Rede estadual

GREVE: ineficaz ou o único instrumento de pressão

Joyce Noronha

Na sexta-feira, em assembleia, os professores da rede estadual decidiram suspender a greve. Nos últimos cinco anos, os professores se mobilizaram pelo menos 13 vezes. Seja em greve geral ou sinetaço, o salário da categoria e as melhorias no ensino sempre pautaram as assembleias. 

Foto: Reprodução / Facebook Cpers Sindicato

Professores estaduais decidem suspender a greve

O professor universitário e cientista político Dejalma Cremonese comenta que os professores foram perdendo o poder e o prestígio de status ao longo dos anos. Isso se deu por conta de mudanças nas condições de trabalho dos educadores.
Cremonese ainda diz que os limites dados aos alunos, bem como a autoridade dos professores em sala de aula também sofreram mudanças.

– Hoje, a rotina de um professor público é desgastante. O preparo das aulas, as atividades em sala, o retrocesso de direitos que permitiam o avanço de carreira mexem com a saúde mental dos profissionais. Se avaliarmos o caso dos professores estaduais, que enfrentam parcelamento de salários, a situação fica ainda pior. A escola é a alma da Educação, e os professores são a alma da escola – opina.

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O cientista político afirma que mexer com o pagamento de um profissional afeta a parte existencial da pessoa. 

– Se o professor já tem dificuldades financeiras e recebe o salário parcelado, o desgaste é muito maior – diz Cremonese.

Conforme o especialista, a greve é um movimento legítimo e ainda é a maneira eficaz de alcançar os propósitos da categoria.

FALTA UNIÃO 

Já o professor universitário e cientista político Guilherme Howes acredita que a maneira que os professores estaduais se organizam faz com que a greve não seja eficiente. Howes atuou como educador estadual e foi associado do Cpers/Sindicato, mas diz que, já na época, percebia falta de união da categoria.

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– Não só no sindicato dos professores, mas nos movimentos sindicais como um todo. Falta adesão, união. E não só dos trabalhadores. Quando uma escola para, os pais e os alunos deveriam entender e apoiar a greve, pois a greve é um movimento de força e, sem a união de todos, ela enfraquece – explica o cientista político.

Outro ponto levantado por Howes é que, com o passar dos anos, os sindicatos se tornaram partidários e, em algumas vezes, posicionaram-se como apoiadores de governos e, em outras, como opositores. O especialista salienta que qualquer sindicato deve ser oposição a qualquer gestão governamental, pois, apenas assim, conseguirá fazer uma luta clara e em benefício da categoria.

Foto: Charles Guerra / New Co

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Para Howes, outro motivo que diminui a força do movimento é a passividade da categoria em relação ao calendário de recuperação de aulas.

– Enquanto os professores aceitarem fazer greves e, um dia depois do encerramento da paralisação, a diretoria do sindicato estiver na Secretaria de Educação debatendo um calendário de recuperação, o governo não vai levar a greve a sério. Ele sabe que, quando a paralisação encerrar, será refeito o esquema das aulas. Não deveria ser assim. Greve é greve! Os pais vão reclamar de seus filhos perderem o ano? Vão! Mas, quem sabe assim, todos comecem a apoiar os professores – comenta o cientista político.

"Sou grevista e sempre serei"

A professora de História Lourdes Helena Alves dos Passos, 54 anos, conta que entrou no Magistério estadual como grevista, pois, quando foi chamada para o quadro de educadores, em 1989, a categoria estava em greve. Ela explica que adere ao movimento porque os pequenos grupos não são valorizados pela sociedade e diz que a Educação está nesse "bolo".

– A greve é legítima e legal. Estamos em um momento terrível. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) foi para a lata de lixo. As pessoas não entendem o movimento e reclamam conosco, mas eu não me importo. Infelizmente, eles foram manipulados, pois o governo está nas mãos de brutos, que criam um cenário de crise, que coloca a culpa sempre em cima dos funcionários públicos – avalia.

Lourdes diz que o parcelamento de salários é um descaso muito grande com a categoria e que em 28 anos de Magistério, nunca enfrentou uma gestão do Executivo tão difícil. Ela ainda destaca que os piores salários do funcionalismo são das profissões mais importantes: Educação, Segurança e Saúde. A professora entende que esses quadros são os mais numerosos em funcionários, mas lamenta a maneira que as gestões tratam estes profissionais.

De acordo com Lourdes, são governos e governos no poder, com muito discurso, muita propaganda e pouca efetividade.

Foto: Charles Guerra / New Co

"Já não acredito mais na mobilização"

Com 34 anos no Magistério estadual, a professora de inglês Zelir Ceribola Crespam, 63 anos, diz que não participa das greves desde 2013, quando estava em Porto Alegre com colegas reivindicando pelo pagamento do Piso Nacional. Ela diz que a manifestação exigia do então governador Tarso Genro algo que ele mesmo tinha criado quando foi ministro da Educação.

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A professora diz que também percebeu que o sindicato passou de político para partidário. Outro ponto que a ajudou a desacreditar no movimento.

– Não quero ofender ninguém, mas desacreditei do movimento. Quando paro para analisar, hoje, vejo que o Magistério é massa de manobra, e percebo que fazer greve não faz mais efeito. É preciso achar outra maneira de lutar, de reivindicar. Os pais não estão do nosso lado e querem que seus filhos tenham aulas. Eu sei que está ruim com os salários parcelados, mas olha a situação do Rio de Janeiro, que os professores nem recebem. Não é que tenha que se contentar, mas é preciso dar valor ao o que nós temos – comenta.

Zelir ainda comenta que apenas sócios do sindicato podem votar nas assembleia, o que ela não considera justo. Pois assim, uma pequena parcela toma as decisões por uma grande maioria. Ela diz que poderia voltar a ser sócia, mas não o faz porque não acredita mais no sindicato.

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