Quem vai a farmácias de Santa Maria tem tido dificuldades em conseguir alguns tipos de medicamentos. Além da rede pública municipal, que constata essa realidade em relação a alguns tipos de remédios, o mesmo cenário é presenciado em estabelecimentos privados do ramo. Nas quatro farmácias do centro da cidade visitados pela reportagem do Diário na tarde de ontem, em todos havia falta de estoque de antibióticos em suspensão oral, em especial para uso infantil, usados em tratamento de infecções respiratórias.
Entre os mais citados, estão os antibióticos amoxicilina, azitromicina, minociclina e Sinot Clav (amoxicilina tri-hidratada + clavulanato de potássio). Um panorama que já se estende há um tempo. Em duas farmácias, isso ocorre há pelo menos 30 dias e, nas demais, esse cenários já se apresenta há dois meses. O protocolo com os clientes no caso de falta de medicamentos, segundo o gerente da MB Farmácias, Mateus Teixeira, é encaminhá-los novamente ao médico, para que um novo remédio seja receitado.
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– A gente passa a orientação dos produtos que temos em loja para poder fazer a readequação do medicamento para o intuito que ele busca – diz o gerente.
Entre os motivos da falta de repasse, foi relatada a ausência de matéria-prima nos laboratórios das fabricantes, o que impede o encaminhamento pelas distribuidoras e, consequentemente, a compra pelas farmácias.Essa realidade que reflete em Santa Maria é constatada também no restante do Estado, com o Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF/RS) recebendo relatos de farmacêuticos de hospitais e de farmácias públicas da falta ou dificuldade de aquisição de alguns medicamentos.
CAUSAS
Entre os fatores que desencadeiam esse panorama está a questão de que a maior parte das matérias-primas e insumos utilizados pela indústria farmacêutica vir da Índia e da China, que até há pouco tempo estava em lockdown, dificultando também a logística.
Além do desabastecimento de insumos, da logística de transportes e da liberação por meio de portos e aeroportos das matérias-primas importadas, há também o problema da falta de embalagens, com a logística de importação sendo dificultada também pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
– Uma preocupação muito grande que a gente vê é a falta de uma política pública que mantenha os laboratórios públicos, que seriam as indústrias farmacêuticas públicas para que eles possam, funcionando, produzir os medicamentos que são estratégicos para o país – avalia a presidente do CRF-RS, Letícia Raupp.
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Uma situação enfrentada desde março e que, com o passar do tempo, está se agravando.
– Cada vez mais moléculas de matéria-prima, diferentes tipos de medicamentos vão sendo inseridos na lista que faltam dos medicamentos. A nível de conselho, que é nossa competência, já enviamos um ofício para a Secretaria Estadual de Saúde, informando dessa falta e dessa preocupação. Já enviamos também para o presidente da Famurs (Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul) para que todos os municípios tenham essa ciência da falta e a preocupação do Conselho, assim como também para o presidente do Cosems (Conselho das Secretarias Municipais de Saúde) – comenta Letícia.
Ainda de acordo com a representante do Conselho , está sendo realizado um trabalho para se reestabelecer, o quanto antes, a normalidade desse panorama de elevado impacto.
– Esse impacto é muito grande, e uma descontinuidade de um tratamento que as pessoas precisam ter adesão. Há a dificuldade nos hospitais, principalmente mantendo cirurgias eletivas. Muitas vezes, elas acabam tendo que ser canceladas pela falta de medicamentos e, em todo conjunto que a gente percebe, a dificuldade não é só do setor da farmácia – menciona a presidente do Conselho Regional de Farmácia.
Por Eduarda Costa e Francine Boijink
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