Júri de Leandro Boldrini do Caso Bernardo será retomado nesta; acompanhe

Redação do Diário

Júri de Leandro Boldrini do Caso Bernardo será retomado nesta; acompanhe

Fotos: Márcio Daudt (TJRS)

O segundo dia do júri de Leandro Boldrini, que ocorre na Comarca de Três Passos, se iniciou nesta terça-feira (21) com o depoimento da delegada regional Cristiane de Moura e Silva Braucks.

A policial auxiliou nas investigações do desaparecimento de Bernardo Boldrini, em 4 de abril de 2014 e da morte dele, com a descoberta do seu corpo, dez dias depois, às margens de um rio em Frederico Westphalen.

Leandro chegou a comparecer ao Fórum, mas precisou de atendimento médico e foi dispensado e não acompanhou os depoimentos. Ele responde pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação), ocultação de cadáver e falsidade ideológica. 

Esta é a segunda vez que o pai de Bernardo está sendo julgado. Em março de 2019, ele foi condenado a 33 anos e 8 meses de prisão, juntamente com os outros três acusados. Uma decisão da 1ª Câmara Criminal do TJRS, em dezembro de 2021, anulou o julgamento de Leandro.

O júri é presidido pela titular da 1ª Vara Judicial de Três Passos, juíza Sucilene Engler Audino. O conselho de sentença é formado por seis homens e uma mulher.

Investigações

O depoimento da delegada Cristiane durou mais de 4 horas. Ela contou que a polícia foi na segunda-feira, dia 7 de abril de 2014, pela manhã, na casa de Leandro Boldrini, após ele ter feito o registro do desaparecimento do filho. Os policiais trabalhavam com a possibilidade de o menino ter ido embora espontaneamente, ter sido sequestrado ou morto (homicídio).

– Quando as investigações apontaram para a última opção, informei Leandro, e ele me disse que a vida dele seguiria – afirmou a agente.

O comportamento do réu, a cumplicidade dele com a companheira, Graciele Ugulini, os relatos das testemunhas, o receituário utilizado para compra do sedativo, assinado pelo médico, e um suposto acordo para inocentá-lo foram alguns dos fatores que levaram ao seu indiciamento.

Testemunhas

Os policiais ouviram testemunhas que conheciam a família e diziam que Bernardo e a madrasta não se davam bem, que o menino andava muito sozinho, “implorava por carinho, não tinha roupas adequadas”. Que, em datas especiais, ele costumava passar fora de casa. Inclusive, que no aniversário, afirmou que procuraria uma casa onde tivesse “um bolinho para ele”. As testemunhas também contaram à polícia que, quando o menino estava fora de casa, o orientavam a ligar para o pai, mas muitas vezes não conseguia contato. 

Viagem

No dia em que desapareceu, Bernardo foi com Graciele até Frederico Westphalen para comprar peixes e um aquário para ele, fato que, assim como a atenção especial que o menino recebeu de Leandro e Graciele naquele dia, foi estranhado por testemunhas:

– Quando as pessoas souberam deste fato, estranharam, pois isso não aconteceria normalmente. Inclusive, teriam permitido que ele brincasse com a irmã.

Por causa do passeio, Bernardo Boldrini ligou do telefone do pai para a ex-babá, para informar que iria para a casa dela só no sábado. Graciele informou à polícia que Leandro sabia da ida dos dois à cidade vizinha. No dia seguinte, a mulher foi buscar o menino, conforme combinado, mas o casal informou que ele havia ido para a casa de um amigo da escola.

– Leandro referiu que era normal o Bernardo dormir fora de casa nos finais de semana, por isso não houve esta preocupação de procurá-lo neste dia – afirmou a Delegada.

Cristiane contou que a Polícia Civil focou as investigações em Frederico. Nas imagens das câmeras de um posto de gasolina, Bernardo e Graciele aparecem chegando juntos na caminhonete da madrasta, entraram no automóvel de Edelvânia (um Fiat Siena) e seguiram. Elas retornaram ao local já sem Bernardo.

Fotos: Márcio Daudt (TJRS)

A amiga da madrasta

Depois deste dia, as duas conversaram pelo telefone algumas vezes e chegaram a se encontrar pessoalmente no consultório de Leandro Boldrini. Confrontada pela polícia, Edelvânia ficou nervosa e confessou que a criança estava morta. Graciele dizia à amiga que o enteado era agressivo, impossível de se conviver. 

