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No dia nacional do Braille, profissionais destacam importância do ensino em Santa Maria

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Eduardo Ramos (Diário)

Em 21 de junho de 2010, a lei federal nº 12.266 instituia o dia 8 de abril como o Dia Nacional do Sistema Braille. A data faz referência ao aniversário do professor José Alvares de Azevedo, que, após estudar no Instituto Real dos Jovens Cegos, em Paris, durante a infância, trouxe o sistema idealizado pelo francês Louis Braille para o país. Considerado o Patrono da Educação para Cegos, Azevedo se preocupou em compartilhar a versão com outras pessoas em 1854, no Imperial Instituto para Meninos Cegos, no Rio de Janeiro, permitindo que elas encontrassem, em um processo com quase 200 anos, uma forma de realizar os próprios sonhos. 

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EXPERIÊNCIA

A santa-mariense Marli Schmitt, 71 anos, anda pela sala de casa trazendo livros e CDs para a equipe do Diário. Na mesa, há um reglete e uma punção, instrumentos criados para a reprodução dos símbolos do sistema Braille e que ela usa para escrever contos ou cartas para amigos no Brasil todo. Marli é cega, mas tem acesso à literatura, à música e a outras tantas artes que ama por conta da técnica, que aprendeu aos 11 anos em uma escola de Porto Alegre. 

- Foi através do Braille que eu me alfabetizei. Eu me considero com um bom desempenho em português hoje. Fora que é graças ao Braille que eu posso ler - conta Marli. 

Assim como Azevedo, ela resolveu compartilhar o conhecimento com outras pessoas. Em 1977, Marli formou-se no curso de Pedagogia da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Imaculada Conceição (FIC), um dos primeiros nomes da Universidade Franciscana (UFN). Para passar por um processo, que naturalmente é trabalhoso, ela contou com a ajuda de professores e colegas. 

- Sempre foi difícil, especialmente por falta de material em Braille. Eu sempre tive que contar com ajuda de pessoas que me ditam o conteúdo e eu mesma escrevia. Muitas provas eu fazia e, depois, eu mesma lia as respostas para o professora. Mas eu tinha uma professora que sabia Braille, e muitos conteúdos ela preparou para mim. Algumas leituras consegui na Fundação Dorina Nowill, em São Paulo e em escolas daqui - relembra. 

No ensino do Braille, Marli trabalhou 25 anos com alunos na Escola Antônio Francisco Lisbôa e no Colégio Estadual Coronel Pilar, ambos no Bairro Nossa Senhora das Dores. Atualmente, ela leciona na Associação de Cegos e Deficientes Visuais (ACDV) de Santa Maria. Para ela, são 16 anos de ensino, muitas histórias para contar e uma preocupação constante com a possibilidade da tecnologia substituir esse sistema:

- O Braille é importante. E as pessoas que aprenderam dizem isso. Mas, aquelas que não aprenderam nem conheceram, rejeitam. Acho que elas não sabem o que estão perdendo. É muito gostoso ler em Braille, tocar nos pontos e no celular ou computador, não temos isso. 

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HISTÓRIA

Segundo a educadora especial e especialista em psicopedagogia clinica e institucional Ronise Venturini Medeiros, o sistema Braille é um marco educacional desde a criação, em 1825 e os avanços proporcionados pelo processo são perceptível até hoje:

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- O Louis Braille se inspirou em um código antigo militar e fez uma combinação de seis pontos. Com os seis pontos combinados, é possível escrever 63 símbolos que abrangem alfabeto, números, símbolos matemáticos para a escrita. A criação do sistema é considerado um marco para a educação de pessoas cegas, porque ele possibilita a leitura e a escrita. Antes dele ser criado, era algo impossível, porque os métodos abrangiam apenas a leitura. 

Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Ronise pesquisa sobre educação escolar inclusiva e deficiência visual e comenta que, atualmente, diversas instituições fornecem capacitações sobre Braille para professores. Ela cita a professora Jocefa Lidia da Costa Pereira na UFSM, já teria realizado através de projetos de extensão cursos para Santa Maria e Região e o Instituto Benjamin Constant (IBC), no Rio de Janeiro.

No contexto atual, Ronise comenta que o sistema é mais utilizado por pessoas cegas, uma vez que os indivíduos com baixa visão contam com outros recursos. Ao tratar sobre os benefícios do ensino do Braille, ela ressalta a possibilidade de ler e escrever:

- Quando se fala em crianças cegas, elas podem vivenciar o processo de alfabetização ao mesmo tempo que crianças que veem. No enquanto, as últimas irão se alfabetizar através do visual e auditiva. A criança cega será alfabetizada através do tato e da auditiva. O mais interessante é que é ao mesmo tempo que a criança aprende a escrever, ela aprende a ler. Esse é um dos maiores benefícios do sistema Braille para os alunos.

ENSINO

Atualmente, a Associação de Cegos e Deficientes Visuais de Santa Maria atende 72 pessoas cegas ou com baixa visão, sendo 12 crianças de zero a 12 anos e 60 adultos. A instituição oferta oficinas de informática, artesanato, culinária e atividade física como ginástica e dança, além de exercitar a estimulação visual infantil e prestar apoio pedagógico, atendimento socioassistencial e orientação às famílias.

Nos quase 19 anos de atuação, o trabalho realizado pela ACDV tem contemplado mais de cinco municípios. Entre as principais atividades, está o ensino do Braile. Para a pedagoga e professora da ACDV Clecimara Vianna, que trabalha na instituição desde a fundação, o sistema Braile ainda é a melhor forma de ensino.

- Hoje em dia, com a tecnologia, as pessoas estão querendo quase descartar o Braile, pensando que a tecnologia poderá substituir. Mas as crianças, principalmente, têm construções mentais e da palavra que jamais teriam apenas com a tecnologia. Então, elas precisam disso. O Braile é importante para desenvolver essas questões nas crianças. Para a autonomia e o desenvolvimento deles. 

Para ajudar a ACDV a continuar com o trabalho realizado em Santa Maria e região, você pode doar qualquer valor pela chave pix 06.556.086/0001-10 ou pela campanha no site Sou Parte. Os contribuintes terão a possibilidade de doar de R$ 10 a R$ 60. A Associação de Cegos e Deficientes Visuais está localizada na Rua Manuel Ribas, 1924-A, no Bairro Centro. 

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