A estimativa da 13ª Região Tradicionalista é que metade das 38 entidades de Santa Maria realizem atividades presenciais durante a Semana Farroupilha. No ano passado, em função da pandemia da Covid-19, as comemorações ficaram limitadas. Neste ano, os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e Departamentos Tradicionalistas (DTs) estão autorizados a realizar almoços e jantares com até 40% da capacidade de público. Nos salões, onde a cena da prenda rodando a saia nos braços do peão é comum, está proibido dançar. Quem participar das atividades, deve permanecer sentado, usando máscara, higienizando as mãos com álcool em gel, que estará disponível nas mesas, e com distanciamento. A estrutura para servir os almoços ou jantares deve seguir os mesmos protocolos de restaurantes.
No CTG Sentinela da Querência, no Bairro Camobi, a Semana Farroupilha começou com o 14º Rodeio Campeiro de Inverno, no último fim de semana, sem a presença de público. A partir da próxima quinta-feira, almoços e jantares estão previstos. Para que os eventos pudessem ser realizados, foram adotadas diversas estratégias, entre elas espalhar cartazes pelo salão solicitando o uso de máscara e informando o número de pessoas que podem permanecer no local. O CTG teria a autorização para que 400 pessoas participassem das atividades, 40% do autorizado pelo Governo do Estado, mas optou por manter a ordem do decreto anterior, que permitia apenas 30% do público total. Serão 40 pessoas trabalhando e 260 convites liberados para a venda.
- Estamos passando todas as informações necessárias para que as pessoas cumpram os protocolos, se sintam seguras e estejam conosco satisfeitas e felizes comemorando a Semana Farroupilha. Ainda estamos aprendendo a lidar com tudo, estamos felizes, mas ainda muito cautelosos - destaca o vice-patrão do CTG, Valmir Beltrame.
Os jantares também terão horário para terminar. O permitido pelo decreto estadual é até meia-noite, mas o CTG autorizou até 23h30min. Enquanto o público saboreia um cardápio campeiro (churrasco, costelão, carreteiro, cordeiro e risoto), shows e apresentações artísticas vão acontecer. O investimento foi em artistas locais e da casa, para evitar que grupos de fora da cidade viessem para cá.
- A ideia foi valorizar nossos artistas locais, diminuir custos e, mesmo com as restrições, proporcionar diversão depois de tanto tempo, o que é uma tradição da família Sentinela - avalia a diretora do departamento social do CTG, Adriana Stieler Bohrer.
Os peões e prendas terão a responsabilidade de zelar pela segurança de quem estiver no local durante a Semana Farroupilha. A patronagem solicitou que eles circulem pelo salão lembrando da importância do uso da máscara e do distanciamento.
- Estamos muito felizes de ver as coisas voltando ao normal, principalmente depois de um ano com o CTG parado. Vai ser complicado ficar sentada sem poder dançar, mas é necessário e é o que vai ser melhor para todos nós - garante a Para a 1ª Prenda Juvenil da 13ª RT (2021/2022), Lisa Noal Beckmann Fighera, integrante do CTG.
ESTÂNCIA DO MINUANO
A Estância do Minuano abrirá as portas para receber o público durante sete noites. Este ano, a programação seguirá os protocolos da Covid-19, visando um maior cuidado com o distanciamento entre mesas, a entrada com aferição de temperatura e o uso de máscara no local. Com a proibição da realização dos tradicionais bailes, a entidade promoverá jantares que ocorrerão a partir desta segunda-feira e terminarão no dia 19 de setembro, véspera do feriado. De acordo com o vice-presidente da Estância do Minuano, Bruno Fernandes, 38 anos, mesmo com as mudanças, a semana será de celebração.
- Receberemos a todos como sempre fizemos e que é característico da Estância do Minuano, com muita alegria e muita vontade de fazer uma festa, mesmo que um pouco diferente, por conta da pandemia. Mas uma grande festa voltada ao tradicionalismo, à cultura gaúcha e tudo que o povo esperar de nós - afirma.
Na organização das atividades da Estância do Minuano, estarão equipes compostas por associados da entidade tradicionalista. Cada noite, contará com uma equipe diferente na produção dos jantares que iniciam a partir das 19h30min. Fernandes explica que são em momentos como esse que o público pode refletir sobre a importância da retomada das atividades:
- Quando falamos em entidades tradicionalistas, lincamos isso a festas, eventos e a cultura. Mas não percebemos que existe uma cadeia econômica que se fomenta desse tipo de atividade e o quão importante é para essa cadeia poder voltar a trabalhar, produzir e mesmo de forma parcial, a ter a sua atividade e poder levar o seu sustento para casa. Nós recebemos essa volta das atividades com muita alegria. E esperamos que corra tudo bem, que as pessoas possam se manter seguras e aproveitar a festa, que é o 20 de setembro.
Com valores que variam de R$ 20 a 45, os ingressos para os jantares promovidos pela Estância do Minuano, que ocorrem de 13 a 16 de setembro, estão à venda e podem ser adquiridos na secretária da entidade tradicionalista de segunda a sexta-feira, das 13h30min às 17h30min. Crianças pagam metade do preço. A estância do Minuano está localizada na Estrada Francisco Viterbo Borges, 705, Bairro Minuano.
PARCERIA
Com a oportunidade, surge uma parceria que promete animar a todos. No local, o Piquete Junção dos Cascos trará três atrações consagradas da música tradicionalista. As atividades do grupo são motivo de felicidade para Fernandes.
