Com edições históricas como a de 2020, que entrou para o Guinness World Records como a maior votação de reality shows no mundo, com mais de 1,5 bilhão de votos na disputa entre Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez, e a de 2021, que revelou o fenômeno Juliette, o programa promete novidades ao mesmo passo que mantém tradições, como as provas de resistência e eliminação. Nesta MIX, você vai conhecer as novidades da edição e saber como as redes sociais deram fôlego para o reality que está a mais tempo em exibição na TV brasileira.
Edições anteriores e novidades
Muitos elementos mudaram desde as primeiras edições, no entanto, o horário de exibição do programa se mantém o mesmo na grade de programação da Globo. De segunda a sábado, o reality ocupa é exibido após a novela das nove e, aos domingos, começa depois do Fantástico. A divisão dos 22 participantes nos grupos Pipoca e Camarote, ou seja, anônimos e famosos, é uma das atualizações de 2020 que fez sucesso e veio para ficar.
No ano anterior, o público e a mídia questionaram o prêmio máximo do reality, que se manteve em R$ 1,5 milhão por mais de 10 anos, um valor que não acompanhou a inflação. Neste ano, o apresentador Tadeu Schmidt já avisou que é impossível quantificar qual será o valor deste ano, visto que a cifra vai mudar durante o jogo. Mas ele já adianta que vai ser o maior prêmio da história do BBB.
A edição deste ano também promete apimentar as intrigas entre os participantes e incentivar o “fogo no parquinho”. Além de manter as dinâmicas do jogo da discórdia e do queridômetro, a casa vai receber pela primeira vez um vídeo com recado do participante eliminado. E como quem sai do BBB sempre tem muito a dizer, a mensagem pode ser desde uma alfinetada até uma informação duvidosa que pode atrapalhar o jogo dos colegas. O vídeo será exibido no telão para que todos os participantes possam ver.
Outros dois trunfos novos desta nova edição são: o poder coringa e a central de controle do líder. O primeiro é uma espécie de cartão que dá vantagem para um jogador em específico e funciona em formato de leilão antes das compras. Já o segundo, permite que o líder tenha uma pitada a mais de mordomia. No quarto, ele vai ter acesso a uma visão privilegiada do jogo.
O Boninho, diretor responsável pelo BBB, realizou um anúncio bombástico no perfil do Instagram. Ele sugeriu que um dos participantes do Big Brother Brasil faça um intercâmbio com o programa Casa de los Famosos, exibido pelo canal Telemundo, na Argentina. A iniciativa não é exatamente uma novidade porque a casa já recebeu outros intercambistas. O mais recente foi Alberto Mezzetti, em 2019, vencedor do reality show Grande Fratello, o Big Brother da Itália.
Uma casa projetada para o caos
Fotos: Globo (Divulgação)
Construída dentro dos Estúdios Globo, na zona oeste do Rio de Janeiro, a casa mais vigiada do Brasil tem as temáticas da decoração remodeladas a cada nova edição. Com cerca de 1.800 metros quadrados, o ambiente é pequeno, apertado demais para duas dezenas de pessoas. A estrutura arquitetônica comporta dois quartos, que não tem camas para todos os 22 participantes, sala de estar, onde o apresentador aparece no telão, cozinha conjugada com sala de jantar, confessionário, dispensa e apenas um banheiro. O local parece ser feito sob medida para ocasionar intrigas. E de fato é.
De acordo com o arquiteto, André Scarpa, em entrevista para a Folha de S. Paulo, tudo é proposital. Não é possível ir de um quarto ao outro sem passar pela sala de estar e pela cozinha, o que já proporciona interações. Além disso, a casa não possui janelas e possui uma luz branca e rígida, ótima para a televisão e péssima para o conforto dos participantes. O excesso de informações e cores dos objetos que compõem a decoração da casa também dificultam o descanso. Para Rhaíssa Porto, arquiteta e urbanista que já acompanha o reality desde 2020, o espaço mais convidativo da casa é a área externa. Ela observa que a forma como os espaços internos são pensados podem, inclusive, afetar a vontade do participante de permanecer ou não em determinado espaço:
– As cores vibrantes, as estampas em paredes e pisos, a presença de pouca iluminação natural em contraponto ao excesso de luz artificial branca prejudicam a legibilidade do espaço e a capacidade de orientação territorial – comenta
Neste ano, os dois quartos foram decorados em temáticas bem opostas: são os chamados Deserto e Fundo do Mar, todos muito coloridos. Outro fato que promete mexer com a cabeça dos brothers e sisters é a temática da decoração do restante da casa, que remete à viagens e reforça a lembrança do confinamento.
A casa também tem área externa com varanda, piscina, academia, deck e grama artificial. É lá que os brothers e sisters vivem os principais momentos de exibicionismo dos corpos – em especial os tanquinhos e curvas. A piscina, a academia e as festas temáticas que o programa proporciona, dão ao espectador uma sensação de voyeurismo e contribui para dar sentido ao nome do programa.
Há 23 edições o olho que tudo vê
O que faz o Big Brother seguir sendo um sucesso de audiência e engajamento mesmo após 22 anos de sua primeira exibição? O que explica que pessoas anônimas e famosas aceitem abandonar suas vidas por três meses para ficarem presas em uma casa sem privacidade, sem contato com o mundo exterior e precisando passar por provas de resistência?
