Coluna Sociedade

Sofrimento: uma questão de escolha?

Não me diga que você não sofre. Eu estou começando a aprender a lidar melhor com a vida, mas até bem pouquinho tempo atrás, eu sofria um pouco – ou muito, a cada santo ou infeliz dia. O sofrimento está sempre ali, à espreita, cheio de disposição para ocupar espaço em nossas vidas caso deixemos qualquer pequena brecha para ele entrar. Eu disse: deixemos!

Porque, sim; o sofrimento é responsabilidade nossa. Da dor somos vítimas, mas não do sofrimento. Dor por uma doença, dor pela perda de um amor, dor pela morte de alguém de quem gostamos, dor por uma notícia triste. Não temos como evitar muitas das coisas que nos acontecem e, por isso, sentimos e sentiremos dores. Mas tornar a dor um sofrimento é uma escolha.

Foto: pixabay / Pixabay

Na verdade, talvez sejam três as principais causas do sofrimento. 

A primeira é a não presença. É o estar no passado ou no futuro, e não no agora. Grande parte das vezes estamos sofrendo com o que nos aconteceu no passado ou com o que imaginamos que acontecerá no futuro, enquanto que, no momento presente, estamos com saúde, família, trabalho, amor... tudo relativamente em paz e ordem.

Uma segunda grande causa do sofrimento são os desejos e expectativas que criamos. Gerar expectativa sobre algo ou especialmente alguém raramente produz bons resultados. Porque ou deixamos de nos surpreender positivamente ou nos frustramos.

E uma terceira e frequente causa do sofrimento é o vício que nele desenvolvemos. Viciados inclusive quimicamente na sensação ou naquele padrão de comportamento, sofremos por nenhum motivo que consigamos objetivamente identificar ou por razões que nos convencemos existirem: desentendimento com companheiro(a), coisas a fazer, rotina cansativa e até o clima.

Sem dúvida que, frequentemente, deparamos com a necessidade de termos de realizar mudanças nas nossas vidas (aliás, dias atrás participei da 1ª Roda de Conversa com a mais que especial Família Cosmos em que o bate-papo foi exatamente sobre mudanças!).

E o sofrimento é o dispositivo que nos ajuda nisso. É o que nos alerta que nos desviamos um pouco (ou muito) do caminho. Mas, também nesse caso, podemos, com autoconhecimento e consequente discernimento, identificar e realizar as mudanças necessárias, parando de sofrer. Assim, o que de início surgiu como sofrimento se converteu em aprendizado e crescimento.

Paradoxalmente, porém, conseguir escolher estar (e ficar) presente, não criar expectativas, não se viciar no sofrimento e reconhecer que mudanças precisam ser feitas e como não são questões simples de escolha, já que crescemos e adentramos na vida adulta desvinculando-nos da nossa natureza e espontaneidade, perdendo nossa capacidade de perceber por onde e o que anda fazendo a nossa mente.

Por trás da aparente simplicidade de como propus a nossa autoresponsabilidade diante do sofrimento, o autoconhecimento necessário depende de estudos, prática e/ou ajuda psicológica – com psicólogos, psiquiatras ou terapeutas alternativos.

Se apropriar da própria vida, libertando-se das inconsciências que nos fazem sofrer valem o investimento de ao menos amor e tempo. E se começar a sofrer por falta de tempo, lembre que há aí uma mudança pedindo pra ser feita. Seria das suas prioridades?

 

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