- Nós temos uma parceria com o Piquete Junção dos Cascos, que estarão promovendo jantares-show no dia 17, 18 e 19 de setembro. As atrações serão Marcio Corrêa e grupo, Grupo Tchê Chaleira e também César Oliveira & Rogério Melo - comenta ele, animado.
Os ingressos para os jantares-show, que estão programados para iniciar a partir das 21h, podem ser obtidos com o próprio Piquete, pelo WhatsApp (55) 99129-2118. O lote por dia custa R$ 150, enquanto o antecipado é R$ 60. O valor para reservar uma mesa para seis pessoas é de R$ 500.
TRADIÇÃO VIVA
Durante as noites, gaúchos e gaúchas poderão optar pela tradicional indumentária, que envolve camisa, lenço, bombacha, pala, vestidos, saia de armação, entre outros itens para participar da celebração. Caso não seja possível, não haverá problema.
- Nós esperamos que todo mundo venha pilchado. Nós que somos tradicionalistas e que gostamos disso. Mas, isso não quer dizer que quem não esteja pilchado, não será bem recebido. Será muito bem recebido sim nos eventos da Estância do Minuano - relembra o vice-presidente.
Com a pandemia, muitos empreendimentos e espaços culturais tiveram que fechar as portas, como foi o caso do Restaurante da Estância do Minuano. O vice-presidente da entidade lamenta o ocorrido, mas mantem a esperança em dias melhores.
- Fomos muito afetados como diversos segmentos que dependem de eventos para acontecer. Os eventos pararam e nos acabamos sendo extremamente atingidos, economicamente. Ao ponto do próprio restaurante da Estância do Minuano fechar. Nós não temos um restaurante hoje aqui em função da pandemia e do que aconteceu com a atividade econômica. Mas, esperamos que com a retomada das atividades em um aspecto normal, possamos colocar um outro restaurante e restabelecer novos eventos - conclui Fernandes.
ENTIDADES SE ADAPTARAM
Boa parte das patronagens dos CTGs da cidade aguardava o decreto liberando atividades. Mesmo assim, quando divulgadas as regras para receber o público neste ano, as agendas foram revisadas e, em alguns casos, foram até mesmo adaptadas.
- Estávamos otimistas com a possibilidade da liberação, mas começamos a preparar a programação depois da publicação do decreto - disse Tainá Marafiga Nichelle, do DTG Noite de Ronda.
Assim como o Noite de Ronda, outras entidades tradicionalistas vão receber, depois de um ano somente com programação por lives e refeições para pegar e levar, o público. Como diz o decreto, o número de público é limitado, e, não será neste setembro que todos CTGs que se organizam para celebrar os festejos farroupilhas ainda poderão ver o salão lotado. Ainda assim, os patrões e patroas das entidades se dizem felizes em poder organizar as atividades. Para resolver a questão de limite de público, vários locais estão trabalhando com venda antecipada de ingressos ou reservas pelo WhatsApp.
- Vamos ter todos os protocolos de higiene, como distanciamento, uso obrigatório de máscara, álcool em gel e luvas em plástico para as pessoas se servirem. O bom é que vamos poder fazer jantar, mesmo com as restrições. Os sócios receberam a programação com muita alegria e felicidade. A Semana Farroupilha é bem tradicional no Tênis Clube e o pessoal espera muito por isso. Vai ser uma semana farroupilha interessantes, mesmo com as restrições - disse a patroa, Ieda dos Santos Jardim.
No CPF Piá do Sul, a programação foi organizada para atender as regras:
- Tivemos que adaptar, não serão jantares grandes por conta dos protocolos, as mesas estarão todas distanciadas. Mas é uma alternativa para trazer o pessoal de volta para o CTG, que todos estão com muita saudade - disse José Mario de Bem, patrão.
Existem entidades que ainda optaram por não fazer programação, como é o caso do DT Querência das Dores ou Querência da Medianeira, que até o fechamento da reportagem não tinha anunciado eventos além da recepção da chama crioula. O CTG Vitor Mario, por tradicionalimente receber muitos idosos, optou por não fazer jantares ou almoços neste ano. Outras entidades ainda pretendem manter atividade por lives, como o DTEC Marcas do Pampa.
Seja por decisão incentivada à proteção da Covid-19 ou por falta de recursos, a Semana Farroupilha deste ano ainda está longe do normal. Parte das entidades, ao invés de uma semana cheia de atividades, terão limitações na agenda. Um exemplo disso é o CTG Sepé Tiaraju, que terá um almoço e uma janta durante a semana, segundo Marcírio Vargas Fernandes, patrão da entidade.
ITINERANTE
Também há entidades que vão mudar o formato, mas não deixarão de cultuar as tradições. É o caso do Centro de Tradições Folclóricas Alma Gaúcha. Como a entidade está sem alvará e ainda tenta reunir recursos para investir em uma sede física, a patronagem organiza uma "Semana Folclórica Itinerante". A patroa, Celita Silva, explica que a ideia é que uma família recebesse a chama crioula no sábado e a levasse até o Colégio Estadual Tancredo Neves na segunda-feira, onde ficará até quarta. Depois, outras famílias se encarregam receber a chama e de distribuí-la a outras escolas.
*Colaboraram Gabriela Perufo, Laura Gomes e Victoria Debortoli