Saúde

Poucos médicos querem atuar como pediatras em Santa Maria

Jaiana Garcia

A cena se repete a cada concurso público para preencher vagas de médicos pediatras. São muitas vagas e pouca procura. O déficit de profissionais da área de pediatria é histórico e não se restringe somente a Santa Maria. Os motivos que afastam os médicos formados da residência em pediatria são inúmeros: o trabalho essencialmente clínico, remuneração baixa de consultas por meio de planos de saúde, a necessidade de disponibilidade durante 24h e, no caso da saúde pública, a falta de vínculo entre médico e paciente, já que, no regime de plantão, nem sempre o mesmo profissional atende a criança.

Nos consultórios particulares de pediatria clínica, conseguir uma consulta também não é nada fácil.

As mães que aguardam nas longas filas para uma consulta para os pequenos acham o atendimento precário. Na quarta-feira, a dona de casa Marisa da Rosa, 28 anos, chegou ao Pronto-Atendimento do Patronato às 10h e foi atendida somente às 15h. Com uma das filhas com dificuldade para respirar, ela reclama da forma como os médicos atendem os pacientes.

— A gente fica horas na fila para entrar na sala do médico e ficar alguns minutos apenas. Já aconteceu de eu chegar aqui e nem ter médico — diz.

Conforme o representante do Conselho Regional de Medicina de Santa Maria (Cremers), João Alberto Laranjeira, o problema de falta de pediatras no município já se arrasta há muitos anos.

— Acredito que seja uma escolha de mercado. A maioria dos profissionais opta por especialidades cirúrgicas — avalia.

A referência em atendimento infantil na rede pública municipal é o PA do Patronato, que recebe, em média, 200 crianças por dia. A prefeitura conta com um quadro de 19 pediatras contratados, que atendem o PA, a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e algumas Unidades Básicas de Saúde.

— Nós temos uma dificuldade geral em conseguir médicos. Estamos estudando a redução da carga horária de 40 horas para abrir um novo concurso — frisa a secretária de Saúde, Vania Olivo.

Ela admite que na UPA faltam pediatras, mas garante que no PA as escalas são bem organizadas, e os médicos estão sempre disponíveis.

Movidos pela paixão

A pesquisa do Conselho Nacional de Pediatria também aponta que o interesse pelas residências nas especialidades gerais ou básicas, entre elas a pediatria, está crescendo nos últimos anos. Em 2012, 38,76% dos médicos do país eram destas especialidades, contudo, 46,3% estavam fazendo residência, o que indica que o número que profissionais está crescendo — seriam 7,54% de profissionais a mais no mercado formados em 2014. De acordo com o conselho, o aumento é lento, mas gradual, o que gera otimismo.

No Husm, um dos 13 locais que oferecem residência pediátrica no Estado, eram oferecidas seis vagas para a pediatria há cinco anos, hoje são 10 vagas.

— Quando tínhamos menos vagas, não conseguíamos preencher todas. Hoje, temos mais, e a procura é maior. Já fomos menos valorizados, acredito que o cenário está mudando — afirma o médico pediatra Paulo Aita, que atua há 26 anos na especialidade.

Os homens são maioria em 40 das 53 especialidades médicas reconhecidas no Brasil. Porém, na pediatria as mulheres dominam, com 69,6%. Na residência do Husm não é diferente, 90% dos estudantes são mulheres. Entre elas, estão médicas Cindiamar Tomé, 28 anos, Elizamara Segala, 29, e Katchbianca Weber, 23. As três são movidas por um único motivo: a paixão pela pediatria.

— Não escolhi a pediatria pela remuneração, porque não dá muito retorno financeiro, mas o retorno pessoal é incrível. É apaixonante — observa Elizamara.

— A gente sabe que vão bater na nossa casa, vão telefonar em qualquer horário, mas, mesmo assim, fizemos esta escolha — salienta Katchibianca.

— Eu prefiro ficar o dia trabalhando com crianças do que com adultos — diz Cindiamar.

Um dos poucos homens da pediatria, Thiago Ângelo Longhi, 26 anos, optou pela residência por a

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