plural

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

A necessidade da pausa
Neila Baldi 
Professora universitária

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O semestre letivo acabou e muitos e muitas de nós estão em férias. Por causa delas, deixei esta coluna pronta com alguns dias de antecedência. Precisava parar, efetivamente. Enquanto escrevo, mais uma vez recorro à Legião Urbana. Parece que para cada situação tem uma música da Legião. Diz a letra de Tempo Perdido: "Todos os dias, antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia. Sempre em frente. Não temos tempo a perder." Tenho a sensação de que todos e todas temos vivido assim. E que a pandemia acentuou essa vida acelerada, sem tempo.

EXAUSTÃO

Começaremos, em breve, o quarto semestre letivo de modo remoto. Como é viver em frente às telas? Se no início da pandemia, as lives eram a grande novidade e éramos capturados e capturadas pelas telas, agora, mais de um ano e meio depois, estamos exaustos e exaustas de tudo isso. Por isso, uma pausa é necessária. Independentemente da área em que atuamos, necessitamos parar. A pausa é revigorante. Quem nunca ouviu a expressão ócio criativo? Então, me vem à memória outra canção da Legião Urbana: Vento no litoral, que foi escrita para uma despedida. Diz a canção: "De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte. E vai ser bom subir nas pedras. Sei que faço isso pra esquecer, eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora."

Com a pandemia, não temos viajado viajar, ir sentir o vento no litoral... mas isso não significa que não possamos parar. Não viajar ou viajar com cuidados são modos de parar. Precisamos parar! E uma saída no fim da tarde para ver o pôr do sol é uma parada. Parar e ouvir a Legião Urbana cantando: Quando o sol bater na janela do teu quarto, lembra e vê que o caminho é um só" também é se dar uma pausa. Não fazer nada, apenas viver o momento e sentir.

PARAGEM

Na contemporaneidade, a paragem - que na dança chamamos de pausa dinâmica - reestabelece a estabilidade, a conexão consigo. Trata-se de uma pausa em movimento, de movimento interno. Precisamos resgatar essa relação com a pausa. E, como professores e professoras, oportunizarmos pausas dinâmicas. Como nós, das Artes, criamos num turbilhão de coisas sem tempo para apenas sentir? Estamos precisando voltar a sentir...

Saber sentir é também uma aprendizagem e a contemporaneidade e a pandemia nos anestesiam. É urgente que nos reconectemos conosco, seja em que campo do saber estejamos. Pois é esta paragem que vai nos permitir criar - o ócio criativo tão propagado. Do contrário estaremos fadados e fadadas ao Teatro dos vampiros, da Legião Urbana: "E a cada hora que passa, envelhecemos dez semanas."

A importância da comunhão à mesa

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Antônio, um ente querido falecido na década de 1980 ressuscitou hoje e pediu para o primo contar, em poucas palavras, o que aconteceu após a sua morte. Hoje, existe um telefone que anda no bolso. Falamos, ouvimos e vemos uma pessoas do outro lado do mundo. As gestantes conseguem ver o rosto do bebê dentro da barriga, os carros estacionam sozinho e não se faz mais mudança, as pessoas trabalham em casa e ganham o mesmo salário. Você aquece uma água e faz um prato, em questão de minutos, em uma máquina chamada microondas. Antônio estupefato diz: "que bom que eu voltei. Quero esperar o almoço para ouvir das primas e da tia mais mudanças". 

Então, o primo conta que outras coisas que mudaram: Não almoçamos mais na mesa. Cada um fica no seu quarto, não nos reunimos mais em família, só em datas festivas, e a maioria come na rua. Antônio insiste: "mas já que ninguém vem para o almoço, me explique o que as pessoas fazem se os carros são melhores e mais rápido, as máquinas fazem refeições mais rápidas ainda e as mães podem trabalhar em casa, enquanto elaboram o almoço?

O primo pensa, pensa, pensa e não consegue chegar a uma resposta sozinho. Ele jamais havia pensado nisso. Afinal, com tantas benesses e facilidades da vida atual, porque as pessoas, entre elas o Primo, estão cada vez mais isolados e sem tempo? A correria do dia a dia não permite sequer que tenhamos consciência disso, até nos deparamos com alguns sintomas, como a depressão e o suicídio. 

Numa análise epidemiológica do suicídio feita pelo Brazilian Journal of Psycuiatry, entre os anos de 1980 e 2006, ficou comprovado que naquele período, havia um total de 158.952 casos de suicídio, o índice havia crescido de 4,4 para 5,7 mortes por 100 mil habitantes, apresentando um percentual de 29,5%. 

Recentemente, o portal Pebmed publicou um artigo a respeito do tema suicídio e ideação suicida na adolescência, onde foi constatado que a ideação suicida aumentou 1,6 vezes em março de 2020, comparada ao mesmo mês em 2019, e 1,45 vezes maior em julho de 2020, comparada ao mesmo mês em 2019. Já com relação às tentativas de suicídio, o índice foi maior em 2020 do que em 2019, sendo os valores de 1,58 (fevereiro), 2,34 (março), 1,75 (abril) e 1,77 (julho), ou seja, o isolamento provocado pela pandemia aumentou ainda mais os casos de suicídio em todas as idades. 

E o que nós pais, primos, mães, avós, enfim, o que as pessoas simples podem fazer? Acabar com este isolamento que nos tem sido imputado pela nova formatação de vida ideal, voltar a comer ao redor da mesa, dividir quem corta a cebola, quem põe a mesa, quem lava a louça? 

Somos seres criados para vivermos em bando, que nosso bando seja de alegrias, criando pontes e derrubando barreiras.

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