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OPINIÃO: Jeitinho brasileiro

Sergio Blattes

As pessoas vivem não apenas suas próprias vidas individuais, mas também a vida de sua época.O homem de hoje é um acumulador de riqueza, inclinado ao infindável desejo de poder, que se mostra nas atitudes competitivas de sempre querer superar o outro a qualquer custo. Talvez isso explique porque Cabral, Duque, Cerveró, Eike e outros ¿roubaram¿ tanto, pois o que mais interessava não era somente acumular riquezas, mas ser o mais rico.Essa turma que está presa por assaltar os cofres públicos (sei que o que vou afirmar poderá ser mal compreendido) é, ao mesmo tempo, algoz e vítima.

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Algozes pelo que fizeram, pelos males que causaram ao país, que, sem qualquer dúvida, é reprovável e seguramente não serão punidos como mereceriam. Mesmo punidos, eles já garantiam que suas famílias e seus descendentes possam viver nababescamente. É absurdo, mas olhando pelo viés mercantilista do custo-benefício, o custo não é tão alto. 

Compare com um trabalhador, não necessariamente braçal, olhe para você mesmo ou para um conhecido, que trabalha como um mouro para amealhar patrimônio (miséria perto daqueles que tem a grife Lava-Jato), e veja que o trabalho é duro e durante a vida toda. Pois os delatores penam alguns anos encarcerados, entregam os anéis e ficam com os colares e pulseiras valiosas (e com tornozelheiras eletrônicas emprestadas por um determinado tempo). 

Mesmo condenados, eles continuam privilegiados e servindo de escárnio para o cidadão comum, que se cometer o furto de um telefone celular poderá ser condenado, no mínimo, a um ano de reclusão, mais multa. Mas são também vítimas. O ¿jeitinho brasileiro¿ geralmente é considerado uma virtude nacional, na medida em que mostra o potencial brasileiro para a improvisação e para a criatividade, mas, por outro lado, também pode significar malandragem, ou seja, capacidade engenhosa de agir corruptamente para obter benefícios pessoais de maneira criativa. 

O ¿jeitinho¿ na sua concepção virtuosa, que é a primeira, assim como sua degeneração, a malandragem, geralmente são entendidos como uma coisa só e, por isso, aceitável.Os ¿clientes¿ da Lava-Jato, todos eles, encontraram um ¿jeitinho¿ de ficar bilionários, sem trabalhar e sem poupar. A oportunidade que tiveram garantiu-lhes milhões que, como o Maná, caíam do céu diariamente. A diferença é de que o Maná, que alimentou o povo judeu na travessia do deserto, não podia ser guardado de um dia para o outro. 

O dinheiro era gasto à forra e sobrava muito para ser acumulado.Pasmem! Os acusados na Lava-Jato tiveram a oportunidade de dar um ¿jeitão¿, que o cidadão comum não tem nem terá. O cidadão comum só pode dar um ¿jeitinho¿, como ganhar por oito horas diárias e trabalhar seis; negar-se a dar recibo de valor recebido como honorários; estacionar na vaga de deficiente; dar uma gorjeta para o funcionário agilizar seus interesses; etc,etc. Eles seguiram a lógica nacional.Enquanto formos o país do ¿jeitinho/malandragem¿, de alguma forma, estamos legitimando a corrupção, embora nos cause espanto quando alguns conseguem dar um ¿jeitão¿. 

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