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Santa-marienses contam como está o retorno às aulas e outras atividades pelo mundo

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style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Divulgação (Arquivo Pessoal)
Um registro feito por Ivory em um dos horários de pico da cidade de Shenzen

Os governos têm lidado de formas diferentes com o enfrentamento da pandemia. Há também diferentes fases de controle da epidemia, que merecem a adoção de medidas mais frouxas ou rígidas, conforme os números de óbitos e contaminação.  

Para contar sobre os desafios de habitantes de outros países, o Diário conversou com santa-marienses que vivem na Austrália, Itália, Portugal, Canadá, Estados Unidos e China durante o período de isolamento social. Confira, a seguir, o momento da pandemia na perspectiva de quatro santa-marienses nesses países.

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AUSTRÁLIA e ITÁLIA

Nascida em Santa Maria, desde 2016 Raíssa Ache Dias (foto ao lado), 28 anos, trabalhava como professora de tênis, musicista e professora de yoga em Gold Coast, no estado de Queensland, na Austrália. No final de setembro mudou-se para Milão, na Itália. 

Na Austrália, onde vivenciou a pandemia na maior parte do tempo, a situação do vírus é considerada controlada. Raissa conta que em Queensland o uso de máscara não era raro, por conta dos poucos casos:

- Acredito ter visto cinco pessoas usando apenas.

Como dá aulas particulares, a santa-mariense não viu a rotina ser alterada. Somente a carreira artística teve uma pausa:

- As gigs (shows) que fazíamos com frequência diminuíram e o sonho de "viver de música" está aguardando agora com a esperança de voltarmos as grandes festas e festivais.

Em função da densidade demográfica e pelo fato de não fazer fronteira com outros países, Raíssa acredita ser mais fácil para as autoridades traçar ações de controle da pandemia na Austrália. Além do fechamento das fronteiras entre estados, o país proibiu eventos com mais de 10 pessoas e restringiu regras para abertura de bares e restaurantes, por exemplo.

Na Itália, segundo ela, as medidas são mais parecidas com o Brasil e há um recente temor por conta do aumento dos casos:

- Aqui todo mundo usa máscara, alguns lugares estão fechados, mas o resto voltou ao normal, com os devidos cuidados. Com o aumento de pessoas contaminadas, em alguns países da Europa já estão cogitando mais um lock down - explica.

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PORTUGAL

Em Portugal, as crianças começaram o ano letivo no dia 16 de setembro. A data coincidiu com o retorno das aulas presenciais. A turismóloga santa-mariense Lidiane Ribas (foto ao lado), 36 anos, saiu de Santa Maria, onde trabalhava como servidora pública, há pouco mais de um ano. Mora em Quarteira, no Algarve, região turística de Portugal com o marido, Rafael, 36 anos, e os filhos, Rafaella, 6 anos, e Bernardo, 3. Desde que chegou, Lidiane não trabalhou na cidade, em parte por que, em março, quando as escolas fecharam, resolveu ficar em casa para cuidar dos filhos.

Setembro o fim do verão no hemisfério norte, que, segundo a santa-mariense, foi de muito movimento de turistas e nativos na região. Restaurantes, shoppings, cinemas, teatros e lojas já reabriram, com limite de pessoas e regras de distanciamento. A única proibição que persiste é quanto a torcedores nos estádios esportivos.

- Ontem saímos para dar uma volta na Marina de Vilamoura, uma rua cheia de bares e restaurantes, e estava lotada. Havia muita gente - contou Lidiane à reportagem, no dia 26 de agosto.

Na região, o governo não determinou obrigatoriedade do uso da proteção facial ao ar livre. A realidade é bem diferente de meses atrás, quando o governo decretou regras rígidas à população.

- No começo foi mais difícil, pois não podíamos sair de casa para lugar algum, tivemos uma quarentena bem severa. Agora já podemos voltar a vida normalmente - relata a turismóloga.

A escola de Bernardo e Rafaella é pública. A instituição elaborou um plano de contingência de 80 páginas para receber os estudantes. Entre as medidas estão a criação de salas de isolamento para alunos e profissionais com sinais da doença durante a permanência na escola. As regras de higiene também são rígidas com várias limpezas das mesas e objetos durante o dia, por exemplo. Outra curiosidade é que só é obrigatório o uso de máscara a partir dos 10 anos de idade.

