Do fim ao início

Daniele Bressan

Em meio a tantos nascimentos e “morrimentos” dessas últimas semanas, comecei a observar o quão ínfimos e, ao mesmo tempo, grandiosos somos.

Morreu o “Tremendão”, e o meu amado colega Gabriel Nascimento me diz: “ Que merda! Essa gente toda vai empacotar.” Lamento muito a morte de uma forma geral e não sei lidar muito bem com as perdas. O cachorrinho parceiro mais de uma década do meu namorado precisou ser sacrificado (acho muito pesada essa palavra, mas é o termo). Eu não sei ao certo se é o findar do ano que me faz mais contemplativa sobre os ciclos dos quais participamos, contudo de uma coisa já tenho certeza: tem que acabar para começar.

No romance O tempo e o vento, de Erico Verissimo, Aurora, bisneta de Bibiana, recebe o nome de “Aurora” para celebrar a vitória e uma nova vida. A criança não vingou. Em Morte e vida Severina, João “Genial” Cabral de Melo Neto, apresenta, já no título, a morte antes da vida – representando o sofrimento dos muito severinos que transitam no sertão nordestino. Na célebre obra machadiana, Brás Cubas já está morto na primeira página do romance e, a partir daí, começa a tentar organizar as memórias de uma vida inteira. Sobre isso não há discussão: só saberemos como foi a nossa vida depois que ela acabar. Uma vida inteira tem que terminar para ser inteira. Caso contrário, não o é.

A eternidade, a que muitos se referem, está nesse fluxo de consciência interminável das nossas existências. As lembranças são necessárias, importantes, sofridas e alegres, mas nos fazem menos falíveis e muito mais eternos. Quantos de nós serão esquecidos rapidamente logo após a morte do nosso corpo? Quantos de nós seremos eternizados seja como for? Por que tentamos segurar o tempo como se fosse algo real? Quanta energia gastamos mais preocupados em como será a morte do que em como viver realmente a vida.

Tudo são ciclos. Nem sempre esses ciclos são progressivos, já que, em muitos casos, a morte precisa vir antes da vida. Da mesma forma que, no calendário cristão, a Páscoa vem antes do Natal, é preciso muito sacrifício, muito morrer e ressuscitar, para chegarmos ao nascimento. Nascemos e morremos todos os dias, seja no fator biológico com células falindo e se renovando a toda hora, seja no fator metafísico com as nossas eternidades.

Eu ainda agradeço a eternidade do cara que jamais lerá essa crônica: muito obrigada!

“…Eu agradeço pela atenção que você dispensou

Muito obrigado e aquele abraço porque eu já vou…”

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

No terceiro dia de Copa, tropeço da Argentina rouba a cena Anterior

No terceiro dia de Copa, tropeço da Argentina rouba a cena

Chimarródromo é inaugurado na Praça Campos Salles em Pinhal Grande Próximo

Chimarródromo é inaugurado na Praça Campos Salles em Pinhal Grande

Geral