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Eduardo Ramos
Com a chegada do novo ano começa uma fase muito importante do processo de fabricação de vinhos e espumantes: a chegada da principal matéria-prima, a uva, aos fabricantes. No Coração do Rio Grande, mesmo com as condições climáticas pouco favoráveis, a expectativa para a safra de 2023 na vinícola Velho Amâncio é positiva. A engenheira Agrônoma, doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, enóloga e viticultora Aline Fogaça, de 41 anos, representa a quarta geração da vinícola, localizada em Itaara. Ao todo, são cinco hectares responsáveis pela produção de 30 a 40 mil litros de vinho — tinto e espumante — por ano. O total planejado para este ano é a produção de 35.000 litros. Aline assume a responsabilidade da elaboração dos vinhos e destaca a importância desta etapa para que o resultado seja satisfatório.
— A colheita é um dos dias mais importantes para nós, porque esse ponto aqui que define as características do vinho escolhido. Se estivéssemos iniciado uma semana antes, teríamos um vinho diferente. Hoje, o meu desafio é entender essas uvas produzidas aqui na região e também como elaborar o melhor vinho a partir dessas características, que a gente não encontra em outras regiões.
De origem portuguesa, a história da família começou há mais de 100 anos, ainda no século XIX, quando Amâncio Pires de Arruda chegou em Santa Maria e dedicou-se a produção de cachaça por duas décadas. O neto, Rubens Arruda Fogaça, foi o responsável por iniciar a elaboração de vinhos em 1986, e desde então vem sendo aprimorada na propriedade, que vende vinhos e espumantes presencialmente e online.
A força-tarefa da colheita exige muita paciência. Ao todo, são cinco funcionários em campo trabalhando com as uvas Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Malbec e Merlot. Após 10 anos na parte administrativa da vinícola, Tássia Silveira, de 36 anos, está há 4 anos integrando a equipe responsável pela colheita e poda seca — processo feito no inverno para melhorar a qualidade da uva.
— Não se faz vinho bom de uva ruim, é a regra, o início de tudo — brinca Tássia.
— Gosto bastante de acompanhar, é bom ver que todo o nosso esforço acaba compensando porque a gente vê que as plantas estão produzindo muito mais, o vinho fica melhor. Todo esse cuidado é especial e acaba valendo a pena, mesmo com esse calor, é muito gratificante — explica ela.
O tempo seco não é inimigo da viticultura
Para os viticultores, a estiagem não oferece prejuízos porque com o aumento dos raios solares, a quantidade de açúcares contidos na uva também aumenta, e assim, a acidez real (pH) e a acidez total diminuem, deixando a fruta ainda mais doce. Em 2023, Aline calcula a diminuição de cerca de 20% dos vinhedos devido à primavera de temperaturas baixas e que coincidiu com o período de floração dos vinhedos.
— A gente sofre bem menos com a estiagem, ela faz com que as uvas tenham uma excelente qualidade. A gente precisa desse clima seco para que ela continue no campo pegando sol e chegue em num ponto de maturação bacana do tanino, da semente, do açúcar — explica.
Processo pós-colheita
Para o vinho chegar à mesa, o caminho é longo e muito interessante. Assim que as uvas chegam na vinícola, as frutas são colocadas em uma câmara fria e depois em uma máquina que, de maneira sutil, separa os elementos da fruta sem precisar esmagar as cascas e os grãos. Logo depois, é feito o processo para separar as cascas e sementes do suco e, finalmente, a etapa onde tudo acontece: a fermentação: em tanques de aço ou barris de carvalho, as leveduras se alimentam do açúcar natural que tem no suco das uvas e transforma em álcool e dióxido de carbono.
Depois disso, o vinho é transferido de um tanque para outro, onde são feitos processos para a clarificação e estabilização do vinho até que ele esteja finalmente pronto para a fase de amadurecimento, que pode ser feito em tanques de aço ou barris de carvalho. Após todas as etapas, os vinhos são engarrafados e deixados em repouso na vinícola até poderem ser comercializados — período que pode durar dias, semanas, meses ou anos.
Vale Central Gaúcho
A vinícola Velho Amâncio é um dos microvales que integra o Vale Central Gaúcho e abrange Santa Maria, Itaara e outras cidades do entorno. Conhecida por sua geografia característica, apresenta uma transição abrupta de relevo e vegetação, sendo o final da encosta da Serra Geral e o início do Pampa Gaúcho, proporcionando lindas paisagens com vales, montes e mata atlântica.
O Vale Central possui uma associação de vitivinicultores nomeada de Vinhos do Coração do Rio Grande, que é formada pelas vinícolas: Dom Robertto, Velho Amâncio, Dalla Corte, Quinta do Gama, Toka, Adega Torri e Domus Mea.
Para Wesley Lacerda, proprietário da Vinícola Domus Mea, em São João do Polêsine, conta que os últimos dois anos foram muito bons para a vinícola, que colheu cerca de sete toneladas de uva por hectare.
— A gente está prezando para pegar essa uva maravilhosa e fazer vinhos, elevando ainda mais a qualidade. Essa é a característica da nossa mineralidade, do nosso central, que para nós da Domus Mea é muito presente, essa mineralidade chega a dar um tom quase salgado pro nosso espumante. A gente tá esperando uma safra para 2023, lançada nos anos seguintes, que vai ser possivelmente uma das melhores da história da vinícola — afirma.
Para Aline, a perspectiva para os próximos anos é positiva. Ela explica que a intenção do grupo é ressaltar as características marcantes dos vinhos produzidos na região e, no longo prazo, identificar isso por meio de um selo de qualidade e procedência das bebidas produzidas aqui.