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Ex-promoter afirma que banda utilizou artefatos pirotécnicos uma semana antes do incêndio

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Foto: TJRS (Divulgação)

O sexto dia de júri do Caso Kiss começou com o depoimento do ex-organizador de festas Stenio Rodrigues Fernandes, 30 anos. Inicialmente, ele foi arrolado como testemunha pelo Ministério Público, porém, quando as partes concordaram em reduzir o número de testemunhas, o MP desistiu de ouvi-lo. A defesa de Elissandro Spohr, no entanto, pediu que o ex-promoter continuasse na lista de depoimentos, abrindo mão de dois depoentes da própria lista.

No depoimento, Stenio diz que viu banda Gurizada Fandangueira utilizar artefatos pirotécnicos em outros shows antes do incêndio, mas não na boate Kiss. O ex-promoter afirmou que, na ocasião, não viu ninguém acendendo o artefato, e que o objeto estaria em cima de uma caixa de som e não na mão de alguém.

- Uma semana antes (do incêndio da Kiss), a gente foi no Centro de Eventos da UFSM, e eu afastei os outros promoters da frente do palco. Era um show com a Gurizada Fandangueira e eles estavam usando os fogos. Afastei o pessoal porque estava chuviscando, não sei se queimou alguém. Não vi ninguém acendendo, só vi aceso. Não prestei atenção se ele estava na mão de alguém, só vi na caixa de som - lembra.

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Stênio disse que não estava na boate na madrugada do incêndio. Ele saiu do local por volta de meia-noite e meia. Durante os 2 anos e meio que atuou na divulgação de festas, observou que havia extintores na Kiss, mas não recorda a quantidade. Para ele, a boate parecia segura:

- Para mim, a Kiss tinha a melhor estrutura da cidade, era a casa mais bonita.

Nos primeiros anos de abertura da Kiss, Stenio afirma que houve festas com mais de 1 mil pessoas. Mas, depois, a boate começou a reduzir a lotação, porque não era rentável.

- No primeiro ano, houve festas que ultrapassavam 800, 900, 1 mil pessoas. Vimos que aquilo não significava arrecadação, porque as pessoas não chegavam na copa. E recebemos muita reclamação. Então, percebemos que estar lotado não era interessante - destaca. 

O TRABALHO

A função de Stenio como promoter era acertar a venda de ingressos para as festas. Ele ficava na boate entre 22h e meia-noite para fazer o acerto dos ingressos vendidos antecipadamente.

- Minha função se resumia a acertos dos ingressos antecipados. O ingresso era R$ 15 e a turma ficava com R$ 5 de cada ingresso. Mas, já aconteceu da turma ficar com 50%. Existia um compromisso meu em passar para a casa a quantidade de ingressos vendidos, porque a casa se organizava para ver quantas pessoas da lista e que chegavam na hora poderiam entrar - explica. 

PRESSÃO NO DEPOIMENTO

Durante fala do Ministério Público, os promotores confrontaram Stenio com o depoimento dado por ele à Polícia Civil, logo após o incêndio, em fevereiro de 2013. O ex-promotor de eventos disse que foi pressionado e induzido pelo escrivão de polícia. Por mais de uma vez, Stenio disse que só assinou e não leu o documento do depoimento após a conclusão da transcrição. Segundo ele, o depoimento aconteceu sem a presença de um advogado.

- Tive bastante pressão. A todo momento, eles falavam para mim, especificamente o escrivão. Fui ter contato com o delegado apenas no final do meu depoimento. Eles falavam: 'fale tudo o que sabe, não entra nessa, esses caras vão apodrecer na cadeia, pula disso, vamos, fala!' Eu estava colaborando. O que acontece: eu não estava na boate durante a noite, mas foi um choque para mim tudo isso, eu perdi amigos, perdi um sócio. Estávamos todos em choque, eu não lembrava de algumas coisas - falou.

Em mais de um momento, Stenio disse que foi pressionado pela Polícia Civil: 

- Eu fui completamente induzido a falar do Mauro, me perguntavam bastante dele. 

A assistência de acusaão indagou se Stenio tomou alguma providência em relação ao tratamento que recebeu da Polícia Civil, citado antes. Ele diz que não. Questionado, novamente, se chegou a levar o caso até a Corregedoria da Polícia Civil, a testemunha reafirmou que não. 

- Eu me recordo só que era o escrivão, que anotava o que eu falar, e no final eu tive a presença do delegado, ele quase não participou - comentou.  

O delegado Sandro Meinerz, um dos responsáveis por comandar o inquérito policial na época, disse que as reclamações de Stenio são infundadas:

- Depoimento é falso, mentiroso. A pessoa deu um depoimento no dia, todos deram. A imprensa acompanhou todo o inquérito, do início ao fim, faziam uma barreira de repórteres na frente da delegacia. Qualquer pessoa que tivesse sido maltratada, não bem atendida, pressionada, sairia da delegacia e iria reclamar disso instantaneamente. Uma pessoa que tinha relação de amizade com os proprietários, trabalhava para eles, tinha uma fonte de renda decorrente da Kiss. Então, obviamente, ela está tentando ajudar seus amigos, infelizmente atuando contra as vítimas, contra os pais das vítimas, fazendo um desserviço para a justiça.

Minutos após terminar o depoimento de Stenio, os delegados Marcelo Arigony e Sandro Meinerz, participaram do programa Sala de Debate, na TV Diário e na CDN e esclareceram alguns pontos levantados pela testemunha em juízo. 

- Essa é uma estratégia corriqueira, de tentar sempre desqualificar o trabalho da polícia, para se convencer os jurados no tribunal. O que a gente está vendo lá, e uma crítica ao trabalho da polícia, vai acontecer em todos os tribunais do júri. Essa velha advocacia de se desqualificar o trabalho dos outros é pobre, de conhecimento, de riqueza, de espírito, de ética. Infelizmente, o bom advogado continua utilizando a mesma estratégia. Ninguém foi coagido a nada, ninguém foi maltratado, isso é estratégia velha. Nunca houve um inquérito tão público quanto o inquérito da boate Kiss. Nós optamos por isso, só mantivemos em sigilo diligências cautelares, e tão logo cumpríamos, revelávamos à imprensa. Tínhamos essa obrigação com a comunidade, que acompanhava - relatou Meinerz.

Para Arigony, o inquérito e os depoimentos foram conduzidos com total transparência: 

- Foi um inquérito público, inclusive acompanhado pela OAB. Os advogados acompanhavam tudo, tínhamos imprensa do mundo na porta da delegacia, se tivesse qualquer espécie de abuso, era só falar e estava pronta a confusão. Se ele levou 8 anos para dizer que foi coagido pela polícia, porque não foi reclamar para a corregedoria? Por que não falou? Poderia ter publicizado naquele momento.

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