cidadania

Ex-morador de rua encabeça projetos sociais para ajudar população

Foto: Charles Guerra (Diário)
Reinaldo Luiz dos Santos foi morador de rua e hoje trabalha para ajudar pessoas que vivem na mesma situação

O porteiro predial Reinaldo Luiz dos Santos, 48 anos, não mede esforços para contribuir para a construção de uma realidade melhor para pessoas em situação de rua. Nas manhãs de sábado, é comum encontrá-lo na Praça Saldanha Marinho, onde concentra forças para articular projetos que ofereçam melhores condições de vida para quem precisa vencer obstáculos como frio, fome e abandono. Empatia é pouco para compreender a motivação de Santos. Afinal, por muitos anos, ele esteve nas mesmas condições.

- De 2002 a 2004, morei no antigo albergue municipal. Em 2003, passei no vestibular para Educação Especial - Deficientes de Audiocomunicação, na Universidade Federal de Santa Maria. No mesmo ano, passei em Arquivologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sem recursos e por não ter onde morar, tranquei os dois cursos - lembra Santos.

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O porteiro veio da Bahia para o Rio Grande do Sul em busca de melhores condições de vida. A contar com Santa Maria, morou em albergues de 17 cidades gaúchas. O vínculo com outras pessoas em vulnerabilidade social levou Santos a participar de projetos sociais em Porto Alegre, entre eles, o Café da Manhã Social e o Fórum Fome Zero. Além disso, ele integra o Conselho Estadual de Segurança Alimentar do Rio Grande do Sul (Consea-RS) e o Comitê Intersetorial Estadual da População de Rua, também na capital do Estado.

- Em Santa Maria, sou voluntário do Café da Manhã Solidário e do Projeto Saúde na Praça para Catadores e Pessoas em Situação de Rua - diz o voluntário.

Foto: Projeto Saúde na Praça para Catadores e Pessoas em Situação de Rua, divulgação
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LIDERANÇA

Psicóloga, Maria Conrado, 38 anos, destaca a liderança de Santos e a capacidade que ele tem de articular ações.

- Ele elabora diversos projetos e é incansável em buscar recursos para executá-los. No Projeto Saúde na Praça, sonhamos com consultórios na rua, para que as pessoas sejam atendidas. O maior sonho de Santos é buscar meios para tirar as pessoas das ruas - explica Maria.

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Há três anos, o servente Valdomiro Cruz da Silva, 45 anos, acompanha o trabalho de Santos. Ele define o porteiro como alguém disposto a lutar por quem não tem ninguém que os defenda. Santos afirma que a convivência com o sociólogo Herbert de Souza, conhecido como Betinho, que conhecera nas imediações do Centro Histórico do Rio de Janeiro, motivou-o a se envolver em ações sociais.

- Betinho falava muito em luta contra a fome e conscientização social. Ele me ensinou que ser voluntário é abraçar as dores do outro e cuidar do desconhecido. As palavras dele causaram uma pequena revolução em mim - conta o voluntário, que tem também na irmã Lourdes Dill um grande exemplo de cidadania.

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Atualmente, Santos estuda jornalismo na UFSM. Para ele, o grande objetivo de entrar na universidade é inserir políticas sociais no meio acadêmico. Ele defende que a elaboração de políticas públicas, junto a ações acadêmicas, colaboram para tirar a invisibilidade de quem já perdeu quase tudo na vida.

- Meu trabalho é gerar ações que reúnam graduandos, pesquisadores e professores com a população de rua. Todos podemos exercer a cidadania com o voluntariado - conclui Santos.

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O projeto Saúde na Praça inclui atendimentos de voluntários de diversas áreas, entre eles, profissionais e estudantes de Psicologia, Serviço Social, terapeutas ocupacionais, dentistas e advogados.

- Também estou no movimento que mobiliza a Comissão de Direitos Humanos. Esse trabalho leva à organização de pessoas em situação de rua para que busquem direitos previstos para eles na constituição brasileira - acrescenta Santos.

LEGADO

Em Porto Alegre, Santos ajudou a viabilizar o Boca de Rua, um jornal realizado por pessoas em situação de rua. Já em Santa Maria, colaborou para a instalação do Restaurante Popular e do Consultório na Rua, no Centro de Saúde Santa Marta. Entre os objetivos do voluntário, está a formação do Comitê Municipal da População de Rua, além de um Centro Especializado para acolhimento (Centro Pop).

Para saber mais a respeito do projeto Saúde na Praça, acesso a página do Projeto Saúde na Praça para Pessoas em Situação de Rua.

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