educação

“Mãe que manda filho estudar antes da prova deveria ser presa”, defende escritor Pierluigi Piazzi

A palestra não é atual, mas caiu na minha timeline este mês e trata de um tema atual: a crise na educação. Por isso, resolvi compartilhar com os leitores do Diário, pois contém dicas muito importantes para pais, alunos e professores. De forma didática e firme, o professor Pierluigi Piazzi critica de forma veemente o sistema educacional brasileiro que, segundo ele, está totalmente errado, já que incentiva os estudantes a estudar apenas para a prova, e não para a vida. Professor de um dos cursinhos mais famosos do Brasil, o Anglo, de São Paulo, e escritor de 15 livros, ele faleceu em 2015, mas suas ideias seguem importantes – apesar de provavelmente serem contestadas por muitos educadores.

– Um cursinho é evidência cabal de que o sistema educacional brasileiro não presta, pois se prestasse, não existiria o cursinho – diz Piazzi.

Na palestra, feita alguns anos antes de Piazzi falecer, ele fez um diagnóstico do resultado atual da educação brasileira. Ele deu aula por mais de 40 anos:

– Na realidade, o que notei nesse tempo todo: uma coisa óbvia que foi documentada em 2003. Foi feito um exame PISA, que é um exame muito parecido com o Enem, que não mede conhecimento, mede competências. Mas se o aluno sabe interpretar texto, se sabe entender um gráfico, se tem raciocínio lógico, raciocínio matemático. Participaram 41 países. Dos 41 países, a melhor colocação do Brasil foi 4º lugar, de trás para frente. A melhor posição foi a anti-antipenúltima. Na maioria, fomos penúltimos, mas em matemática, fomos o último. O Brasil é o pior ou um dos piores sistemas educacionais do mundo.

O professor segue a palestra falando que o problema é geral.

– Lá no cursinho, eu recebo alunos que vêm das melhores escolas de São Paulo. Daí, o cara chega na minha mão. Ele não presta. Por quê? A escola tem maus professores? Não, são ótimos. A escola tem má vontade? Não, ela é excelente. A escola não é profissional? É profissionalíssima. Então, qual é o problema? O modelo está errado. O paradigma educacional brasileiro está completamente equivocado. Foi feito teste de QI na população inglesa, e a média deu 100. Os ingleses são normais. Na população do Japão, o QI médio é 113, muito acima da média. No Brasil, deu 87. Na realidade, a situação está bem catastrófica. Esses são os sintomas. Vamos fazer o diagnóstico agora? Quais são as causas? No Brasil, estabeleceu-se uma cultura distorcida: aluno brasileiro, seja do fundamental, médio, graduação, da pós ou MBA, estuda para prova. Não estuda para aprender. Ele estuda para tirar nota. Esse é o problema. Vão dizer: “Ah, mas espera aí, como um estudante consegue tirar boa nota se ele não aprendeu?”. Claro, se ele aprender, vai tirar uma boa nota. Mas no Brasil, ele consegue tirar uma boa nota sem aprender. Esse é o problema: como alguém consegue tirar uma boa nota sem aprender? E sem colar, porque cola é inadmissível. Se o seu filho estuda numa escola em que pagar o aluno colando, tira a prova e dá zero, a escola não presta. Porque se pegar um aluno colando, tem de expulsar da escola, não dar zero, pois ele quebrou um código de honra. Se você pegar uma criança desse tamanho e deixar colar, quando crescer vira o quê? Ministro! – disse Piazzi.

Outras declarações para refletir sobre educação

“Se pegar um bom aluno da 8ª série e coloca fazer prova da 6ª série, você acha que ele vai se dar bem? Em matemática, vai, pois ela tem uma característica diferente das outras matérias. Mas nas outras, vai ser uma catástrofe. Quando vezes você ouviu um filho perguntar: ‘Pai, quando você estava na escola, vê aprendeu trigonometria? Então, me ajuda aqui, que estou com problema’. O pai diz: ‘Ah, filho, mas faz tanto tempo!’. Se faz tanto tempo, você não aprendeu trigonometria. Você teve aula, teve prova e até tirou nota, mas você não aprendeu, pois aprender não é para o dia seguinte, é aprender para a vida.”

