Artigo

OPINIÃO: Entre cuspidores, mordedores e corneteiros

Eduardo Pazinato

O mundo anda, definitivamente, muito chato. Acostumamo-nos a opinar sobre tudo e sobre todos, mesmo que não saibamos nada acerca do assunto, ou do nosso interlocutor, vociferamos. Acostumamo-nos a querer levar vantagem em tudo, acima de quem for. Acostumamo-nos a endeusar nossas façanhas de tempos idos, que não existem, ou, quiçá, nunca existiram...

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Somos uma sociedade de cuspidores, mordedores e corneteiros, como diria meu amigo, advogado, professor, empreendedor e uma das principais referências éticas de Santa Maria, Eduardo de Assis Brasil Rocha.

Por essa razão, há alguns anos, tenho formado convicção no sentido de que nosso maior déficit é de gente, e não de escolas, hospitais, estradas, policiais, etc. É claro que a falta de gente educada, honesta, competente, comprometida, com habilidades para o trabalho em equipe e foco em resultados, afetará todas as dimensões da nossa vida, no âmbito público e/ou privado. 

Aliás, viver no Brasil, em geral, e no Rio Grande do Sul, em particular, está cada vez mais difícil. Enquanto a classe média paga duas vezes por serviços básicos, de qualidade duvidosa, tanto para o setor público, ao recolher tributos sem o devido retorno, quanto para o setor privado, ao custear convênios, seguros e afins, o povo mais pobre, sem essa opção, é submetido ao desrespeito cotidiano ao procurar atendimento em quaisquer repartições públicas, salvo o tratamento singular conferido por servidores honrados, inobstante o fato de também eles estarem desassistidos por esse mesmo Estado-ausente. Ausente para a maioria e onipresente para alguns poucos, sabujos, integrantes de uma plutocracia política e econômica despudorada, que se vale e se locupleta do rico e vilipendiado Estado brasileiro, por práticas fisiológicas, clientelistas e patrimonialistas, submetendo o público ao privado, o interesse coletivo ao individual.

Nesse caldo de cultura vicejam cuspidores, mordedores e corneteiros de toda a ordem, que grassam por corredores e escaninhos de universidades, indústrias, na prestação de serviços públicos e/ou privados, no campo e na cidade, procrastinando decisões, protelando soluções e, no limite, ceifando sonhos e esperanças, seja pela morosidade do seu tempo de resposta, seja pela natureza absolutamente questionável do que entregam.

Cuspidores, mordedores e corneteiros assemelham-se no emprego das formas nominais dos verbos, sempre no gerúndio, indicando ações intermináveis, ou que se prolongarão por tempo indeterminado, num círculo de eterno retorno, que se arrasta no tempo e no espaço, indefinidamente. 

Cuspidores têm um conselho e uma sentença preparada, aparentemente compatível para fazer frente a qualquer situação ou problema, mesmo que nunca tenham experienciado ou se deparado com essa questão outrora. Mordedores, por seu turno, além de ignorarem o tema sobre o qual discutem com suposto domínio de causa, cobram por isso, drenando atenção e, não raro, recursos com opiniões apenas supostamente abalizadas, que, na prática, revelam-se inadequadas e fora do lugar. E os corneteiros? Ah, os corneteiros somam o “melhor” e o pior dos Cuspidores e mordedores, partindo do nada e chegando ao lugar nenhum. Não fazem, não deixam fazer. Eis a tônica dos nossos tempos pós-modernos...

Mudemos, renovemos, podemos! Afinal, na esteira do filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso, o obscuro: “tudo muda, exceto a mudança”. 


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