Recurso público para bancar a Calourada não é gasto

Jaqueline Silveira

Nesta segunda-feira, começa a Calourada Segura com novo formato e local. Organizada pela prefeitura em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e os órgãos de segurança, o evento ocorrerá na Gare nos quatro dias. E com shows.

Até agora, a Calourada era realizada na Praça Saturnino de Brito, ou do Brahma, como é conhecida –, e a prefeitura só oferecia a estrutura mínima, principalmente banheiros químicos e ações envolvendo o trânsito. A polícia se encarregava da segurança. Além de não ser ideal, o lugar na área central gerava queixas de moradores sobre a perturbação de sossego e as brigas. É importante ressaltar que o barulho e confusões na praça não ocorreram somente em semanas da festa dos calouros. Em outros momentos, havia reclamações de quem habita o entorno da praça, e até assassinatos aconteceram na Saturnino de Brito.

No início do segundo semestre da UFSM em 2022, no mês de setembro, os estudantes, à exemplo de outros anos no começo das aulas, foram para a Praça do Brahma, reunindo uma multidão. Só que não havia estrutura. Nem prefeitura nem UFSM se preparam para evento, uma vez que era na metade do ano. Sem dúvida, foi um erro de avaliação. Depois do primeiro dia, a administração municipal providenciou o mínimo de estrutura e a limpeza das redondezas depois das festas.

Fato lamentável e decisivo

Mas, além das questões do local e da perturbação do sossego, um fato lamentável determinou a transferência da Calourada Segura da Praça Saturnino de Brito. O jovem Leonardo da Silva Pereira Almeida, de 22 anos, que não era calouro, mas havia ido participar da festa, perdeu a vida durante o roubo do seu celular no caminho de volta para casa. O crime ocorreu a três quadras do evento, em frente ao quartel do Corpo de Bombeiros.

Mesmo que o assassinato não tenha ocorrido no local da festa, que tinha policiamento, a prefeitura começou a pensar na mudança de lugar. Depois de ser procurada pela UFSM e receber o aval dos órgãos de segurança, o Executivo anunciou a Gare como novo endereço da Calourada Segura. Inicialmente, houve uma resistência por parte do DCE. Mas resolvido o ruído, o órgão, que representa os estudantes, abraçou a ideia – até porque a participação do DCE é fundamental para atrair os estudantes para a Gare. Além das sugestões dos shows e de linhas de ônibus, o diretório será responsável pelo fornecimento da alimentação e das bebidas na parte interna do evento.

Recurso público para bancar a festa não dá para considerar um gasto

Com todos os órgãos envolvidas de acordo, a Calourada Segura foi pensada nos mínimos detalhes para ser um grande evento. Com antecedência de organização, a segurança fez um planejamento com um esquema reforçado, inclusive com efetivos da Capital, para a Gare e arredores, além da utilização de equipamentos. A prefeitura, por sua vez, investiu numa grande infraestrutura no local e também no transporte.

Para a festa, a prefeitura desembolsou cerca de R$ 430 mil, entre estrutura e cachês dos shows. E, por isso, tem sido alvo de críticas, já que se trata de recurso público que poderia ser investido em áreas essenciais como educação e saúde. Só que não há como promover uma festa deste porte – o público estimado é de cerca de 10 mil pessoas –, sem um custo. E, afinal, Santa Maria é conhecida como Cidade Universitária. E são esses estudantes que vêm estudar na UFSM que impulsionam grande parte da economia da cidade, inclusive com reflexos na arrecadação para o município. Tanto que os empresários querem a volta do vestibular para atrair ainda mais jovens para o centro do Estado e, como consequência, movimentar o comércio.

Futuramente, a própria iniciativa privada pode se engajar na organização e obter lucros. Com isso, a prefeitura poderá colocar menos dinheiro público na festa. O cuidado e a proteção da vida dos estudantes que os pais mandam para estudar em uma universidade de excelência como é a UFSM não podem ser consideradas como custo, mas, sim, um investimento. Como imprensa, vamos continuar cobrando melhorias na Educação, Saúde, Segurança, Infraestrutura… Mas, neste momento, tem se der saudada a iniciativa da prefeitura em chamar a responsabilidade para si da organização da Calourada Segura – e o esforço dos demais órgãos envolvidos também dever ser reconhecido. É claro que, como é a primeira experiência, é possível que, na prática, nem tudo funcione perfeitamente. Torcemos para que não ocorra nenhum fato grave – para isso, haverá um grande esquema de segurança. Enfim, tem tudo para ser um evento bem-sucedido, o que será bom, especialmente, para os estudantes, os organizadores, a economia e a cidade como um todo.

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