Síndrome torna crianças e adultos insatisfeitos com tudo

A Síndrome do Parque de Diversões _ aquela que a criança está sempre olhando para o próximo brinquedo, nunca para a atração em que está _ é cada vez mais comum e pode atrapalhar (muito) a vida.

Quando lançaram I Can't Get No, Satisfaction (em bom português "eu não consigo ficar satisfeito"), em 1965, Mick Jagger e Keith Richards não faziam ideia de que não ficar satisfeito com nada seria um dos problemas do novo século. Quase 50 anos depois do lançamento do single que transformou os Rolling Stones em uma das maiores bandas da história, a Síndrome do Parque de Diversões atinge crianças, jovens e adultos.

Atire a primeira pedra quem nunca ficou inquieto ao ler um livro ou assistir a um filme, com a cabeça no próximo. Ou viajou para um país pensando em outro. Cada vez mais somos incapazes de aproveitar o momento, o que está ali, diante dos olhos. O carpe diem (colha o dia), do poeta romano Horácio Flaco, é um conceito cada vez mais em desuso.

A doutora em psicologia de São Paulo Ana Lúcia Ivatiuk afirma que a sociedade vive num período de estimulação excessiva, e as pessoas buscam aproveitar o máximo de tudo _ e agora. E isso nem sempre é possível.

_ Desde criança, queremos mais e mais e na hora. Não esperamos o momento certo, o que gera ansiedade.
O "Parque de Diversões" pode ultrapassar a infância e trazer problemas mais tarde.
_ As crianças que têm tudo e na hora que querem estão mais suscetíveis a se tornarem eternas insatisfeitas. Para que isso não ocorra, tem de haver o exemplo dentro da família. Dependendo da idade, a criança aprende muito mais com exemplos do que com palavras. Juntamente ao exemplo, é necessário impor limites. Qual criança não gostaria de ter todos os brinquedos que seus amiguinhos têm? Ou todos os que aparecem na mídia? _ questiona a psicóloga de Santa Maria Fernanda Beltrame, uma das 20 blogueiras do Em Nome do Filho, no site do Diário.

Fernanda tranquiliza os pais. Segundo ela, a criança ser suscetível ou não a essa síndrome vai depender muito de como são a cultura consumista e os limites da família.
_ O estímulo externo sempre vai haver. A grande e determinante questão é como os pais irão lidar com eles _ afirma a profissional.

Síndrome tem reflexos no trabalho e relacionamentos

Segundo a especialista de São Paulo, os reflexos podem se estender aos relacionamentos adultos.
_ As pessoas estão em busca do que é mais fácil, do prazer imediato. É aquela coisa do 'disponível hoje, amanhã talvez não'. E muitos relacionamentos exigem tempo _ Ana lúcia.

O mesmo ocorre com o trabalho. A psicóloga conta que profissionais perdem ótimas oportunidades simplesmente pelo fato de não estarem satisfeitos, não saberem esperar.

"Não está bom, vou partir para a próxima" e "não gosto do que faço" são exemplos de imediatismos perigosos.
No quadro ao lado, duas dicas da profissional de Santa Maria de como evitar ou amenizar a insatisfação ainda na infância.

Como evitar
Impôr limites e dar exemplos
_ Não adianta querer que a criança permaneça focada no brinquedo novo, que ganhou há pouquíssimo tempo, se pai e mãe trocam de aparelho celular há cada 6 meses, por exemplo. A criança percebe aquele movimento de troca, aquela ansiedade pelo aparelho mais moderno e acaba alimentando seus desejos. Na cabeça da criança, se pai e mãe podem almejar sempre o novo, por que ela não pode também?

Conversar
_ Os pais devem conversar com a criança (de acordo com sua faixa etária) e explicar que talvez no aniversário ou no Natal ela poderá ganhar tal brinquedo. Mas que é necessário que ela espere até a data e, talvez, ela pode até mudar de ideia até lá. É importante que a criança não ganhe presentes toda hora. O fator de limitar o que ela quer a data especiais já começa a ensiná-la a esperar, a valorizar esse tempo e o que foi ganhado, pois ela teve de esperar determinado tempo pa"