Artigo

OPINIÃO: A corrupção que corrói o mundo

Eduardo Pazinato

Na última semana, participei da XII Semana Internacional de Direito e Criminalística, promovida pela Faculdade de Direito do Instituto Tecnológico de Antióquia, em Medellín, na Colômbia. Na pauta do encontro, que contou com a participação de acadêmicos, pesquisadores, peritos criminais, juízes e demais profissionais do campo da segurança pública e da justiça criminal de diversas regiões da Colômbia, do México, do Brasil, com a representação da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), do Peru e da Espanha, o flagelo da corrupção.

Leia mais artigos

Entre os pontos de convergência das diversas e qualificadas exposições a constatação de que as práticas de corrupção afetam, em maior ou menor grau, todos os países do mundo. Varia, no entanto, a forma como o Estado, a academia e a sociedade civil processam e encaminham esse tipo de problemática, sobretudo na América Latina, no bojo da consolidação do quarta pilar da justiça de transição, a saber, as reformas institucionais da segurança e da justiça.

Sustentamos, na oportunidade, que o Brasil vive um momento delicado no seu árduo e conflitivo processo de afirmação de um Estado Democrático de Direito substantivo, na medida em que, quiçá, em nenhum outro momento de sua história política, o país esteve de tal modo mergulhado no desafio da transparência, da integridade e do controle público de suas instituições, por um lado, ante os riscos iminentes da criminalização da política, da justiça e da democracia, por outro, com evidente impacto na descrença da população acerca da legitimidade das instituições políticas e jurídicas nacionais.

O Informe 2017 do Latinobarômetro destaca a liderança negativa brasileira entre os 18 países pesquisados na Região. Nesse sentido, apenas 1% dos(as) brasileiros(as) dizem viver numa ‘democracia plena’; somente 3% acreditam que o governo trabalha pelo bem da maioria da população e, finalmente, a maioria atribui nota 4,4 à própria democracia, valor inferior à média regional, que é de 5,5. E o mais grave: menos da metade dos(as) cidadãos(ãs), ou 43%, apoia a democracia, 10 pontos abaixo da média dos demais países latino-americanos (53%).

Ora, a corrupção constitui uma variável diretamente imbricada com esse reduzido percentual de apoio à democracia, sem olvidar os demais aspectos eventualmente incidentes, tais como as questões de ordem social, econômica e política. Inobstante, parece-nos que estamos diante de um aparente paradoxo: o “movimento” cívico pró-democracia, que esteve na base dos reclamos de criminalização dos corruptos e da corrupção no país (e do próprio impedimento, sem base jurídico-constitucional, da Ex-Presidenta Dilma Rousseff), afasta-se da crença na democracia como melhor forma de governo e o crescimento de candidaturas como a de Bolsonaro também vai nessa direção.

Outra pesquisa lançada este ano, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública – FBSP (Índice de Propensão ao Apoio a Posições Autoritárias), demonstrou a emergência de tendências antidemocráticas na sociedade brasileira com a defesa de bandeiras como a autotutela, ou o justiçamento privado, que asseguraria a liberdade de um determinado grupo social matar, ou eliminar outras pessoas, se se julgar ameaçado.

Os custos econômicos da corrupção orbitam na ordem de 2,3% do PIB, conforme projeção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A operação “Lava Jato”, apesar da seletividade sempre presente do sistema penal, já identificou 38 bilhões de reais desviados por práticas de corrupção, o que daria para adquirir 200 mil casas populares, ou 196 mil viaturas policiais, ou ainda, 3,6 bilhões de merendas escolares.  E há ainda os efeitos na manutenção da violência endêmica e da criminalidade violenta, que ceifou, em 2016, mais de 61 mil pessoas, no Brasil, de acordo com o 11º Anuário do FBSP.

A superação, ou, ao menos, a mitigação desse flagelo, passa, não há dúvida, por uma mudança de cultura, que pode ser potencializada pela incorporação de práticas de compliance, integridade e transparência no relacionamento entre os setores públicos e privados, nos marcos de uma ambiência democrática de fato. 


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Em Santa Maria, 26 escolas continuam em greve

Próximo

Cinco são condenados por assassinato de adolescente em Santa Maria 

Geral