Artigo

OPINIÃO: Brasileiro cordial

Sergio Blattes

A Europa, que conviveu muitos anos com terrorismo doméstico, como, por exemplo, IRA (Exercito Republicado Irlandês) e ETA (Pátria Basca e Liberdade), além de outros de menor expressão, agora sofre com os ataques, aparentemente de motivação religiosa, que espantam o mundo todo. Impactam nos recentes atentados é a indeterminação dos alvos e o caráter transnacional das organizações responsáveis pela barbárie. Desde sempre, a humanidade caracterizou-se pela violência, os tempos de paz de harmonia não passam de curtos períodos de armistício, em que a violência fica hibernada. 

Foto: Arte DSM

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Esta violência gratuita, que choca tanto a todos nós, é grotesca pelos seus métodos, mas, principalmente, por sua aparente motivação religiosa. Digo aparente porque as verdadeiras religiões são aquelas que buscam a salvação do homem, não no outro mundo somente, mas principalmente neste, proporcionando-lhe sentido à vida, para que possa ter uma existência amorosa para com os outros e com a natureza.Os militantes radicais, do islamismo ou de qualquer outra religião, não são religiosos. São pessoas que tomam a religião como meio de consolação de seus males, um manto para cobrir suas fraquezas, um argumento respeitável para suas ações e/ou omissões. A salvação individual, do ponto de vista religioso, não depende dos outros. A desesperança, o desconforto de não se sentir incluído e o vazio interior estão atraindo jovens do mundo todo ao fanatismo religioso. 

Não estou justificando o terror, apenas afirmando que não é a religião a mola propulsora do terror.A Europa, assim como os EUA, são caixas de ressonância do mundo, fazendo com que os atos terroristas sejam trazidos para nossa proximidade.Lamentavelmente, a humanidade, apesar do aumento do conhecimento e da tecnologia, continua tão brutal como foi ao longo da história de guerras e conflitos particulares, em que a morte do outro se apresenta como solução.Só neste ano, foram registrados 29 mil assassinatos no Brasil, 155 por dia, 6 por hora. Isso é terror! Índice maior do que o registrado em muitas guerras. Por que não ficamos chocados? Porque a violência ficou banalizada, não é espetáculo midiático.

A Nigéria convive com dois grupos terroristas sanguinários: Boko Haran, que é conhecido, e o Fulâni, praticamente desconhecido, mas considerado o quarto grupo terrorista mais mortal do mundo.Segundo a SBM Intelligence, consultoria que fornece a investidores dados e análises sobre a Nigéria, em 2016, o grupo Fulâni respondeu pelo maior número de mortes no país. Foram 1.425 (média de 30 por ataque), contra 1.240 do Boko Haran (média de 17 por ataque). Mas isso nos passa despercebido.Exércitos regulares, sob comando de mandatários legítimos, despejam toneladas de bombas sobre população inocente e desarmada no Oriente Médio, vitimadas como efeito colateral de uma guerra patrocinada pelas potências mundiais. 

Isso é terrorismo de estado.Países civilizados e ricos se negam a receber as vítimas que fogem dos locais de conflito. Não é difícil concluir que a humanidade tende à violência, que só pode ser mitigada pela educação e inclusão social. Somos insensíveis às agressões àqueles que discordamos. Atos de intolerância, como jogar ovos ou tomates em quem pensa e age diferente, é visto como normal. Mas é violência, que gera violência, numa espiral ascendente. Depois dos ovos e tomates, virão as pedras e, depois das pedras, as bombas. Não basta lembrar e condenar a violência, a barbárie já cometida, sem contextualizá-la e buscar, mesmo com todas as limitações, desarmar os espíritos, começando por si mesmo.O brasileiro não é tão cordial como pensava Sérgio Buarque de Holanda.  

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