- Até a pré-escola, a exemplo da turma do Bernardo, eles usam uma bata que fica na escola e são obrigados a deixar na escola, assim como um calçado. É que tem uma salinha de desinfecção que eles passam antes de ingressar na escola - explica Lidiane.

Cada turma tem um horário de intervalo diferente e, se houver um caso suspeito, o aluno deixa de ir à escola e as aulas continuam normalmente. Se houver mais de um caso de aluno com suspeita, as aulas daquela turma são suspensas até que não haja mais nenhum caso.

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CANADÁ

O administrador de empresas Luciano Castegnaro Mai (foto ao lado), 46 anos, mora com a esposa, a massoterapeuta e personal trainer Carla Giotto Mai, 45 anos, e os filhos Alice, de 15 anos, e Arthur, de 12 anos, em Notre-Dame-De-l'Île-Perrot, na grande Montreal, na província de Québec, Canadá, desde janeiro de 2018. Por lá, o fechamento dos serviços começou antes do Brasil e chegaram a ser retomados em agosto, nos últimos dias do verão. Em um lugar onde as temperaturas de inverno são rigorosas, a estação levou mais pessoas às ruas e fez crescer o número de novos casos da doença por dia. 

Desde 30 de setembro, a região está sob as regras do alerta vermelho, com um bloqueio semelhante ao início da pandemia. Reuniões particulares em residências estão proibidas e prestadores de serviços como babá, encanadores, eletricistas podem entrar nas casas um por vez.

O primeiro ministro do Quebec, François Legault declarou à imprensa que as escolas não fechariam pois o risco para a saúde mental das crianças seria maior. No entanto, bares, restaurantes e espaços de entretenimento foram obrigados a fechar as portas em 1º de outubro, o que deve permanecer até o dia 28. Estes estabelecimentos têm permissão para trabalhar com os sistemas pegue e leve e delivery.

Assim como no Brasil, o uso da máscara é obrigatório em ambientes fechados por lá. Em toda a província do Québec, com cerca de 4,4 milhões de habitantes, o número de testes diários já chegou a mais de 18 mil.

Arthur e Alice retornaram às aulas presenciais na primeira semana de setembro. Sobre isso, o administrador de empresas confessa:

- Fica sempre uma apreensão, sem dúvida, mas têm tantas medidas preventivas, e eles mesmos estão super conscientes dos cuidados que temos de ter.

A empresa em que Luciano trabalha determinou que a maioria dos funcionários trabalhasse de casa, mesmo antes das medidas restritivas impostas pelas autoridades locais. O santa-mariense revela que o fato de ter um emprego é um fato a ser comemorado no mundo inteiro:

- O que assusta muito agora é ver a quantidade de placas de aluguel em salas de empresas que fecharam. A gente sabe também que muitas pessoas foram demitidas - conta.

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ESTADOS UNIDOS

Com a chegada do outono, Nova York vive uma nova fase de enfrentamento da pandemia. Na cidade mais populosa dos Estados Unidos, Tânia Inês Ferigolo (foto ao lado), 59 anos, formada em Zootecnia pela UFSM, é uma das pessoas que testemunha o trânsito voltando ao caos típico da metrópole, os restaurantes prestes a receber clientes nos ambientes internos, entre outras transformações.

Tânia é house manager, uma espécie de secretária pessoal que executa tarefas de administração de uma residência, como pagamento de contas, contratação de profissional para fazer consertos, entre outros serviços. O marido dela, o argelino Abdelmajid Ouldamar (foto ao lado), 53 anos, trabalha como engenheiro na Universidade de Nova York, e dá aulas em uma faculdade.

Por lá, as aulas no ensino superior estão começando a ser retomadas para alguns grupos. Em poucos dias de retorno, segundo Tânia, algumas universidades já registraram casos de covid-19 em cerca de 2% dos alunos e funcionários. A testagem com funcionários da instituição onde o marido trabalha tem sido feita a cada 15 dias.

No país norte-americano, cada estado define as suas regras. Em Nova York, onde Tânia mora há 20 anos, o uso de máscara é obrigatório em ambiente fechados. É possível que os fiscais apliquem multa a quem se recusar a usar.

