Jurados se reúnem e sentença de Leandro Boldrini deve sair em instantes; acompanhe

Marcos Fonseca

Jurados se reúnem e sentença de Leandro Boldrini deve sair em instantes; acompanhe

O julgamento do réu Leandro Boldrini, que começou na última segunda-feira (20), em Três Passos, deve ser concluído nesta quinta-feira (23). O médico é julgado pela segunda vez pelo assassinato do filho Bernardo Boldrini, em 2014, quando o menino tinha 11 anos.

O pai da criança responde pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação), ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Nesta quinta, estava previsto o depoimento de Leandro, mas o réu alegou problemas de saúde e sua participação foi suspensa.

Assim, o júri avançou direto para a etapa final, dos debates orais. Enquanto que o Ministério Público pediu a condenação do réu, com pena máxima, os Advogados de Boldrini defenderam a sua inocência e absolvição.

O julgamento foi interrompido para o almoço e retornou as 15 horas, com a réplica do MP (1 hora) e a tréplica da defesa (também de 1 hora). Neste momento, o Conselho de Sentença se reúne para decidir sobre o caso. Após, a presidente do Tribunal do Júri, a magistrada Sucilene Engler Audino, retornará ao plenário para anunciar o resultado.

O júri é transmitido ao vivo pelo canal do Tribunal de Justiça do Estado no YouTube. Acompanhe aqui o julgamento.

Acusação

O Ministério Público é representado pelos Promotores de Justiça Miguel Germano Podanosche e Lúcia Helena Callegari. Eles acusam o réu dos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, e emprego de veneno e dissimulação), ocultação de cadáver e falsidade ideológica (por ter registrado uma ocorrência policial do desaparecimento do filho mesmo sabendo o que tinha acontecido com ele).

Para a acusação, Leandro não só sabia que Graciele odiava o enteado, e permitia que ela o maltratasse, como arquitetou com ela o plano para matar o filho. O menino seria um “estorvo” para o núcleo familiar formado com a filha do casal. E também queriam evitar que ele herdasse a herança da mãe, Odilaine Uglione (falecida). Bernardo era dopado com medicação de uso controlado, sofria abandono, maus tratos e tortura psicológica.

Também teria sido o médico quem disponibilizou o receituário para compra do medicamento ministrado para sedar o menino no dia do seu assassinato. Para o MP, os relatos das testemunhas, nos últimos dias, deixaram claros estes argumentos. O promotor Miguel Podanosche foi o primeiro a falar, pedindo a condenação com “a pena máxima possível” para Leandro. 

– Há inconsistências comportamentais muito grandes. Ele não só sabia que estava enterrado em uma cova rasa, como também concorreu para que isso acontecesse –  afirmou.

Podanosche citou o áudio de uma interceptação telefônica, mostrado ontem no plenário, datado de 14 de abril de 2014 – data em que foi encontrado o corpo do menino – em que Graciele Ugulini conversa com uma amiga. Na ligação, que tem a participação de Leandro ao fundo, a madrasta diz que, com o aumento das suspeitas sobre ela e com o boato de que seria determinada a sua prisão, o casal já havia contratado um advogado. 

– Leandro estava interessado em conseguir um Habeas Corpus para a companheira, já havia até um Advogado para isso. Os senhores ouviram, que entre sorrisos, Graciele e Leandro não davam a mínima para saber onde Bernardo estava — considerou o promotor.

Lúcia Callegari seguiu, traçando uma linha do tempo, entre os dias 4 de abril de 2014 (uma sexta-feira), quando Bernardo foi medicado com Midazolam pela madrasta e seguiu com ela até Frederico Westphalen, onde foi morto. No domingo, 06 de abril do mesmo ano, Boldrini registrou o desaparecimento na Delegacia. Em 14 de abril, depois que Edelvânia Wirganovicz confessou o crime, o corpo de Bernardo foi encontrado. Neste dia, os três foram presos.

Lúcia argumentou que Boldrini sabia que Graciele maltratava o filho e também que ela saiu da cidade com o menino no dia do seu desaparecimento. 

– Era do conhecimento do Boldrini que Keli (apelido de Graciele) odiava o Bernardo. Ele falou isso (depois que foi preso). Era tão público, que as pessoas que trabalhavam com ele sabiam, que as pessoas da comunidade sabiam – afirmou a Promotora. 

Para o MP, isso está claro também nos vídeos gravados no celular de Leandro, onde o casal e o menino discutem e a criança grita por socorro. E também através de audiência judicial em que é dito que a madrasta tentou matar o menino sufocado enquanto ele dormia, o que a deixou com ainda mais raiva.

