Em Santa Maria, candidatos à adoção chegam a esperar 5 anos para levar filhos para casa

Dizem que mãe é tudo igual e só muda o endereço. Assim sendo, neste domingo, enquanto muitas mães se alegram em comemorações do seu dia com seus rebentos, outras viverão, na mesma intensidade, a angústia da espera para abraçar um filho tão legítimo quanto os biológicos. São as mães do coração, que, em Santa Maria, chegam a esperar 5 anos na fila para a adoção.  Mas há esperanças de que esse tempo seja menor. É que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou recentemente determinações e recomendações a todos os tribunais brasileiros.

Conforme o juizado da Infância e da Juventude, na cidade, são 130 inscritos no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), enquanto dois - uma criança de 10 anos e uma adolescente de 15, que são irmãos - aguardam por um lar. No Estado, são 695 crianças aptas para adoção e 4.738 pretendentes. Um dos problemas locais, que deixa tão grande o tempo entre um processo de habilitação até a adoção é que há poucas crianças disponíveis com idades de até 3 anos. Essa faixa etária é pedida por 99% dos pretendentes, conforme a vara de Infância e Juventude em Santa Maria.
- Optamos pela idade de até 3 anos devido ao meu trabalho. Não conseguiria cuidar de uma criança em idade escolar. No entanto, nosso perfil é amplo quanto a sexo, etnia, doença tratável e mental. Mesmo assim, estamos há nove meses na lista de espera. É tudo muito triste, pois é sabido que, hoje, existem, no Brasil, milhares de pessoas que estão aptas a adotar, e existem, nos abrigos, outras tantas crianças ávidas por carinho, amor e compreensão. Essa conta não fecha e isso nos frustra muito - diz a dentista Daniela Ramos Sonza, 40 anos.

Segundo dados do Conselho Nacional do Ministério Público, a partir dos 6 anos, a chance de adoção de uma criança cai para menos de 4%. A partir de 9 anos, cai para menos de 1%. A questão da adoção tardia deveria ser um dos assuntos abordados por grupos de apoio e incentivo à adoção, mas atualmente, Santa Maria conta apenas com um projeto de discussão da adoção, na vara de Infância e Juventude.
 
O psicólogo André Assunção, diz que, primeiramente, os adotantes devem ter a consciência sobre a necessidade de acolhimento, uma vez que a necessidade de afeto do ser humano é atemporal.
-  É preciso desmistificar a crença de que crianças maiores são mais difíceis de educar ou mesmo de entrar no ritmo da família, além de trabalhar a autoestima, que é um dos elementos diretamente responsáveis pela qualidade do afeto que será entregue ao outro - relara o especialista em saúde mental.

Atualmente, há mais de 50 crianças acolhidas em lares

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê quatro meses para que essas decisões sejam tomadas. As novas regras do CNJ são para reforçar esse prazo, evitando que as crianças fiquem nos abrigos indefinidamente. As novas determinações também são em função da comemoração do Dia Nacional da Adoção, no próximo dia 25.

Na cidade, o Lar de Miriam e o Aldeia SOS somam 54 acolhidos. No entanto, esse número não representa que todos eles podem ser adotados.
- Boa parte dessas crianças e adolescentes ainda estão sem decisões familiares, ou seja, tentamos primeiramente que eles retornem para seus parentes. Somente depois de todas essas tentativas é que as crianças são colocadas para adoção. Mas com os adolescentes, de 12 anos para cima, não há adotantes interessados - explica Ivanise Jann de Jesus, promotora de Infância e Juventude de Santa Maria.

Uma professora aposentada de 56 anos, que preferiu não ter o seu nome divulgado, levou cerca de dois anos para concluir um processo de adoção na cidade. Depois de tanta espera, foi contemplada com trigêmeos de 10 meses. Hoje, quase 20 anos depois, ela diz que vale a pena esperar, apesar da angústia.
- Sou filha única e sempre tive a vontade de ter uma família grande. Quando descobri que não podia ter filhos, a adoção foi um pensamento natural para mim. Ao mesmo tempo em que temia po"