Orelhões: os populares telefones públicos caíram no esquecimento no Brasil (e em Santa Maria)

Orelhões: os populares telefones públicos caíram no esquecimento no Brasil (e em Santa Maria)

Foto: Nathália Schneider (Diário)

O Telefone de Uso Público (TUP), popularmente conhecido como Orelhão, aos poucos está praticamente invisível na correria dos cenários urbanos. Mas, há algumas décadas, ele era uma das principais formas de se comunicar com alguém. Crianças não sabem do que se trata e a maioria dos mais velhos não lembra a última vez que o utilizaram.


Lançado em 4 de abril de 1972, inicialmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, os orelhões se encaminham para sumir de vez das cidades e até mesmo da memória da população.


O telefone foi projetado pela arquiteta e designer brasileira nascida na China, Chu Ming Silveira. Inclusive, inicialmente, chegou a ser chamado de Chu, em homenagem à sua criadora. A população logo criou apelidos para a novidade da década de 1970, como “tulipa”, “Capacete de astronauta” e o definitivo, “orelhão”. O ponto de origem do bem-sucedido projeto foi o formato de ovo, “a melhor forma acústica”, segundo a criadora. 



Era necessário um cartão específico, com créditos, para utilizar o orelhão. A Oi, empresa que opera os aparelhos desde 2010, confirma que os cartões, que eram até mesmo colecionados por muitas pessoas, não são mais confeccionados no Brasil.


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De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) extraídos no mês de outubro de 2023, existem cerca de 116 mil orelhões instalados em todo o Brasil, mas apenas 53.503 estariam funcionando. Destes, 7 mil estão no Rio Grande do Sul. Segundo o Mapa dos Orelhões, plataforma virtual da Anatel que traz dados sobre os telefones, há 73 orelhões em Santa Maria atualmente. Uma reportagem do Diário de 2018 contava que, há cinco anos, haviam 1,1 mil aparelhos na cidade.


Aqui, assim como em todo o território nacional, a instalação de Terminais de Uso Público atende às disposições do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU), decreto presidencial n° 7.512, de 30 de junho de 2011, que determina um telefone para cada mil habitantes.


A reportagem do Diário foi atrás dos orelhões na área central da cidade, mas teve dificuldade para encontrá-los nos locais apontados pelo mapa. Foram encontrados dois; um em frente ao conjunto 3 da Universidade Franciscana (UFN), na Rua Silva Jardim, que não estava funcionando, e outro em frente ao Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, na Avenida Presidente Vargas.


 Atualmente, as ligações podem ser feitas gratuitamente para números residenciais/comerciais. Para celular, é possível fazer a famosa ligação à cobrar, utilizando o prefixo 9090.


Foto Nathália Schneider (Diário)


Por lá, a equipe do Diário conversou com vendedores ambulantes e taxistas do ponto que fica em frente ao complexo hospitalar. Há 5 anos atuando no local, Luis Jorge Berserk, 66 anos, contou que há mais de 20 dias não via alguém utilizando o orelhão. O taxista também falou que quase ninguém presta atenção no aparelho, a não ser vândalos que tentam destruí-lo e picham o telefone.


A reportagem conversou com algumas pessoas que saíam do hospital. Ao serem pedidas para que apontassem algum orelhão na região, a expressão de confusão logo vinha à tona, seguida da surpresa ao serem informadas de que havia um aparelho logo atrás delas, na calçada. As crianças não faziam ideia do que se tratava, mas quando era mostrado um aparelho celular, logo sabiam.


A analista de suporte Emelin de Lorena, 21 anos, mora há dois anos na cidade, mas costuma frequentar vários bairros de Santa Maria. Ela confessou não lembrar de ter visto algum orelhão nesse período.


– Faz muito tempo que não vejo. Quando eu morava em Fontoura Xavier, lembro que eu e minha mãe íamos até um orelhão para falar com uma tia de outra cidade. Eu adorava.


O aposentado Carlos Soares, 77 anos, mora há quatro décadas em Santa Maria e conta que usava orelhões frequentemente em seu bairro, Passo D’Areia. Mas agora o equipamento não existe mais.



– A tecnologia avançou muito, bem como os celulares e os meios de comunicação, então o orelhão ficou completamente desnecessário, até mesmo para as pessoas mais velhas.


A cuidadora Georgina Santana, 70 anos, conta que usou orelhão pela última vez há 10 anos:


– Já usei muito no Calçadão, na Avenida Rio Branco, na minha vila, Negrine. Mas lá não tem mais, tiraram todos. Eu usava bastante para falar com parentes, até de outras cidades. Acredito que não exista mais nenhum.


A professora Daniela Santos conta que tem curiosidade sobre a situação dos orelhões nos últimos anos. Segundo ela, há um aparelho que funciona no Bairro São José, em frente ao posto de saúde:


– Eu sei porque já testei. E tinha um único no meu bairro, Cerrito, mas tiraram há um tempo. Lembro que ali, na última época dos cartões, tentei ligar para uma tia e deu certo.


Equipamentos eram bastante utilizados no passado recente. Em 2007, o Calçadão de Santa Maria tinha vários orelhõesFoto: Charles Guerra (Arquivo Diário)


INVESTIMENTO

Segundo a Oi, empresa que opera os aparelhos, mais da metade dos cerca de 116 mil orelhões existentes no Brasil registram uma média de menos de uma chamada por dia e, embora quase não sejam utilizados pela população, exigem recursos elevados para sua manutenção, de cerca de R$ 135 milhões por ano.


Para a empresa, o Brasil deveria seguir o exemplo de outros países, como ocorreu recentemente em Nova York, nos Estados Unidos, que desligou seu último orelhão, e aproveitar os investimentos obrigatórios em telefones públicos para atender demandas mais atuais da população, como os serviços de conectividade e acesso à internet em banda larga.

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Bernardo Abbad

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