Os restaurantes foram mantidos abertos durante o verão com permissão de serviço de delivery ou consumo das refeições em ambiente externo. Com a chegada do frio, o governo autorizou que os estabelecimentos recebam até 25% da capacidade de público, o que vem provocando protestos dos empresários, que acreditam que não conseguem se manter nessas condições.

Tânia, como boa parte dos nova-iorquinos e imigrantes de todas as partes, têm optado pelo transporte de carro para se deslocar ao trabalho. Em alguns empregos, esta é uma exigência dos empregadores para que os empregados evitem transporte público, onde o risco de contaminação é maior.

- A ponte de Queensboro, um trecho que eu levaria 5 minutos para atravessar, tenho demorado até 45 minutos. Os estacionamentos estão dando descontos por aqui, o que aumenta a circulação de carros. O trânsito está parado nos horários de pico - conta.

O que mais marcou a lembrança da brasileira foi o som das ambulâncias que preencheram os vazios da cidade durante período de maior isolamento:

- Aqui ficou parada a cidade toda, tivemos um período de lockdown, em que ninguém podia sair na rua depois das 20h. A quantidade de ambulâncias circulando na cidade a noite inteira, o dia inteiro, e o número elevado de caminhões frigoríficos funcionando como mortuários em frente aos hospitais chamavam atenção - conta.


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CHINA

Na China, primeiro epicentro da doença, o santa-mariense Ivory Souza Junior (foto ao lado), 34 anos, vive dias de vida "normal" em Shenzen, no Sul da China. A cidade fica a cerca de mil quilômetros de Wuhan, onde foi registrado o primeiro caso da covid-19. 

Aulas presenciais, bares, restaurantes, eventos esportivos, entre outras atividades já funcionam em Shenzen, tudo seguindo uma norma padrão: a obrigatoriedade do uso de máscara. Por lá, o número de casos chegou a zero e permaneceu por vários meses. Novos casos que surgem são sempre importados de outros lugares.

- Quando isso acontece, as autoridades fazem um mutirão para testar todos que tiveram contato com os infectados e deixam muitas pessoas em quarentena, fazendo testes periódicos - conta Ivory.

Formado em Relações Públicas pela UFSM, Ivory trabalha na área de marketing e vendas de uma empresa de biotecnologia. Segundo ele, a economia já funciona a todo vapor. A única dificuldade é que as empresas que dependem do mercado estrangeiro, em países em que a doença não foi controlada, enfrentam problemas de logística.

A cidade ficou cerca de dois meses em isolamento total. Ivory estava em férias no Brasil na época, entre o final de janeiro e início de março. Quando retornou à China, as regras já estavam mais brandas, mas continuava sendo proibido, por exemplo, receber visitas em casa. Nos condomínios só era permitida a entrada de quem tivesse um cartão comprovando que era morador.

Além do cumprimento do isolamento, a China conta com sistemas de controle baseados em tecnologia. O transporte público, por exemplo, possui códigos em QR Code nos pontos de embarque de metrô, ônibus e táxi. Ao escanear os códigos pelo celular, o usuário permite que o governo tenha registros do horário, local e tipo de transporte que ele utilizou. Assim, se alguém contaminado passar por determinado trecho, todas as pessoas que cruzaram com o usuário infectado recebem mensagem, sendo orientadas a ficarem em casa por 14 dias, e são testadas.

Além disso, o controle de cidadãos que ingressam no país é rígido. Ivory ficou 14 dias em um hotel ao voltar do Brasil e foi testado duas vezes antes de ser liberado. Uma amiga dele que conseguiu um visto para entrar no país relatou que foi testada oito vezes e teve uma câmera instalada na porta da casa para que fosse monitorada, para evitar que ela descumprisse o período de quarentena. Ela conta essa história em um vídeo do canal que Ivory produz com uma amiga sobre a vida na China. Outro amigo brasileiro dele que foi contaminado fez tratamento em um hospital por mais de 15 dias e foi transferido para outro hospital onde ficou em observação por mais 14 dias. Nesse meio tempo, foi testado "inúmeras vezes", segundo Ivory.

- As pessoas contaminadas aqui não transitam pelas ruas e não ficam em casa, são tratadas e monitoradas em hospitais até terem certeza de que estão curadas. Enfim, o controle aqui é enorme e somente por isso que a vida já voltou quase a sua normalidade - conclui o profissional de marketing e vendas.


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