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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff


Glamourização da violência
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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É comum no universo cinematográfico, filmes que glamourizam a violência. Quem nunca se emocionou com discursos de comandantes, antes do derradeiro confronto de um batalhão que estava lutando por suas vidas que atire a primeira pedra. A questão é, no contexto em que vivemos, precisamos mesmo de guerras? Tenho observado em comentários, um apelo crescente pelo uso da violência como forma de solução dos problemas políticos. Essa saída tem se apresentado tanto entre apoiadores quanto por opositores do atual governo. Fica a pergunta, quem sustenta a violência, sabe dos impactos que ela tem realmente, ou está idealizando a ideia de "justa causa" ou "violência construtiva"?

EQUÍVOCOS COMPREENSIVOS

Muitos, quando analisam a história, os grandes feitos da humanidade e concebem os grandes feitos dos soldados, normalmente, se atém aos resultados de uma guerra, e não dos custos que são deixados. O custo mais evidente é o humano, as mortes que são contabilizadas na forma de estatística, deixando a pessoa triste quando analisado do lado que é apoiado, e com uma certa felicidade do lado que execramos. Neste caminho, obras como "Por quem os sinos dobram" de Ernest Hemingway são exemplares. Hemingway, além de escritor, lutou do lado espanhol na guerra contra o fascismo, e traz na sua obra, impressões que obteve durante este período. Reflexões sobre o soldado, que está de posto em uma guarita e não passar de um camponês, que está obrigado a estar ali, e, portanto, não tem vinculação alguma com a guerra ou mesmo apoia o governo tirano ao qual cumpre o papel de defender. Contudo, o soldado precisa ser morto para a missão prosseguir.

A compreensão de contexto, que aparece na obra de Hemingway, não é algo que está apenas no universo da literatura. Avós de alguns conhecidos, que lutaram durante a Segunda Guerra ficaram profundamente atormentados pelo que vivenciaram. A guerra terminou, mas o transtorno de estresse pós-traumático os acompanharam até o fim, repercutindo em casos de alcoolismo, fumo compulsivo e/ou distúrbios alimentares. Uma guerra, em suma, é algo brutal, que deixa marcas duradouras por onde passa.

SINALIZAÇÃO

Ver pessoas glamourizando a violência, a guerra, é algo triste, e é marca de um tempo. As mesmas pessoas que trazem este tipo de argumento, em sua maioria, não têm a menor noção sobre o que estão falando. Nunca estiveram em uma situação de conflito, e não tem a dimensão factual das consequências do que estão evocando. Sempre é importante lembrar que a vida real não é igual a um filme. Quando alguém leva um tiro, é torturado ou espancado, o que existe é sangue, excrementos, dor e sofrimento, ou seja, não existe nada a ser exaltado.

A lista
Rogério Koff
Professor universitário

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Como a maior parte dos leitores deve saber, a escolha dos reitores das universidades públicas federais é prerrogativa do presidente da república. Para que o processo seja deflagrado, as instituições de ensino superior devem enviar ao governo federal uma lista tríplice, cabendo à presidência escolher o nome que entender ser o mais adequado ao cargo. A lista tríplice deve ser o resultado de uma eleição uninominal e obedecer a uma proporção de 70 por cento dos votos para os professores.

Há muitos anos, as universidades descobriram uma forma de desvirtuar este procedimento. A tática é a seguinte: os conselhos superiores decidem previamente que não realizarão uma eleição na universidade. Paralelamente, uma consulta é realizada de modo extraoficial. Nessa consulta é utilizado o voto paritário, no qual professores, servidores técnicos administrativos e alunos têm o mesmo peso. Como a consulta é ilegal, seu resultado acaba sendo enviado aos conselhos superiores da universidade. Nestas instâncias, a proporção de 70% de professores é obedecida. Então, os conselheiros acabam por votar nos nomes da chapa vencedora na chamada "consulta fria". Este procedimento foi utilizado durante muitas décadas, e raramente os governos federais de PSDB ou PT contrapunham a decisão tomada pela comunidade universitária, corroborada pelos conselhos superiores.

Portanto, nunca houve eleições diretas para reitor em qualquer universidade federal. A eleição verdadeira sempre aconteceu nos conselhos superiores, com proporção de 70% de votos de professores. Acontece que estes conselhos superiores sempre se curvaram diante da consulta dita "democrática" e ilegal realizada antes.

PRÓXIMA ELEIÇÃO

No dia 26 de maio, recebi correspondência eletrônica da UFSM divulgando o processo eleitoral para escolha do novo reitor de nossa universidade. Com um detalhe: uma lista tríplice já havia sido escolhida no formato de uma "chapa única" em processo iniciado no dia 7 de maio. Com quase três semanas de atraso, a comunidade universitária foi alertada para o processo de escolha, sendo que não haveria mais tempo para inscrição de outras chapas. Tudo para driblar a Nota Técnica do governo Federal que definia que qualquer consulta, caso deflagrada pelos conselhos universitários, deveria obedecer à proporção de 70% de votos para professores. Agora, a universidade optou por uma "pesquisa de opinião" para referendar os três nomes. 

Uma pesquisa mais fria do que um iceberg. Entre "consulta" e "pesquisa de opinião" não há diferença. Mudam os nomes, mas o boi é o mesmo. Na eleição verdadeira dos conselhos outros candidatos poderão se inscrever. Mas parece óbvio que os conselheiros estarão induzidos a votar nos três nomes que terão sido "carimbados" pela participação como chapa única na pesquisa supostamente "democrática".

 Faltou transparência e publicidade. Nada contra os três nomes, que podem ser qualificados, mas só resta à comunidade boicotar a pesquisa de opinião. E cabe ao governo federal devolver o processo e mandar fazer tudo outra vez. Em tempo: apesar de minhas críticas, não sou candidato.

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