plural

PLURAL: os textos de Valdo Barcelos e Rony Cavalli

Em Coimbra, com Paulo Freire
Valdo Barcelos
Professor e escritor-UFSM

Escrevo essa coluna desde a Universidade de Coimbra/Portugal, a mais antiga do país e, salvo controvérsias, a mais antiga do mundo ocidental. Ao assinar o documento intitulado "Scientiae thesaurus mirabilis", Dom Diniz I, Rei de Portugal, criou em 1290, essa que é hoje a universidade que mais recebe estudantes de outros países. Isso se percebe facilmente em qualquer cantina da instituição, quando, em uma mesma mesa, sentam-se estudantes que falam várias línguas e veem de diferentes continentes. Isso é uma universidade. 

A Universidade de Coimbra, na sua fundação, se restringia aos limites do Palácio Real. Com o crescimento, avançou até Coimbra e, com isso, alterou praofundamente a paisagem transformado-a na pulsante cidade universitária que existe hoje. Estudar ou ministrar aulas na Universidade de Coimbra é fazer parte da história da matriz intelectual desse país tão marcante para nós brasileiros (as), e que formou destacadas personalidades da cultura, da ciência e da política portuguesa. Visitar as dependências dessa universidade é uma aula de história e uma viagem no tempo. Tem, por exemplo, as celas da Prisão Acadêmica, local onde eram encarceradas as pessoas pertencentes à universidade que tinham sido condenadas por crimes. Era uma forma de não misturá-las aos ditos "criminosos comuns". Reza a lenda que vem daí aquele jeitinho brasileiro de membros da elite terem direito a prisão especial, por terem diploma de curso superior.

Quero fazer referência, neste espaço, a algo que me deixou muito feliz e orgulhoso de viver no Brasil. Mesmo sendo o Brasil um país em que seus governantes tanto maltratam a educação, particularmente a educação básica e os seus professores (as). Refiro-me ao enorme interesse dos acadêmicos, presentes em Coimbra, sobre um pensador brasileiro: Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997). Não sou o que se poderia chamar de um "freireano". Até porque essa categorização, pouco ou nada tem ajudado no sentido de contribuir para a educação brasileira, e, diria até, para o entendimento da dimensão e da profundidade da obra monumental deixada por Paulo Freire. Também não vou me referir aos ditos críticos de Freire. O espaço aqui é curto e a importância e contribuição destes para a educação é, no mínimo, duvidosa. 

Quando algum estudante descobre que está frente a um educador brasileiro, o cercam e o bombardeiam de perguntas sobre Freire e seu "método de ensino". Outra questão muito presente é a dificuldade dos acadêmicos de outros países em entender porque nós, brasileiros (as), somos tão fascinados por pensadores de outros países - incluam-se aí os portugueses - e não valorizamos mais os pensadores locais. Alguns chegam mesmo a nos desafiar perguntando coisas do tipo: será que a educação no Brasil não tem tantos problemas justo por seus profissionais insistirem em importar modelos que, via de regra, tem muito pouco ou nada a dizer sobre as realidades e culturas do país? 

Cada vez mais, sinto que, quanto mais entendo de educação, mais admiro a obra desse educador e cidadão do mundo: Paulo Freire. É um dos três pensadores mais referenciados por meio de citações em trabalhos sobre educação no mundo. Seus livros e textos foram traduzidos em cerca de 30 línguas. Um de seus livros, Pedagogia do Oprimido, publicado em 1968, nos Estados Unidos, está entre os livros mais indicados e estudados nas universidades pelo mundo afora até hoje. Freire recebeu 35 títulos de Doutor Honoris Causa pelas mais prestigiadas universidades da Europa e das Américas. As comemorações do centenário de nascimento de Paulo Freire estão a acontecer pelo mundo todo. Aqui em Portugal, não é diferente. Vida longa ao legado freireano no Brasil e no mundo.

Vexame no ninho tucano
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário

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Após vexame por conta de falha no aplicativo eletrônico de votos, falas de exigências por parte de candidatos de comprovante impresso de votação e, como se não bastasse isto, acusações de compra de votos por parte de João Dória, o PSDB finalmente conseguiu concluir suas prévias, escolhendo o governador de São Paulo como candidato à corrida presidencial do próximo ano.

Além da barbeiragem quanto à logística do sistema de votação eletrônico do Partido, a derrota de Eduardo Leite para João Dória não pode deixar de ser adjetivada também de vexatória, especialmente, diante da rejeição de cerca de 37% ostentada pelo governador de São Paulo. A tendência, hoje, é que Dória seja derrotado até mesmo em São Paulo, inclusive para o governo paulista, ainda mais com a recente notícia de que o ministro Tarciso de Freitas, uma quase unanimidade em termos de eficiência em sua Pasta, aceitou ser escalado pelo Presidente Bolsonaro como candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

A tentativa do PSDB se apresentar como uma terceira via à eleição presidencial do próximo ano é, no mínimo, ridícula e a escolha pelos tucanos por João Dória aumenta a já enorme vantagem de reeleição do Presidente Bolsonaro.

A terceira via, para assim ser verdadeiramente denominada, precisa estar afastada tanto da direita como da esquerda, sendo que o PSDB está muito longe disto, sabendo aqueles mais atentos à política que os tucanos não passam de "esquerda caviar". Para aqueles que duvidam disto e enxergam o tucanato como centro ou até centro-esquerda, chamo atenção para relembrarem da origem política dos maiores líderes da sigla. Fernando Henrique Cardoso tem o maior orgulho de referir que sua origem política é do antigo partido comunista brasileiro (PCB), enquanto José Serra era ligado à extrema esquerda, sendo um dos fundadores do grupo Ação Popular, grupo este que revelaria o petista Plínio de Arruda Sampaio.

Aloysio Nunes foi membro da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização guerrilheira liderada por Carlos Meringhella. Já José Aníbal, umas das figuras mais proeminentes do PSDB paulista, foi companheiro de Dilma Rousseff na Organização Revolucionária Marxista Política Operária, também conhecida como POLOP.

Ainda, para aqueles que não se convencem que PSDB está do lado esquerdo do muro, quando desce dele, basta lembrarmos de recente manifestação de FHC, o qual afirma com todas as letras que o PSDB se unirá com o PT para derrotar Bolsonaro, sendo consequência lógica desta eventual costura que, em um suposto governo PSDB, o PT certamente teria ministérios e, assim, de forma oblíqua, aqueles que pensam em votar no PSDB, mesmo tendo votado em Bolsonaro em 2018 e tendo feito isto contra o PT, estarão contribuindo para a volta da maior quadrilha já instalada no Palácio do Planalto, a volta da corrupção desenfreada e a remessa do nosso dinheiro para "ditaduras amigas".

Também sonho com o surgimento de um verdadeiro estadista e que tenha capacidade de unir o país e despolarizar o debate político, mas, enquanto este nome não surgir, sigo firme no propósito de manter a esquerda, de qualquer quilate, longe do poder e dos nossos cofres.

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