Artigo

OPINIÃO: A travessia que precisamos enfrentar 

Antônio Cândido Ribeiro

Não sei se isso acontece com os amigos leitores (imagino que em parte sim), mas a rotina das notícias sobre as múltiplas safadezas nacionais tende, de alguma forma, a nos anestesiar. A banalização dos fatos escabrosos – e das notícias sobre eles – cada vez mais parece reduzir o impacto que os mesmos deveriam produzir em nossas consciências acerca das mazelas políticas, econômicas e sociais que, desde sempre, angustiam quantos têm mínimo compromisso com a ideia de futuro. 

  Leia os últimos artigos  

Há, é inegável, uma espécie de fastio de tanta desventura, de tanto desencanto, de tanto ultraje, de tanto vilipêndio à dignidade que deveria ser assegurada a todos, inclusive, é óbvio e indispensável, aos milhões de irmãos postos à margem dos processos civilizatórios e de implementação da cidadania. Esses mesmos irmãos que, não raras vezes, servem de massa de manobra para demagogos populistas e salvadores da pátria de todos os naipes e calibres. 

Precisamos com urgência nos desatrelar de determinados paradigmas que só fazem com que nos afastemos ainda mais de quaisquer possibilidades de mudança.  

Ou os senhores acham que Lula, com toda a barafunda de sofismas, mentiras e desmentidos em que está enredado e envolvido, pode ser solução mágica para os problemas éticos e sociais do país? Ou que um presidente produto de um descarado golpe parlamentar e sem qualquer apoio popular, envolvido até a raiz dos cabelos em denúncias de corrupção, como o senhor Temer, tem alguma legitimidade para propor, com apoio de um Congresso desmoralizado e em boa parte comprometido com falcatruas e negociatas, mudanças que afetem a vida e o futuro de milhões de cidadãos?

 Ou creem que ultraconservadores retrógrados, como Bolsonaro; que aventureiros “outsiders”, como João Doria ou Luciano Huck; que senadores insossos, como Marina Silva; que neoliberais de carteirinha como os demais representantes do tucanato, à feição de Geraldo Alckmin, ou ainda invenções midiáticas tipo Joaquim Barbosa alterariam alguma coisa? Honestamente, alterariam? Seriam eles capazes e teriam apoio parlamentar e popular para adoção de medidas moralizadoras da vida pública e da política brasileiras, como, por exemplo, acabar com as emendas parlamentares, o mais funesto dos mecanismos de compra e venda de votos da história de nosso país.

E estamos a um ano das eleições. O que assusta pela ausência de alternativa capaz de galvanizar a nacionalidade e conduzir o país a um novo patamar ético e de desenvolvimento que permita crescimento econômico sustentável e duradouro e avanços sociais restauradores do equilíbrio entre os vários brasis, que, hoje, sequer se comunicam, por rigorosa ausência de políticas públicas contempladoras da totalidade dos brasileiros, e que nos mantêm na inglória liderança mundial de concentração de renda e má divisão da riqueza nacional.

Quem sabe Ciro Gomes, se conseguir domesticar seus impulsos e sua instabilidade emocional, quem sabe o pensador Fernando Haddad? Os dois têm o melhor discurso político do Brasil atual. Mas será isso suficiente para que nos conduzam na tormentosa travessia que precisamos cumprir?


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Municípios ainda contabilizam os prejuízos causados pelo temporal

Próximo

Documentário com depoimentos de pessoas de 65 países será exibido sexta

Geral