser intubado?

- Sim, você acordou agora. Vai ficar tudo bem.

- Foi ontem que eu cheguei?

- Não. Já se passaram 14 dias.

Quando acordou depois da intubação, o motorista aposentado Deogênio Gregório da Silva Azambuja, 61 anos, perdeu a noção do tempo. Foi alertado por uma enfermeira de que não ficou apenas um dia na UTI, como havia pensado, mas duas semanas. O idoso não entendia muito bem o que estava acontecendo e, mesmo depois de passar pelo momento mais crítico da internação, uma preocupação o angustiava. Queria saber notícias da esposa Cleonir, com quem é casado há 33 anos. Ela também havia contraído o coronavírus e foi internada no Hospital de Caridade quatro dias antes do que ele.

LEIA TAMBÉM:
VÍDEO: professora passou a valorizar cada momento da vida após se recuperar da Covid-19
VÍDEO: enfermeiro-chefe da ala UTI Covid-19 viu a vida mudar ao tornar-se paciente
VÍDEO: pastor enfrentou a Covid-19 com fé sobre a própria vida e de sua família
VÍDEO: aos 102 anos, ex-jogador do Inter venceu seu pior adversário: a Covid-19
O processo de recuperação como uma nova oportunidade

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">O alívio só veio quando Deogênio soube que a esposa teve mais "sorte" do que ele e já estava quase com alta. Cleonir, 58 anos, ficou 34 dias no hospital e não precisou ser intubada. Ela ficou em leito semi-intensivo e teve alta em 23 de setembro. Já o marido ficou internado durante 39 dias, sendo 14 em UTI. A alta dele só veio em 2 de outubro.

- Não era a minha hora de ir. Cheguei muito próximo de morrer. Não desejo isso a ninguém. Nunca mais quero passar por isso - relata o aposentado.

Em seis décadas de vida, ele nunca havia precisado ser internado em um hospital. Sem nenhuma doença pré-existente, a Covid-19 comprometeu 90% dos pulmões e foi um baque:

 - O momento mais tenso foi quando me disseram que iria ser intubado. Fiquei apavorado, com medo de não voltar. Nesses mais de 30 dias internado, perdi 15 quilos. Foi horrível. Voltei sem forças nem para erguer o braço.

O casal ainda não se recuperou por completo. Seis meses depois de saírem do hospital, fazem terapia, têm dificuldades respiratórias e muito cansaço.

O MUNDO PELA JANELA

style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Foto: Anselmo Cunha (Especial)

Cleonir lembra bem dos dias em que ficou internada na ala Covid. Sem poder receber visitas, falava com a família por mensagens ou videochamada. Só tinha contato com o mundo real junto à equipe médica ou ao espiar o movimento das ruas pela janela.

- Eu ainda tinha um pouco de força para me levantar da cama. Então, passava um tempo olhando o céu, as ruas, os carros, os prédios, na esperança de ver uma carinha conhecida - afirma.

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">Funcionária pública do Estado, Cleonir, trabalha como merendeira no Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac e, portanto, está afastada das atividades presenciais desde a suspensão das aulas. Devota de Nossa Senhora Aparecida, ela se agarrou na fé para superar o medo.

- Eu rezava muito quando estava no hospital. Por mim e pelo meu marido. Continuo rezando muito para essa pandemia acabar e poder voltar a ver a nossa casa cheia de vida - revela.

Ainda que não tenha sido intubada, a recuperação de Cleonir não foi fácil. Durante sete dias, ela precisou ficar deitada de bruços, para aliviar a respiração. Hipertensa e diabética, teve 80% dos pulmões comprometidos.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Foto: Anselmo Cunha (Especial)

UM NOVO SENTIDO
A residência de Cleonir e Deogênio sempre foi o ponto de encontro da família. Os cômodos, hoje vazios, trazem as memórias dos dias felizes com a casa cheia. A mesa de sinuca, divertimento preferido entre os convidados, só é palco de partidas entre o próprio casal e os dois filhos que vêm de vez em quando visitar os pais. A caixa de som também não embala mais nenhuma festa. A churrasqueira ainda é acesa, mas com menos frequência e menos carne para assar, já que não é possível se aglomerar.

- Eu sempre gostei de jogar a minha sinuquinha, fazer meu churrasquinho, encher a minha casa de gente e de vida. É muito estranho viver em casa, quase sem sair, e ver tudo vazio. Vai ser uma Páscoa diferente, assim como já foi o Natal, mas terá um novo sentido, afinal, temos muitos motivos para comemorar - conclui, emocionado, Deogênio.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

VÍDEO: pastor enfrentou a Covid-19 com fé sobre a própria vida e de sua família

Próximo

VÍDEO: professora passou a 'valorizar cada momento da vida' após se recuperar da Covid-19

Geral