Para tentar explicar um pouco desse fenômeno em volta do BBB, a MIX conversou com o sociólogo e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Francis Almeida. Para ele, muito do sucesso que ultrapassa gerações se deve ao fato do reality show estimular uma das características mais marcantes das pessoas: o prazer de observar a vida alheia.
– Socialmente isso é uma característica bastante comum, tem a curiosidade, há esse prazer em ver a vida alheia. Nesse caso específico, há esse trato de que quem entra não vai ter privacidade – explica.
A nossa atração pelo ver, inclusive, tem relação com termos que vem da psicologia, como o voyeurismo, que resumidamente é ato da observação. Essa espionagem, no caso do BBB, não é ‘vista com maus olhos’, pelo contrário, é incentivada e a principal razão para alguém assistir ao programa. Nós vemos esse estímulo do ver desde a própria marca e dos mascotes do programa, compostos por câmeras e robôs com olhos gigantes. Mas por que seguimos querendo acompanhar um programa com 23 edições?
– Ironicamente a fórmula original do Big Brother tem muito mais sentido hoje em dia do que tinha à época quando foi lançado. É tremendamente interessante para qualquer pessoa que quer capitalizar fama através das redes sociais – diz o professor sobre o potencial de crescimento dos ex-BBBs como influenciadores digitais.
Para ele, os dois principais segredos desse sucesso de mais de 20 anos são as próprias modificações e adaptações na dinâmica do programa, como recentemente a seleção de participantes que já são conhecidos do público, além dos anônimos e as evoluções das redes sociais e capacidade delas serem usadas como uma segunda tela.
É por isso que usamos as nossas redes sociais praticamente ao vivo para comentarmos tudo o que vemos, concordamos e discordamos dentro da casa mais vigiada do Brasil. Os celulares, computadores e tablets são hoje como uma continuação do programa, um universo expandido onde as pessoas torcem e defendem seus mocinhos, além de criticar e culpar os vilões (que muitos amam odiar).
– Então, existe uma escolha deliberada de ter alguma representatividade dentro da casa. Isso é uma fórmula muito conhecida. O telespectador projeta em si aquela pessoa, aquele personagem, a gente se identifica com o herói ou não. Como [o Big Brother]é mais um produto do que algo que é feito voluntariamente pelas pessoas, tem um certo convite da emissora para que você se identifique e comente quem você acha que é melhor pelos critérios e discussões de caráter moral, político, o que quer que seja – completa.
Muito mais do que o prêmio, uma vitrine digital
Que o BBB é fenômeno na TV aberta e fechada já deu para entender, mas é nas redes sociais que ele ganhou um novo fôlego e passou a dominar entre os assuntos mais comentados. O que ocorre é o seguinte: assim que cada episódio começa na TV, quase instantaneamente o termo BBB – e outros relacionados – passam a ser os mais comentados na principal rede social quando o assunto é a medição de tendências. Essa rede é o Twitter, onde as pessoas podem comentar em tempo real, através de frases curtas, sobre o que quiserem.
Na segunda-feira (16), quando estreou, o BBB liderou com 30 termos nos trending topics do Brasil. Foram mais de 750 mil tweets sobre o reality. Na TV aberta a audiência foi de 23 pontos – cada ponto equivale a mais de 200 mil televisores ligados em São Paulo –, inferior aos 27 atingidos pelas últimas duas edições, mas o suficiente para aumentar o Ibope do horário em seis pontos.
Mas voltando ao Twitter, anônimos e celebridades inundaram a rede com posts sobre o programa. Entre os famosos estavam ex-BBBs como Amanda Djehdian, Babu Santana e Jade Picon, das edições de número 15, 20 e 22.
Se nas primeiras edições o prêmio milionário era o suficiente para fazer a alegria dos participantes. Hoje, as redes sociais deram um novo sentido para se querer entrar no programa. É que com Instagram, Facebook e Twitter e Tiktok, os ‘brothers’ encontraram um outro nicho para faturar: o de influenciadores digitais. São diversas marcas que veem nos ex-participantes oportunidades de publicidade para chegarem em novos públicos, principalmente os jovens usuários da internet que a TV aberta e o jornal impresso já não alcançam com tanta eficiência.
Já para os eliminados, essas ‘publis’ podem fazer eles faturarem muito mais do que o prêmio ganho pelo campeão do reality, mesmo tendo sido eliminados muito antes. Alguns exemplos de brothers das últimas edições que deram muito certo como influencers digitais são Juliette (edição 21), Gil do Vigor (21), Manu Gavassi (20), Felipe Prior (20) e Bianca Andrade (20).
As marcas também aproveitam a visibilidade para serem patrocinadoras do programa e surfarem na onda do engajamento. Elas têm com o BBB uma vitrine e meio de alcançar seu público pela televisão, pelo Pay Per View, streaming e redes sociais. O programa virou a ‘galinha dos ovos de ouro’ da televisão brasileira, só com o BBB 23 a Globo deve faturar mais de R$ 1 bilhão.