Não morro de amores pelas leituras de autoajuda, mas respeito os escritores e, principalmente, os leitores de tal estilo literário. Ao longo de quase 50 anos de vida e algumas experiências nos campos pessoal e profissional - positivas e negativas -, ouço e vejo gente que exagera nas conquistas e nas lamentações. Somos responsáveis pelo nosso estado de espírito, mesmo diante de enormes dificuldades emocionais e físicas. Reconheço que viver como responsável por uma família ou um grupo de pessoas, na atualidade, não é tarefa fácil. A energia elétrica, o gás de cozinha, o combustível, a alimentação, o vestuário, enfim, os produtos de primeira necessidade, são reajustados semanalmente no Brasil do presidente Temer e dos seus aliados. Tem, ainda, os boletos que chegam todo início de mês. Haja força, haja dinheiro. Se não bastasse tudo isso, há quem diga que justiça é utopia.
Vivemos no país, no qual rico enriquece cada vez mais. E sem fazer muita força, afinal, especula na ciranda financeira. Enquanto isso, a classe média esperneia que nem gado no abate. Ela quer ser rica, mas despenca na pirâmide social por considerar-se imune à crise política e econômica.
Aos pobres, resta a perda acelerada da dignidade mínima como ser humano. Havia poucos anos, pobre podia sonhar e ter acesso à casa própria, adquirir eletrodomésticos básicos, viajar de avião, comprar um carro popular, ingressar em um curso técnico e até no ensino superior. Mas são épocas passadas, de panelas cheias de comida e senzalas praticamente vazias. Outro ponto: havia emprego e geração de renda.
Recentemente, em entrevista ao site Sul21, o economista gaúcho Marcio Pochmann, que atua como docente na Unicamp, corrobora com o que falamos: “O que eu vejo é uma sociedade cada vez mais polarizada entre os muito ricos e a maior parte da população empobrecida”. A concentração de renda revela um país desigual, em crise entre os poderes e com reformas que tiram direitos da classe trabalhadora. Nesta celeuma, políticos corruptos secam as tetas do tesouro.
O quadro, avalia Pochmann, interessa aos detentores do poder. “O governo Temer está aproveitando essa situação para passar a imagem de que estamos saindo da recessão, embora as informações sejam muito frágeis e não nos permitam muito otimismo acerca de uma retomada da economia, podendo indicar, ao invés disso, uma trajetória de estagnação da economia brasileira”.
Pochmann põe em dúvida o cenário econômico brasileiro: “O que temos hoje é basicamente uma burguesia comercial que faz negócios, compra e vende produtos do exterior ou nossos produtos primários, compra e vende papéis ou ativos públicos e privados. É muito difícil imaginar que isso dê consistência para um ciclo de expansão econômica.
Por fim, o docente da Unicamp faz uma análise crítica sobre o país: “O Brasil que sai dessa recessão tem uma classe trabalhadora em situação muito precária, que busca estratégias de sobrevivência. E estamos vendo praticamente o fim da classe média assalariada brasileira. A reforma trabalhista e a terceirização vão corroer os empregos assalariados intermediários nas grandes empresas privadas e no setor público”.
Navegar é preciso, sobreviver é fundamental. A luta por justiça social deve ser diária. Do contrário, o tempo e a história vão nos cobrar pelo presente.