– Ela precisava dar um fim nele e precisava de um local para enterrar o corpo. Disse que não teria sangue, seria só um ‘piquezinho’ (seria aplicado um medicamento injetável no menino) –  relatou a delegada. Edelvânia contou que as duas compraram soda cáustica para jogar no corpo, uma cavadeira e uma pá para abrir a cova.

A motivação de Edelvânia teria sido financeira, sob promessa de pagamento de um total de R$ 90 mil. Inicialmente, Edelvânia teria recebido inicialmente R$ 6 mil em espécie por Graciele, e foi condenada a 22 anos e 10 meses em março de 2019.

À delegada, Edelvânia disse que Graciele afirmou que Leandro não sabia de nada, “mas que depois iria agradecer”. Nesse momento, ela não mencionou que fez a compra de Midazolam (sedativo) dois dias antes da execução do crime com receituário com carimbo e assinatura do médico.

– Segundo depoimentos de familiares, havia um acordo entre advogados para que elas assumissem a culpa e inocentassem Leandro – relatou Cristiane. A delegada acrescentou ainda que Edelvânia afirmou que ela própria cavou o buraco em que Bernardo foi enterrado, mas depois as investigações apuraram que isso foi feito pelo irmão dela, Evandro Wirganovicz.

No dia 14 de abril de 2014, foi localizado o corpo de Bernardo, dez dias após o seu desaparecimento. Leandro, Graciele e Edelvânia foram presos. O médico questionou se ele estava envolvido e se havia provas contra ele, mas a madrasta isentou a participação do médico no crime. 

– Ele não demonstrou emoção nenhuma no decorrer das investigações. Quando foi preso, queria saber se tínhamos provas contra ele. Ele só esboçou reação quando Graciele confessou o crime – afirma Cristiane.

Defesa

Os advogados de Leandro Boldrini questionaram a delegada sobre os pontos abordados durante as investigações, perguntas que não teriam sido feitas às testemunhas e informações que não teriam sido levantadas e que acabaram por formar as conclusões que levaram ao indiciamento do médico.

A testemunha ressaltou que foram uma série de fatores – dos relatos de que o menino não recebia atenção, carinho e cuidados por parte do pai até a relação de cumplicidade que ele mantinha com a companheira, que chegou a impor que se Bernardo permanecesse na família, ela iria se separar de Leandro.

– Isso nos fez ver que realmente o pai não se importava com o filho. Num segundo momento ficou evidente a cumplicidade entre Leandro e Graciele. Depois, veio o fato dele não demonstrar interesse na busca pelo filho. Quando ele fazia, era sempre provocado por terceiros. E também as escutas telefônicas, onde familiares apontam que houve uma combinação das defesas no sentido de inocentar ele para bancar as defesas das rés. Ficou gritante a questão de que o pai não se importava com o filho.

Perguntada sobre a efetiva participação de Leandro no crime, a delegada concluiu que ele teria sido o mentor intelectual do crime. 

– Juntos, eles definiram como seria a morte de Bernardo. Não havia mais espaço para Bernardo na família. Ela disse: ‘ou eu, ou ele’. Ele e a Graciele arquitetaram isso e ela fez todos os atos de execução – declarou Cristiane, considerando que não há vinculação direta de Leandro com Edelvânia e Evandro.

Assim como no depoimento da Delegada Caroline Machado, prestado na segunda-feira, os advogados confrontaram a Delegada Cristiane sobre os registros telefônicos (desde janeiro de 2014) que indicam que Leandro e Bernardo se falavam. 

– Me embasei na prova testemunhal e em algumas ligações que havia retorno e outras em que não havia – respondeu a testemunha. Contrapuseram também depoimentos que apontaram que Leandro tinha cuidado com o filho e demonstrava afeto.

Pela tarde, o júri retornou com o depoimento da ex-secretária de Leandro Boldrini, Andressa Wagner. Na sequência, Juçara Marques Oliveira Petry, ex-vizinha e amiga de Bernardo, foi ouvida como testemunha.

*Com informações do TJRS

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