plural

PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Silvana Maldaner

  • Contra o racismo e o fascismo, seguiremos*
    Suelen Aires Gonçalves
    Socióloga e professora universitária

    Nosso texto semanal versa sobre os crimes cometidos por grupos fascistas, racistas e negacionistas na Câmara Municipal de Porto Alegre/RS, na tarde da quarta-feira, 20 de outubro, durante a votação do veto do prefeito Sebastião Melo ao passaporte vacinal na cidade. Vocês leram bem: "veto" do prefeito negacionista ao passaporte vacinal, já aprovado pelo estado, mas tal governo busca derrubá-lo em âmbito municipal.

    O passaporte vacinal é a obrigatoriedade da apresentação de comprovante de vacinação em todo o Rio Grande do Sul, a partir de segunda-feira (18), para acesso a atividades consideradas de alto risco de contágio, como competições esportivas e festas. A norma valerá tanto para profissionais que trabalham no local quanto para o público em geral.

    Durante a sessão plenária na Câmara de Vereadores, um grupo contrário ao passaporte vacinal exibia cartazes com referências nazistas, usando palavras agressivas e racistas contra a bancada negra, composta por vereadores negros eleitos na última eleição municipal. Além disso, parte do grupo agrediu parlamentares e funcionários da casa legislativa.

    INDIGNAÇÃO

    Na ocasião, um dos manifestantes exibiu um cartaz com uma suástica, ou seja, estivemos diante de uma cena de apologia ao nazismo, que é crime. Já uma outra participante se dirigiu à vereadora Bruna Rodrigues (PC doB), que é negra, e a chamou de "empregada".

    A gravidade do episódio nos causa enorme indignação, pois atos racistas como esses são frequentes na vida das pessoas negras em nosso país, Estado e cidades, e precisam ser combatidos firmemente, evitando qualquer forma de cumplicidade. Foram realizados dois boletins de ocorrência contra os casos, entre eles, uma denúncia ao crime de apologia ao nazismo. Já a bancada negra da câmara prestou queixa por racismo. A Delegacia de Combate à Intolerância da Capital investigará os casos.

    Enquanto cidadã, repudio de forma veemente toda forma de racismo. Além disso, existe a necessidade de que sejam tomadas as devidas providências por parte do legislativo no sentido de punir os agressores, que podem ser identificados pelas imagens publicadas na imprensa e câmeras de segurança internas do prédio. A responsabilidade de enfrentar o racismo é uma tarefa de todos. Seguiremos firmes e alertas.


    *Este artigo foi originalmente publicado na edição de 28 de outubro de 2021.

    Até tu, Brutus?
    Silvana Maldaner
    Editora de revista

    Sancionada em 1991 por Fernando Collor de Mello, a Lei Rouanet tinha um objetivo simples, fomentar a cultura em vários níveis e facilitar a consolidação de patrocínios. A lei se baseia no mecanismo de incentivo fiscal, pessoas físicas e empresas que decidem patrocinar os projetos - recebem em troca a possibilidade de abatimento de parte ou da totalidade do valor patrocinado do Imposto de Renda (IR) a pagar.

    O incentivo pode englobar a produção, distribuição e o acesso aos produtos culturais, incluindo CDs e DVDs, espetáculos musicais, teatrais, de dança, filmes e obras de audiovisual, exposições e livros, imprensa, revistas, cursos e oficinas culturais.

    Uma lei que nasceu bem intencionada e, com o passar do tempo, foi sendo desvirtuada em sua finalidade. Com isso,diversos casos estranhos de aprovação de valores astronômicos para projetos pífios foram revelados. Um detalhe muito importante: a verba não vai diretamente ao artista, e sim pela produtora que utiliza da captação do recurso.

    Por exemplo, a produtora Tangerina Entretenimento aprovou o valor de um R$ 1,5 milhão para fazer um filme em 2013 chamado "O Vilão da República" , documentário que contou a história e a vida de José Dirceu, desde sua participação em movimento guerrilheiros, passando por sua história pela via partidária até à condenação a 10 anos e 10 meses de cadeia por corrupção, em 2012. A artista da Globo Cláudia Leitte foi aprovada para captar quase R$ 6 milhões pelo programa para a realização de 12 shows em cidades das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste em 2013. Em meio a críticas, a cantora acabou recebendo "somente" R$1,2 milhão em apoio.

    E os escândalos em torno desse projeto não assustam só pelo valores, mas, assim como outras empresas da cantora, que teria montado um esquema com diversos CNPJs para conseguir a aprovação do Ministério da Cultura para a captação de verbas.

    Assim podemos enumerar grandes figuras carismáticas, talentosíssimas, consagradas no meio artístico e formadoras de opinião.

    Recentemente, outro escândalo envolveu a rainha do axé, Ivete Sangalo que em show no nordeste, no final de ano, puxou coro com a plateia para ofender o presidente da República. Lamentável postura de uma artista tão talentosa, amorosa, que, aparentemente, defendia o respeito, mas se expôs numa situação depreciativa e odiosa, não condizente com o carisma que sempre lhe eram pertinentes. Mais uma retaliação à redução do teto de investimento da Lei Rouanet.

    Atualmente, o valor máximo permitido por projeto para captação é de R$ 1 milhão, definido em abril de 2019. Antes, o teto era de R$ 60 milhões. Para pagamentos de artistas individuais, o teto hoje é de R$ 45 mil, para artista ou modelo solo. 

    O governo pretende diminuir ainda mais para que a lei seja usada para financiar novos artistas, evitando desvios de verbas através de produtoras e CNPJs laranjas, enriquecendo apenas os bilionários já consagrados.

    Então, este movimento intenso de ódio de nossos queridinhos artistas apoiados pela imprensa tem outra explicação, além da oposição política: acabou a mamata. Confere produção?


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