Delegado que investigou morte de jovem é transferido de cidade

Maurício Barbosa

Delegado que investigou morte de jovem é transferido de cidade
Foto: Maurício Barbosa (Diário)

O delegado José Soares Bastos, que coordenou as investigações sobre o desaparecimento e a morte de Gabriel Marques Cavalheiro, deixou São Gabriel. Ele assumirá a Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) de Carazinho na próxima quarta-feira.

Titular da Delegacia da Polícia (DP) de São Gabriel por sete anos, Bastos diz que a remoção ocorre a seu pedido, por questões familiares. Ele nega relação com um possível desgaste envolvendo a morte do jovem de 18 anos, em agosto, depois de uma abordagem da Brigada Militar. O caso teve repercussão estadual e levou até mesmo o governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) a se pronunciar e garantir a elucidação dos fatos.

– Nós temos a consciência tranquila de que fizemos um trabalho técnico e profissional desde o primeiro momento para elucidar os fatos – assegura Bastos, que enfrentou a pressão da população, que pedia respostas das autoridades para o caso.

O inquérito sobre a morte de Gabriel foi concluído e está a cargo do Ministério Público.

Ainda não há substituto para a DP de São Gabriel. Único delegado do município da Fronteira-Oeste, Bastos falou ao Bei sobre a transferência, o resultado de seu trabalho à frente da Polícia Civil e os novos desafios. Ele ressalta que 100% dos 42 assassinatos cometidos no município durante os sete anos de sua permanência à frente da delegacia local  foram elucidados.

Confira a entrevista abaixo:

Bei – Quanto tempo o senhor ficou em São Gabriel ?

José Soares Bastos – Eu respondi por São Gabriel desde 6 de junho de 2015, então são sete anos e seis meses que fiquei à frente da delegacia de polícia de São Gabriel, bem como da delegacia de Vila Nova do Sul, aqui no âmbito da 9ª região policial.

Bei – Qual o motivo da transferência ?

Bastos – A transferência de São Gabriel eu já vinha cogitando há cerca de um ano. É uma transferência que foi feita a pedido, por conveniência de questões familiares.  

Bei – Com qual sentimento o senhor sai de São Gabriel?

Bastos – Eu tive a felicidade de trabalhar em São Gabriel. É uma delegacia com bastante trabalho, mas com excelentes profissionais que são imbuídos em prestar um serviço para a comunidade. Isso contagia e a gente foi muito bem acolhido pela sociedade. Eu levo muitos amigos de São Gabriel. Saio com a sensação de dever cumprido e que deixamos um legado para a delegacia e para a cidade. É muito gratificante receber, nesse momento de despedida, os cumprimentos de pessoas da comunidade, bem como dos agentes, e ver que  a nossa passagem foi positiva graças às pessoas que trabalham nas entidades de segurança.

Bei – O caso Gabriel teve alguma influência na transferência ou causou alguma mal-estar com a Brigada Militar?

Bastos – Da nossa parte da Polícia Civil não ocorreu nenhum mal-estar. Nós temos a consciência tranquila de que fizemos um trabalho técnico e profissional desde o primeiro momento para elucidar os fatos. Mas é claro que eu não posso responder pelos colegas da polícia militar. Asseguro que, enquanto Polícia Civil, temos uma postura muito clara e entendemos que fomos muitos corretos quanto a essa investigação.

Bei – Quantos homicídios foram registrados nesse período em São Gabriel?

Bastos – Em oito anos, tivemos 42 homicídios consumados. Uma média de 5,25 por ano. 2015 e 2016 tivemos quatro, 2017 seis e 2018 e 2019 sete quando tivemos acerto de contas do tráfico. Nós fizemos várias operações e investigações. Conseguimos responsabilizar os autores que foram presos e a média voltou para quatro homicídios este ano. Isso representa uma média de baixa incidência de homicídios, considerando os índices medidos pela Organização das Nações Unidas, que leva em conta como aceitável uma taxa de 10 homicídios para um grupo de a cada 100 mil habitantes. Como São Gabriel tem na casa de 65 mil habitantes, estamos bem abaixo.

Bei – Quais foram os mais violentos ou mais difíceis de investigar?

Bastos – Tem o caso da morte do policial Bento (Bento Júnior Teixeira Borges), morto no dia 25 de dezembro de 2016. O último júri aconteceu em novembro, com a condenação dos últimos réus. Foi um homicídio brutal. Nós identificamos a participação de 19 pessoas, nove adolescentes e 10 adultos. Também destacamos o homicídio de uma menina de 11 anos, em julho de 2019. Essa menina foi morta por um adolescente. A brutalidade do crime também chama a atenção. Em 20 de dezembro de 2019, tivemos um duplo homicídio no assentamento Madre Terra, onde dois corpos foram encontrados no leito do Rio Santa Maria. Era um casal que morava no assentamento e que havia sido executado por outros assentados. O caso Gabriel também foi muito complexo. Primeiramente, pela dificuldade de localização do corpo. Nós tínhamos uma circunstância de um desaparecido. Foi uma investigação bastante complexa e difícil.

Bei – Qual foi o índice de elucidação desses 42 assassinatos em São Gabriel nesses quase oito?

Bastos – Estão todos elucidados. A gente sai daqui de São Gabriel com 100% de taxa de elucidação de homicídios. É um trabalho que foi feito pela delegacia e, principalmente, pelos agentes que sempre priorizaram a elucidação desse tipo de crime, para dar uma resposta à sociedade.

Bei – Quais as características de Carazinho?

Bastos – Carazinho conta praticamente com o mesmo número de habitantes que São Gabriel, cerca de 65 mil. O diferencial é que em São Gabriel temos apenas uma delegacia, enquanto Carazinho tem quatro. A DPPA que faz o pronto-atendimento, a delegacia de proteção a grupos vulneráveis, temos uma Draco que faz investigações de organizações criminosas e temos uma delegacia distrital. Há um diferencial nesse aspecto por que é uma cidade que já conta com uma estrutura de vários órgãos policiais. Por outro lado, Carazinho é cercada de muitas outras pequenas cidades e está perto de Passo Fundo. Isso traz um maior trânsito de pessoas, além de estarem na rota de passagem para outros Estados, como Santa Catarina e Paraná. É outra realidade e nos traz novos desafios.

Bei – Por quais cidade o senhor já passou?

Bastos – Eu já trabalhei em Santa Rosa na DPPA e no 2º distrito, na delegacia de Santo Cristo, na Defrec de Uruguaiana e depois em São Gabriel.

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