“Primeira tarefa que deixo para os pais: nunca mais deixem seus filhos estudar para a prova. Estou falando sério. E vocês mesmos, nunca mais estudem para a prova. Imponham-se esse limite.”

“Na cabeça de um aluno normal, o que vai para o lixo todas as noites? As aulas. E o que vai para a memória? A piada, as abobrinhas.”

“Professor tem de ser simpático. As disciplinas que o aluno mais aprende são daquelas em que o professor é simpático.”

“Uma mãe um disse disse que foi morar no interior, onde não pegava TV. Ela ficou brava com o marido. Depois, contou: ‘Faz quatro meses que estamos sem TV em casa, o rendimento dos meus alunos na escola aumentou muito. Na hora do jantar, nós voltamos a ser uma família.’ Eu não estou dizendo quebrem a TV, mas reduzam o consumo. É muito mais fácil ligar a TV do que abrir um livro. A falta de leitura transformou toda uma geração em analfabetos funcionais. E só lê muito é quem lê por prazer.”“Eu sei o que é um mundo sem TV e com TV. Ao longo da minha carreira, eu vi o nível dos meus alunos despencar. Hoje, um cara que sai de uma pós-graduação tem um nível inferior a um cara que, há 40 anos, terminava um curso técnico qualquer. Ao contrário, a audiência da TV só cresceu.”

“Brasil tem milhões de alunos, mas pouquíssimos estudantes”

Em sua palestra, o professor Pierluigi Piazzi destaca que é um crime deixar um aluno estudar só na véspera da prova:

– Como alguém que não cola e não aprendeu consegue tirar boa nota? Se marcarem uma prova na quinta-feira, quando ele vai começar a estudar? “Mãe, me acorda meia hora mais cedo?” Vocês entendem o problema? Eu estou incluindo aqui gente desde a 5ª série até a pós-graduação. Porque até a 4ª série, eles são seres humanos. A partir da 5ª série, é que começa o problema. Não é a escola que está errada, não é a família que está errada. Não são os alunos. O problema é que todo mundo está errado, é um problema cultural. Na quinta-série, já ouvi uma mãe falar: “Desliga a TV e vai estudar, você tem prova amanhã”. Essa mulher acha que está ajudando o filho, essa mãe está cometendo um crime hediondo, essa mulher deveria ser presa sem direito a fiança, ela está arruinando a vida do filho. Por que as pessoas estudam o mais em cima da hora possível? Para não dar tempo de esquecer. Tira boa nota? Tira. Mas e depois? – questiona.

Piazzi diz que estudar é uma atividade ativa, e não passiva.

– A educação do Brasil está ruim porque tem milhões de alunos e pouquíssimo estudantes. Brasileiro até sabe assistir aula, mas não sabe estudar, porque não foi ensinado a estudar. Aluno é quem assiste aulas. Estudante é quem estuda. Assistir às aulas é coletivo e passivo, pois tem gente que está ouvindo e de braços cruzados. Está recebendo, mas não está gravando. Estudar é solitário e ativo. Ninguém está estudando se não estiver sozinho. Não existe grupo de estudos. Estudo é uma atividade individual, ninguém pode fazer por você. Ninguém está estudando se não estiver com caneta, papel e se não escrever. Estudar é só e, exclusivamente, escrever. Qualquer outra atividade não é estudar. O ato de gravar (no cérebro) está no escrever, e não no que está escrito. É o ato de escrever. Se você escrever à mão, você acende muito mais regiões do cérebro do que digitando. Se você escrever, vai para o teu HD (do cérebro). Se digitar, vai para o HD do computador. A lição de casa não é um complemento da aula. Aula é um preparo para a lição de casa, que é fundamental. Aula não foi feita para aprender, foi feita para entender. Professor não ensina, professor explica. Uma mãe me perguntou: “E quando minha filha aprende?” Simples, quando bate o sinal da escola e sua filha chega em casa e vira estudante – disse ele.



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