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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

Utopia e distopia
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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Utopia, enquanto uma visão idealizada de um mundo, seja este escondido em algum lugar ermo da terra ou em um futuro distante, é um exercício precioso do uso da imaginação. Obras como "Utopia" de Thomas More tem essa direção, de apontar um lugar imaginário onde os problemas da Inglaterra do século 16, segundo a perspectiva do autor, não existiriam. As utopias, geralmente, surgem como soluções para questões e problemas que existem na atualidade. Seu análogo negativo, a distopia, tenciona problemas correntes na sociedade, que muitas vezes não geram grandes efeitos significativos, mas que quando potencializados pelo uso da imaginação, constroem universos disfuncionais que levam a humanidade a situações desagradáveis. Tanto utopia quanto a distopia são projetos imaginativos dispostos na sociedade, permeando o imaginário social das pessoas, advindos dos inúmeros produtos culturais (séries e filmes) que orquestram conceitos e categorias na forma de produtos audiovisuais.

UNIVERSOS DISTÓPICOS

Na atual conjuntura, as distopias estão ganhando muito mais projeção do que as utopias. É relativamente fácil citar universos distópicos presentes em filmes, séries, livros, etc. Além dos produtos culturais, eventos em curso, como aquecimento global e a pandemia, nos levam a conceber o mundo e os rumos da sociedade como algo catastrófico. Esta construção de mundo, essencialmente negativa, vem permeando o imaginário social há algum tempo e representa um futuro "cinza", sem grandes esperanças.

De um universo distópico, que estamos vivendo e projetamos no futuro, emergem as utopias. Qual o sentido que gostaríamos de dar para a sociedade? Em que mundo gostaríamos de viver? Questões dessa natureza apresentam uma certa urgência. Sem projetos de futuro, ideias de como a sociedade pode caminhar, é difícil pavimentar um caminho virtuoso para o futuro da humanidade.

POR NOVAS UTOPIAS

O mundo ao qual vivemos, bem como os problemas que enfrentamos, demandam novas formas de utopia. Há aqueles que evocam velhos discursos sobre igualdade e progresso da civilização como soluções utópicas para o nosso mundo. Estas concepções podem ser úteis, mas a nossa realidade sócio-histórica é única, e portanto, novas concepções de futuro precisam ser construídas, novos pactos sociais precisam ser estabelecidos. Caso contrário, como poderemos construir uma sociedade mais "virtuosa" sem saber quais virtudes queremos ressaltar enquanto sociedade? As utopias são projetos a serem perseguidos, faróis que direcionam nossas ações. Sendo assim, exercitemos a reflexão: que mundo gostaríamos de ver daqui a alguns anos? Qual é a nossa "utopia"?

Ideologia da vitimização
Rogério Koff
Professor universitário

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Na semana passada, o Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aprovou novas regras para concursos de professores. Segundo um jornal gaúcho, candidatas que tiveram filhos nos últimos seis anos e pessoas que se enquadrem em ações afirmativas receberão pontuação extra. Não bastassem as cotas raciais para o ingresso de alunos, que nada mais são do que puro racismo, agora as distorções da ideologia da vitimização se expandem para concursos de professores. É o que acontece quando discriminações imaginárias são combatidas com a criação de discriminações reais.

TRANSMUTAÇÃO DA ESQUERDA

Em uma obra provocadora chamada "Guerra Cultural: como o pós-modernismo criou uma narrativa de desconstrução do Ocidente", o filósofo canadense Stephen Hicks explica muitas das questões referentes às novas estratégias do pensamento esquerdista internacional. Seu livro mostra de que maneira grupos de intelectuais, setores da mídia e universidades cumprem aquilo que nomeia como uma "agenda pós-moderna".

Após a falência do modelo comunista e da queda do Muro de Berlim em 1989, a esquerda tentou se reinventar. Na atualidade, ao invés de lutar pela socialização dos meios de produção, seu propósito passou a ser o controle sobre a linguagem e os ataques constantes à liberdade de expressão. Tudo em nome da ideologia do "politicamente correto". O que antes se traduzia na exaltação e defesa das classes operárias, que constituíam uma espécie de "universal humano", deu lugar às ideologias da interseccionalidade, nas quais os indivíduos são divididos em grupos minoritários e classificados a partir de sexo, gênero ou raça. O que prevalece do pensamento de seus avós esquerdistas é a noção de que a sociedade é o palco de uma constante e inevitável luta pelo poder, não sendo viável qualquer conciliação.

Mas é impossível eliminar todas as desigualdades existentes entre os seres humanos. O próprio mérito e esforço individual diferencia naturalmente as pessoas. As tentativas obsessivas da esquerda de eliminar desigualdades por meio de ações afirmativas e destinação de cotas aos chamados grupos minoritários e supostamente oprimidos conseguem apenas substituir antigas desigualdades por novas injustiças. Individualismo e mérito sempre foram pilares das sociedades democráticas ocidentais. Em seu lugar, a esquerda pós-moderna endossa a cultura do ressentimento. Se parcelas da população como negros, gays e mulheres foram vítimas de discriminações no passado, não significa que estas formas de opressão persistam no presente. E as parcelas chamadas "não minoritárias" não têm culpa pelo passado histórico. Seria o mesmo que cobrar responsabilidade histórica de um jovem alemão de nossos dias por conta de seu bisavô nazista.

As bases de crenças da esquerda atual são a inveja e o ressentimento. Como afirmou o economista Milton Friedman, "uma sociedade que coloca a igualdade acima da liberdade nunca terá nenhuma das duas". É este tipo de crença que o Conselho da UFRGS coloca em sua agenda de reformas.

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