Sem projeto de revitalização, Parque da Jockey está vandalizado, inseguro e ocupado por moradias irregulares

Eduarda Costa

Sem projeto de revitalização, Parque da Jockey está vandalizado, inseguro e ocupado por moradias irregulares

Na primeira imagem, a condição do prédio em 2015. Na segunda, situação atual. Arraste para o lado para ver o antes e depois.

As corridas de cavalos que movimentaram por 50 anos o Jockey Club na primeira metade do século 20 deram lugar ao vandalismo e ao descaso nos dias atuais. O espaço chegou a receber investimentos a partir de 2012, quando foi desapropriado. No entanto, nos últimos anos, a comunidade próxima ao local reclama de barulho, descaso, insegurança e até de moradores que ocuparam parte dos 22 hectares do Jockey.

Localizado no Bairro Juscelino Kubitschek, o Parque da Jockey foi desapropriamento há 10 anos devido a um histórico de dívidas da administração com a prefeitura municipal. Somente no ano seguinte, o local se tornou um parque municipal por meio de um decreto. O último evento oficial com presença da comunidade no Jockey ocorreu em 2016, durante o Festival Internacional de Balonismo.

Ao fundo, as casas em madeira construídas no espaço do Jockey

No momento, cerca de 10 moradias irregulares foram instaladas no local. O secretário municipal de Habitação, Juliano Soares, afirmou que está ciente da ocupação indevida, e que notificou a secretaria de Administração e Gestão de Pessoas, zeladora da área:

— A gente contatou a Secretaria de Gestão, porque nós não temos esse poder de notificar. Então é do nosso conhecimento, mas passamos para os órgãos competentes — relata o secretário.

A Prefeitura é conhecedora da situação dessas famílias e acompanha essa ocupação no local. Quando a notícia da instalação dessas famílias chegou a conhecimento da Prefeitura, imediatamente o setor de Fiscalização procedeu a notificação aos integrantes para que desocupassem a área pública. No entanto, até o presente momento, a ordem não foi cumprida. Nesse sentido, o Município ingressou, em 17/03/2022, com ação de reintegração de posse a fim de que seja preservada a área pública para implantação de futuro projeto de interesse público. Essa situação está sendo tratada e acompanhada pela Secretaria de Administração e Gestão de Pessoas, Procuradoria Geral do Município e Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária.

Situação do espaço

A parte interna do espaço que era ocupado para transmissão das corridas

No local onde funcionaram as cabines de transmissão restaram apenas as ruínas. O telhado e as aberturas de portas e janelas já foram danificadas pelo tempo e pelo vandalismo. As paredes foram tomadas por pichações e grafites. No teto do andar inferior, são visíveis manchas de limo e mofo causadas pela exposição ao tempo. Da iluminação, só restaram os fios pendurados. O chão tem grama baixa, e na área interna entulhos de telhas e tijolos tomam conta do local.

Moradores relatam que, à noite, o espaço recebe grande número de pessoas, que chegam em motocicletas ou a pé para fazer uso de bebidas alcoólicas e substâncias ilícitas. Os resquícios ficam espalhados pelo chão do gramado e da edificação: são garrafas de bebidas, latas, copos, embalagens de preservativo e carteiras de cigarro.

Ao fundo, na parte esquerda, é possível ver dois cavalos pastando no gramado

A pista de corrida de cavalos já foi parcialmente tomada pela grama, e se perde no vasto gramado. Apenas em alguns pontos, com alagamentos, é possível ver a cor da terra que percorriam os animais em alta velocidade. A presença deles ainda existe, mas de propriedade dos moradores, e ficam soltos pastando.

Da quadra esportiva construída em 2012, na primeira fase do projeto de recuperação da área, restou apenas a estrutura do piso. O restante como redes e arcos, segundo os moradores, foram levados pelas pessoas. Outra reclamação é o descarte ilegal de lixo, que ocorre em partes de mata mais fechada do Jockey.

O descaso torna o lugar inseguro aos moradores, que relatam que serviços de motoristas terceirizados e entregadores evitam circular na área pela noite por conta do perigo. André Silva de Oliveira, 39, morador do bairro há 21 anos, conta como é a rotina:

— Os entregadores não querem mais vir aqui, porque é muito perigoso. E o movimento é toda noite, carros, motos e carroças entrando e saindo correndo. Eles tiraram os caras que corriam a cavalo aqui do Jockey porque tava abandonado, mas era mil vezes melhor deixar eles do que do jeito que está agora. Nada foi feito, roubaram até as pedras, as cercas, todo o dinheiro que foi colocado e investido aqui, não está mais, levaram tudo.

Uma pichação na entrada do Jockey, assinada pelos moradores.

De projetos não efetivados ao futuro do Jockey

Desde 2013, o Parque do Jockey acumula planos e ideias que não foram efetivas ou apenas parcialmente. No governo Cezar Schirmer (MDB), foi aplicada a primeira fase de um projeto orçado em R$ 2 milhões, em que parte do recurso foi usado para construção de uma quadra esportiva, pórtico de entrada, melhorias da estrutura física e parte do calçamento, entre outras iniciativas.

Conforme a prefeitura de Santa Maria, a gestão Jorge Pozzobom (PSDB) já cogitou a construção de um estádio para o Inter de Santa Maria e de um centro de treinamento para os Bombeiros. Por último, a ideia era construir um espaço de treinamento para adolescentes e crianças, para formação de atletas de alto rendimento. Mas nenhuma delas teve andamento.

A prefeitura informou que busca alternativas para a área, e que existe uma solicitação pendente junto ao Ministério da Cidadania. Uma alternativa também seria uma parceria público privada, mas nenhuma delas com prazos para serem efetivadas.

Eduarda Costa, [email protected]

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