O corpo de Bernardo apresentava a presença de Midazolam (sedativo). Dias antes do crime, houve o sumiço de ampolas deste medicamento no hospital onde trabalhava o réu e Graciele. Além disso, Edelvânia comprou a mesma medicação em uma farmácia, na antevéspera do crime, utilizando um receituário com assinatura e carimbo do médico.

O MP também sustentou que houve um acordo entre os advogados dos envolvidos para que Boldrini fosse isentado do fato, a fim de que pudesse custear as defesas de Graciele e Edelvânia.

– Hoje temos que encerrar esse capítulo condenando este psicopata, este crápula, este monstro que não merece as três letras que formam a palavra pai. Ele não sabe o que é isso – finalizou a Promotora de Justiça.

Defesa

Aos jurados, os advogados Rodrigo Grecellé Vares e Ezequiel Vetoretti pediram a absolvição de Leandro Boldrini. Argumentaram que ele não era um bom pai, mas que não tinha conhecimento nem participação no planejamento e execução da morte do filho. Afirmaram que nem a Polícia, que indiciou Boldrini, nem o Ministério Público, que o acusa, apresentaram provas cabais contra ele.

– Leandro não foi um bom pai – afirmou Grecellé. No entanto, pontuou o defensor, a discussão do processo é se o réu Leandro tinha amplo domínio do fato, atuou como mentor e incentivador do crime, da execução direta, arregimentou Edelvânia e Evandro, criou álibis, patrocinou o crime e deu acesso ao medicamento. Citou o depoimento das delegadas Caroline Bamberg Machado e Cristiane Braucks e sustentou que elas não tinham provas de que Leandro participou do crime.

– Ao longo das interceptações, em que Graciele se mostra preocupada, não existe elemento que indique que ele era o mentor. As delegadas disseram que eles eram um casal, que conversavam no ambiente particular. Por que não providenciaram uma escuta na residência do casal? Elas responderam que tentaram, mas que o aparelho não funcionou. Se tivesse funcionado, seguramente, Leandro sequer seria preso ou processado por este fato – afirmou Grecellé.

Ele destacou também as interceptações telefônicas de familiares de Boldrini, apresentadas ontem pela acusação durante o depoimento do primo dele, Andrigo Rebelato. Segundo o Advogado, não há declarações que mencionem a culpa do médico. 

– Ali é prova cabal de que ele não fez isso. Uma relação de casamento é baseada no princípio da confiança. Leandro confiava, não queria acreditar que tamanha barbaridade tivesse acontecido – frisou. Para o advogado, Leandro Boldrini não sabia que Graciele matou o filho, pois confiava nela. 

Já Ezequiel Vetoretti apontou erros nas investigações. Ele destacou o extrato de ligações telefônicas, “uma prova técnica”, que demonstraria que todos os finais de semana daquele ano (2014) Leandro e Bernardo conversavam, o que contraria os argumentos da Polícia de que o pai não ligava para o filho.

– A imagem de Leandro Boldrini foi desfeita em rede nacional. Pela emoção que surgiu a partir deste caso, porque ela (Delegada Caroline) tinha que solucionar o caso e tinha o medo de, de novo, falhar (pouco antes da morte de Bernardo, uma jovem da cidade também foi assassinada e o crime não foi solucionado) – afirmou Vetoretti, ressaltando falhas da Polícia. 

Sobre as acusações de que Leandro demorou para procurar o filho desaparecido, e que inclusive naquele final de semana foi a uma festa com Graciele, o advogado afirmou que o médico havia conversado com pelo menos nove pessoas que diziam ter visto Bernardo na cidade.

– Tinha absoluta convicção de que ele tinha voltado de Frederico. Então, ele pensava, ‘o Bernardo tá aprontando uma’ –considerou Vetoretti.

O defensor citou também a reação de Leandro quando foi preso, que ele teria se indignado e investido contra Graciele, após ela admitir participação no crime. E que o médico chorou e disse que “Bernardo não merecia”. Ressaltou ainda o depoimento de Edelvânia Wirganovicz, que teria ouvido de Graciele que Leandro não sabia dos fatos, mas que “depois ele a agradeceria”.

Outro ponto ressaltado pela defesa foi o resultado inconclusivo da perícia grafotécnica quanto a autenticidade da assinatura de Boldrini. 

– O ponto de parada da assinatura demonstra que ela é de um falsário. Esta é uma prova que demonstra que Leandro não assinou esta receita. Destruíram a imagem dele para resolver o fato. Não há nada nos autos que demonstrem que Leandro mandou matar o filho. – acrescentou.

Finalizando, Vetoretti apresentou o depoimento de um médico, colega de Boldrini, que exaltou a competência e dedicação dele enquanto profissional para salvar vidas. E encerrou sua explanação considerando “absurda” a acusação contra Leandro.

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