Coluna Sociedade

Todos somos um

Numa perspectiva restrita e densa, somos todos diferentes e separados uns dos outros: indivíduos, espécies e reinos (mineral, vegetal e animal). Mas, numa perspectiva mais ampla e sutil – e, portanto, mais "verdadeira e real" –, somos todos uma única coisa, feitos dos mesmos elementos e substâncias, apenas exercendo funções e vivendo experiências distintas.

Uma analogia que ajuda a entender isso é pensar no nosso próprio corpo físico. Afinal, o que somos nós senão a soma de um monte de outros seres vivos? Ou você acha que sob a perspectiva da célula ela não se considera um ser diferente e separado dos outros, inclusive das outras células?

Foto: Divulgação Pixabay / Divulgação

Este saber básico está na raiz das grandes culturas, filosofias e religiões orientais, como é o caso do Yoga e taoísmo. Contudo, hábitos e saberes fundados na ignorância ocultaram esta realidade maior. Tanto é que, para Buda "o conflito não é entre o bem e o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância". O mesmo disse o grego Sócrates e tantos outros.

Herdamos culturas equivocadas e, sem conseguir ver direito, seguimos reproduzindo pensamentos e ações danosos a nós mesmos, ao nosso habitat, e aos outros seres que, conosco, formam a unidade cósmica. Exemplo disso é o hábito de consumirmos carne, tão em alta neste mês de setembro aqui no nosso Estado.

 Ainda que conscientemente gostaríamos de poder evitar, inevitavelmente matamos muitos seres vivos por dia com nossa respiração, digestão e o próprio caminhar. Isto é da natureza. O que não é da natureza é matarmos – direta ou indiretamente – seres vivos sem qualquer necessidade para tanto.

Matar ou ser conivente com tais mortes apenas porque seguimos fieis à ignorância:
a) ou porque não buscamos vencer nossas compulsões, tais como a gula, por puro comodismo, desconhecimento e/ou falta de vontade de tentar saber que aspecto da nossa psique e história tal vício está anestesiando e escondendo;
b) ou porque não buscamos nos informar sobre o assunto. E não faltam dados sobre os danos à nossa saúde, ao meio ambiente, à vida em sociedade – já que sustenta a fome global e reforça nossos instintos violentos –, e, claro, sobre as atrocidades que são cometidas pela indústria da carne.

Também já tive um manto sobre os meus olhos. Os desafios da vida pessoal e social, com pouco ou nenhum tempo sequer para pensar em mim e, consequentemente, revoltas e vitimismos mil, não deixavam margem para querer saber do outro, especialmente se isto implicasse ainda mais trabalho e algum tipo de sofrimento para mim: mudar hábitos alimentares, comprar algumas "brigas" com família e amigos e enfrentar minha gula ou "passar vontade" e até fome em algumas refeições.

Mas meus olhos começaram a se abrir e decidi virar vegetariana quando compartilhei o sofrimento das pessoas com falta de água no nordeste brasileiro e comecei a me relacionar com o meu atual companheiro, já vegetariano. Decidi virar vegana e como estratégia para vencer a gula assisti A carne é fraca. Para quem é sensível como eu, a primeira metade do filme traz argumentos científicos irrecusáveis, mas é o restante do filme que dá o golpe fatal em nossa preguiça ou comodismo com a surreal e cruel realidade das torturas a que são submetidos todos os animais que se consome.

Por vezes, ainda sucumbo à tentação por algum doce que tenha ovo ou leite. Cada um de nós tem os seus desafios, o seu caminho e o seu ritmo. Então, busco não me culpar e principalmente respeitar a todos – vegetarianos, veganos e carnívoros/onívoros.

Mesmo assim, com toda compreensão e compaixão pelo processo de cada ser humano, tenho me tornado agora uma ativista porque quero que todos melhorem suas vidas como a minha melhorou sem o consumo (ao menos) da carne: maior saúde física, emocional e mental. Como disse o Prof. Hermógenes: "No dia em que me tornei vegetariano, passei a poupar dois animais [o animal do meu jantar, e a mim]!".

Quero que todos os meus irmãos e irmãs – humanos ou não – vivam o máximo da sua potência e da melhor forma possível, mais digna, mais saudável e feliz. E quero isto não só por altruísmo, mas, também, por um certo egoísmo, já que, na perspectiva que acredito, sendo todos um, a felicidade de cada ser necessariamente também  reflete na de todos os outros. Bem para além de todo e qualquer separatismo, seja o do gaúcho, o do ser humano, o do carnívoro/onívoro e inclusive também o do vegetariano, que possamos nos enxergar cada vez mais como um único ser vivo e possamos nos ajudar a revelar o ser divino que habita em nós na forma da nossa potência e felicidade. Namastê!

Observação: A quem teme não ter opções de comer bem e deliciosamente, há as excelentes e queridíssimas opção do Los Pofi (Santa Maria) e Mundo Vivo (Júlio de Castilhos, junto ao mágico Jardim das Esculturas). Com alimentos não exclusivamente vegetarianos, mas com muitas opções, há os restaurantes Fest e Astro Verde. Fora a galera linda que, autonomamente, tem vendido seus produtos de modo mais informal pela internet.

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