Mais de 200 pessoas constam como desaparecidas na Região Central

Maurício Barbosa

Mais de 200 pessoas constam como desaparecidas na Região Central
Corpo foi encontrado carbonizado e com as mãos amarradas em Santa Maria no final do mês de janeiro. Foto: Rafael Menezes (Bei)

Após o corpo de um homem que não foi identificado ser encontrado carbonizado às margens da BR-287, em 31 de janeiro, em Santa Maria, a reportagem buscou informações sobre a quantidade de pessoas que constam como desaparecidas na região. No site da Polícia Civil, constavam 115 desaparecidos em Santa Maria e outros 98 em municípios do centro do Estado até 6 de janeiro deste ano totalizando 213 casos de pessoas que saíram de casa e nunca mais retornaram.

Um balanço da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) aponta 25 desaparecidos entre 2022 e 2023 na cidade. Cerca de 90% das pessoas registradas já foram encontradas, mas as ocorrências de localizações não foram feitas pelos familiares, o que torna os dados incompletos no site de desaparecidos da Polícia Civil.

Dos 115 casos registrados em Santa Maria, 67 são homens e 48, mulheres. Entre eles, estão duas crianças, uma de 1 ano e 4 meses e outra de 10 anos. Já dos 12 aos 17 anos, conforme os dados da polícia, há 30 pessoas desaparecidas, e dos 18 aos 59 anos, outras 67. Seis desaparecidos têm mais de 60 anos.

O registro de ocorrência de desaparecimento pode ser feito nas delegacias de qualquer cidade ou pelo site da Polícia Civil. Basta preencher as informações solicitadas. Já o registro da localização precisa ser presencial, por quem fez a ocorrência do desaparecimento ou pela própria pessoa que foi localizada.

Conforme o site de desaparecidos, o primeiro caso em Santa Maria é de um homem, que hoje teria 65 anos, e cujo paradeiro ainda é desconhecido. O registro foi feito em 2012 e até hoje não consta se ele foi localizado. Depois, os registros retornam em 2018, quando familiares de uma jovem de 23 anos procuraram a polícia. O ano com maior número de desaparecidos foi 2022, quando 44 famílias fizeram registro de ocorrências. Em 2023, já são 15 casos registrados.

Os investigadores da Delegacia de Homicídios são quem apuram os casos dos desaparecimentos em Santa Maria. Para a polícia, a maioria dos desaparecidos já foi encontrada. O problema é que o registro da localização não é feito pelas famílias na maioria dos casos. Conforme o delegado Gabriel Zanella, isso dificulta o trabalho da polícia e aumenta as estatísticas.

– Isso é um problema que aumente muito a estatística, então é importante que, depois de realizada a localização dessa pessoa, os familiares e amigos próximos compareçam em um órgão policial e registrem a ocorrência de localização. Do contrário, no sistema constará sempre como pessoa desaparecida – explica.

O delegado diz que é muito importante fornecer o maior número de informações sobre quem desapareceu.

– A DPHPP tem por atribuição o desaparecimento de pessoas adultas. Fatos que priorizamos é o desaparecimento de idosos com problemas neurológicos, psiquiátricos ou de pessoas adultas com intenção suicida, bem como de mulheres que sofrem violência doméstica por parte dos companheiros. Quem for registrar deve informar o histórico de vida dessa pessoa, ou seja, as roupas que ela usava, se saiu com celular, se levou cartão bancário, se toma medicação e se tem algum problema de saúde física ou mental e o último local que ela foi vista – aconselha o delegado.

REGIÃO

Nas cidades da região, outras 98 pessoas também constam como desaparecidas no site da Polícia Civil. A cidade com maior número é Cruz Alta, com 23 registros até 6 de janeiro, entre elas, duas crianças de 8 e 11 anos. As ocorrências foram feitas entre janeiro de 2019 e fevereiro deste ano. Em São Gabriel, há 19 ocorrências de desaparecimento entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2022. Já Rosário do Sul e Caçapava do Sul têm nove moradores dados como desaparecidos.

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No site da Polícia Civil, constam como desaparecidas 5.125 pessoas em todo o Rio Grande do Sul, conforme levantamento feito em 20 de fevereiro de 2023. Em Porto Alegre, a Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (DPID) é quem faz o trabalho especializado de investigação para a localização dessas pessoas.

Para a delegada Caroline Bamberg, titular da delegacia especializada, a grande maioria das pessoas dadas como desaparecidas já foi encontrada, mas a ocorrência da localização não foi registrada. Conforme a delegada, o site da Polícia Civil é atualizado sempre que se faz um registro de ocorrência.

– O site da Polícia Civil é abastecido automaticamente no momento em que se faz a ocorrência de desaparecimento. Fez a ocorrência em qualquer local do Estado, imediatamente vai para o site. Todos os desaparecidos do Estado vão constar lá – diz.

Nem todas as pessoas que aparecem no site de desaparecidos têm fotos. Caroline explica que é necessário levar uma foto no momento da ocorrência, pois depois não temos como colocar a foto na internet.

Para o nome ser retirado do sistema, é necessário fazer a ocorrência da localização.

– Todos que estão no site, estão desaparecidos efetivamente – diz.

Conforme a delegada, é importante que os familiares que forem procurar a polícia para fazer o registro de uma ocorrência, que levem uma foto atualizada da pessoa na hora da ocorrência e que forneçam o maior número de informações possíveis sobre a pessoa. Se o desaparecido possui cartão de transporte público, número de conta bancária e o que mais possa ajudar nas investigações.

– São três fatos que são importantíssimos para a polícia, primeiro, é que não é preciso esperar 24 horas para fazer o registro de desaparecimento. Isso é um mito que existe e que não é verdadeiro. Quando notar que a pessoa está em local incerto e não sabido, tem que fazer o registro da ocorrência de desaparecimento. Quanto mais rápido for feito o registro, maiores são as chances da polícia localizar esse desaparecido. Outro fato é levar uma fotografia atualizada da pessoa que desapareceu, informar as roupas que ela estava para ajudar na identificar por imagens se possível. Outro fator muito importante é as pessoas façam o registro de localização quando encontrarem quem estavam procurando, porque, senão, a polícia fica trabalhando em um caso e que a pessoa já foi localizada – ressalta a delegada Caroline.

Segundo a polícia, boa parte das pessoas desaparecidas tem ligação com a dependência química. Geralmente são as famílias desses cidadãos que não registram a ocorrência de que a pessoa foi localizada.

– Um dos maiores motivos do desaparecimento, principalmente de pessoas maiores de idade, é a questão da drogadição e do alcoolismo. Isso é uma questão que não é somente de polícia e também de saúde pública. A gente pede que a pessoa faça o registro, mas que se o familiar voltar para casa, encaminhe ele para um serviço de saúde e que faça um serviço de localização – alerta a delegada Caroline.

Já pessoas maiores de idade e capazes costumam sumir depois de sair de casa por conta própria. Por isso, a recomendação é que quem for sair deixe um recado para a família. Praticamente 90% dos desaparecidos retornam para casa ou são de alguma forma localizados pela família.

– A gente não quer saber porque a pessoa sumiu, a gente quer saber se ela está bem e se foi localizada – finaliza a delegada Caroline Bamberg.

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