Há muito tempo, eu estava em um bar com mais dois amigos quando um deles comentou sobre os seios da mãe do outro (com muito respeito, que fique claro!). De repente, caiu o mundo chovendo e não conseguimos sair do bar – uma glória para qualquer pessoa que só precisa de uma desculpa para continuar a beber umas cervejas com os amigos. Era um sábado, em um bar de esquina e o calor legítimo de janeiro em Santa Maria já nos fazia mais alegres do que o normal. Éramos três. Era muito mais cerveja do que nós três. A conversa, que se misturava com o abafamento do toró de verão, acabou por ganhar ares literários. Em meio a devaneios etílicos, prometi ao meu amigo J., filho da Áurea, que escreveria um conto sobre os seios da sua mãe. Na hora, parecia o início de uma carreira de sucesso. Pronto! Serei escritora de incríveis contos e começo hoje com os seios da Áurea para amamentar minha trajetória meteórica na arte da escrita. Faltava um bom título. Então, pensei que poderia invocar os mestres da literatura e seus títulos criativos. Não consegui escrever. Nem no dia e, tampouco, até hoje.
Essa coluna era para estar pronta sexta-feira passada, e nada me vinha à cabeça para escrever. Deu “branco”. Pensei em escrever sobre os saudosos seios da Áurea, mas nada me foi possível. Lembrei que decidi articular sobre cheiros e como o olfato nos faz construir inúmeras memórias. Decidi deixar para lá. Não havia inspiração para tanto. Saí para caminhar e observar as coisas ao meu redor. Já sei!!! Vou escrever sobre os cocôs nas calçadas de Santa Maria! Claro! Bom, desisti mais uma vez. Afinal de contas, vou reclamar do quê? Se eu pudesse fazer as minhas necessidades em qualquer lugar, também as faria. Até pensei em temas políticos, mas já “despensei” imediatamente. Isso é assunto para especialistas. E a jornada veganos ou vegetarianos x carnívoros? Hum…baita tema! Não adiantou. Nada me vinha à cabeça. Vou inventar uma história bem linda para emocionar a todos! Hahaha! Eu rio de mim mesma com tanta besteira. Besteiras infinitas. Parei para rir um pouco. Fumei um cigarro. Dei mais umas risadas. Fumei outro cigarro e fiquei pensando que o Igor, o ser de luz que precisa da coluna, não recebeu nenhum texto meu para a semana. Não é justo atrapalhar o trabalho dos outros só porque não consigo fazer o meu. Lembrei que muitas coisas não são justas nessa vida. Por exemplo, não é justo a Beyoncé ter aquela bunda, e eu ser um ser desprovido de boas e belas nádegas. Voltou a lembrança dos seios da Áurea. Gosto dos meus. Eu queria era mesmo ter um bundão.
De repente, o cheiro despertador do feijão da vizinha de cima invade as minhas narinas. De-lí-cia! Amo feijão e o cheiro do feijão cozinhando. Ahhhh! Eu iria mesmo escrever sobre cheiro…iria, só iria.
No final das contas, não escrevi sobre nada e, por incrível que pareça, eu nunca conheci a Áurea e nem os seus seios.
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