Sai da frente que atrás vem caminhão

Dirigir na defensiva nunca foi tão necessário, quando o trânsito em questão é o de Porto Príncipe, no Haiti. Defensiva por aqui não significa apenas reduzir a velocidade. Às vezes, a defesa é acelerar ou jogar o veículo para o lado às pressas. Especialmente se um caminhão estiver atrás.

Na capital haitiana, os caminhões da Mack (marca americana) tomam conta das ruas. Eles são velhos (mal conservados, alguns deteriorados) e gigantes. A frente deles lembra o caminhão de Rocky Balboa, no clássico do cinema interpretado por Silvester Stalone. Tem grades acima dos para-choques.

Mas o pior (acredito que vamos sonhar com isso nos próximos dias) é a buzina. Sim! Provavelmente alguém tirou a buzina de um navio e colocou nesses gigantes. A maioria dos condutores de Mack conhecem bem o pedal do acelerador e o botão da buzina. Freio é mero acessório, usado apenas para estacionar quando chegar ao destino. Ou nos dois novos (e únicos) semáforos, instalados em dezembro nas ruas.

Quando um Mack desses está atrás de você, procure um canto para sair da frente. A 200 metros de distância, o motorista vai te enxergar e buzinar freneticamente. Se você não sair, ele vai ultrapassar e não importará se vier alguém no lado oposto. Eles tocam por cima mesmo.

Andamos muito na carona (diga-se caçamba) das caminhonetes da ONU (Organização das Nações Unidas) com os militares. Os condutores não se importam se na frente está a ONU, a Polícia Nacional do Haiti, ou o Papa.

Só vimos uma vez esses caminhões reduzirem. Depois que militares começaram a assoprar um apito freneticamente, fazendo sinal com as mãos para cima e para baixo. Nessa circunstância, só andam devagar até encontrarem um jeito de passar.

Existem muitos problemas no Haiti e, com certeza, o trânsito é um deles. Mas de menos importância se comparado à fome e miséria. Só não custa lembrar que, se você vier para Porto Príncipe um dia, for dirigir e ouvir uma buzina parecida com a de um navio, saia da frente, pois atrás vem caminhão!


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